sexta-feira

Isto lembra-me alguém

Ontem, lia eu esta passagem, lembrei-me do Dom Pereira, o espreita.

Heinrich entra em Portugal em 1798
A fortaleza fronteiriça portuguesa de Elvas fica apenas a três léguas espanholas de Badajoz e das portas desta última terra pode ser distintamente vista no cimo da sua colina. Um, pequeno ribeiro, o Caia, que com o tempo seco pode ser atravessado a pé, forma a fronteira que é mais demarcada artificialmente que pela natureza. Deste lado Portugal parece extraordinário. Em vez dos vastos descampados, das aldeias afastadas, encontra-se uma terra povoada por casas isoladas e dispersas, cujo aspecto parece indicar uma cultura e uma civilização superiores. À medida que nos aproximamos de Elvas vemos os primeiros laranjais abertos ao longo do caminho, apesar de em Badajoz se ver já uma grande quantidade destes frutos. O traje, mesmo do português vulgar, é melhor: um gibão castanho-escuro ou preto e um chapéu são mais frequentes do que os casacos e barretes castanhos dos espanhóis. As mulheres são mais amáveis e comunicativas do que as castelhanas e parecidas com as biscainhas, trazem geralmente o cabelo solto, apenas ligeiramente apanhado por uma fita ou por um lenço. A cortesia, a maneira de ser fácil, alegre e amável do povo mais humilde fazem com que de imediato se simpatize mais com a nação portuguesa do que com a espanhola. E esta opinião não se altera enquanto neste país se ficar entre as classes mais baixas, experimentando-se porém uma opinião totalmente oposta assim que se conhecem as classes mais altas.
Em Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha, pág. 79, de Heinrich Friedrich Link, Biblioteca Nacional, Lisboa, 2005
O negrito é meu.

Sem comentários: