Quero debruçar-me melhor sobre o apelo (desafio) do Nuno Guerreiro que o Lutz Brückelmann agora chama à discussão. A minha opinião é a favor, ainda que esteja demasiadamente longe para efectivamente por uma vela em Lisboa. Talvez a ponha por aqui e faça a minha própria reflexão. Conto o episódio aos meus amigos alemães. Eles vão-me ouvir e compreender. Vós ides dizer que os alemães mataram mais, foram piores, mas não foram estas pessoas de hoje e eu sinto que eu própria, como pessoa, tenho a aprender do processo deles de catarse histórica. Penso que é a consciencialização deles que nos falta e comparar brutalidades e crueldades é uma forma mesquinha de não querer analisar o fundo humano do sucedido. Nós somos todos humanos e capazes do melhor e do pior. O que despoleta este pior?
Dos olhos que passei pelos comentários no poste do Lutz e dos postes do Musaranho (cocanha) e do Miguel Silva (Tempo dos Assassinos) queria escrever isto:
Eu sou uma pessoa, dentro do meu circulo de relaçoes, bem informada. As minhas relaçoes metem de tudo um pouco (claro), mas na maioria sao pessoas que num inquérito se esperaria que soubessem os mínimos históricos (é verdade que não ponho a minha mão no fogo por eles). Desta lista: a data de chegada ao Brasil? e o mapa-cor-de-rosa? quando foi? e em que século aconteceu aquela cena da Inês e do D.Pedro? quem foi Egas Moniz e porque motivo se fala na corda ao pescoço? dada pela Zazie, não sei o último (se bem que desconfio: enforcamento de?). No liceu fui a menina que lia os livros de história, português e biologia de uma ponta à outra antes do período lectivo começar (por prazer). Porquê este reportório? Para dizer que eu soube deste episódio no dia 15 de Março de 2006 quando o Nuno Guerreiro postou o primeiro da série de crónicas sobre o morticínio.
Foi esta ignorância que me desnorteou. Quantos estão como eu? É nesta óptica que eu vejo com muito bons olhos esta iniciativa, independentemente das razoes do Nuno Guerreiro. Ainda que ele não se tenha dado ao trabalho de inserir o contexto desse desafio, esse posso ser eu a construir dentro da minha sensibilidade, ainda que ele não nos tenha primeiro escolarizado sobre o fundo sociológico, político, religioso, etc, da época, posso ser eu a pesquisar, mas que eu saiba os factos. O que me deixou com os cabelos em pé foi não saber que aconteceu e se não se sabe o facto não se procura os porquês.
Há outros factos históricos que nos devem envergonhar mais como portugueses? Eu não percebo isto. Vergonha? A história não devia ser para nos envergonhar ou glorificar. Devia ser para nos entendermos melhor como pessoas e nação e procurar não repetir os erros do passado. Conhecer o passado devia ser mais um processo dinâmico (sabermos melhor) do que passivo (sentir). Além disso, saber sobre a matança de 1506 não tira espaço de memória para sabermos sobre os factos do colonialismo, ou outros que se considerem mais fundamentais. O problema é que não sabemos nenhum deles. A culpa também está nos programas escolares de história. Amassaram-me duas vezes com os descobrimentos (a parte boa e glorificante) e o pós-1910 nem cheirá-lo. Colonialismo no séc. XX? 25 de Abril? Os retornados? O PREC? Que merda é essa? Guerra em África? Não me digas?! Eu quase tenho medo de pensar, quantos portugueses de idade inferior aos 35 saberiam da Revolução dos Cravos, se não fosse o feriado no dia 25 de Abril.
Nem que por mais nada, ir a um local e por velas na memória de pessoas que pereceram, pensar na nossa humanidade, nem que só por isto, parece-me que já vale a pena. Eu, já há muito, deixei de ser católica, mas ainda me toca o 1 de Novembro, o juntarmo-nos no cemitério no pensamento dos nossos antepassados e nas suas vidas e na minha vida e no tempo caminhado. Nem que seja só por isto. Porque, e isto dava para outro poste, já não existem dias para nos sentarmos e reflectir em conjunto. Agora os pontos quentes do nosso calendário social anual são o Natal e o dia dos namorados, com uma certa incursão do dia das bruxas... A reflexão fica para o dia de S. Nunca à tarde. Porque não no dia 19 de Abril, numa tarde lisboeta cheia de sol?
P.S.: Eu não vejo esta iniciativa como sendo institucional. Não sei se o Nuno Guerreiro tinha isso em mente, mas eu vejo-o como um movimento de pessoas, algumas, que se juntam para fazer um gesto simbólico de relembrança. Não me tinha dado conta que já era suposto ir também o Carmona, o Sócrates e mais uns tantos políticos a fazer pose para as televisoes, mais o Freitas do Amaral a fazer discursos em nome da nação. Talvez eu não devesse ficar admirada. A necessidade estado-paternalista é daqueles espinhos históricos na alminha portuguesa. Já avisaram o Sócrates que alguém quer queimar velas? Olhem que ele é capaz de também não gostar.
6 comentários:
A «corda no pescoço» terá a ver com o Egaz Moniz (tutor, educador e conselheiro do jovem Afonso Henriques) quando foi ter com o rei Afonso de Castela, pedir perdão pelo seu protegido Afonso Henriques não ter cumprido uma promessa àquele rei e seu primo. Apresentou-se com a sua mulher e os seus filhos, todos com a corda no pescoço, afirmando que tinha dado a palavra de honra em nome do jovem principe e este tinha faltado a ela, pelo que se apresentava para ser devidamente punido. O rei Afonso de castela lá o mandou em paz por ver que era homem honrado.
Há um muito bonito e significativo painel de azulejos na estação de São bento no Porto alusiva a este episódio.
Ver azulejos:
http://www.portugal-ferien.net/Porto_Estacao_de_Sao_Bento_4b.jpg
Obrigado. Já fui ver qual é o azulejo no wikipédia. Já o vi em real, mas nunca tinha identificado o episódio.
Ok, já aprendi algo.
Quando li pensei que o Egas Moniz de que a Zazie falava era o médico que ganhou o nobel (he he he) e a corda era outra coisa nao relacionada. Nao digo a minha suspeita, pois agora é ridícula.
ahahahha também pensei que ia haver confusão com o meio prémio Nobel
":O)))
se estas coisas servirem para se falar de História venham mais velinhas e mártires
eheheheh
mas conta lá a da corda, deixa-te de tretas que fiquei curiosa
":O)))
Zazie,
eu nao me amando assim fácil para a fogueira do ridículo.
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