quinta-feira

Uma História

Pouco depois do início do exílio nos telhados, os Wisps de Ardisht deram-se conta que muito em breve se acabariam os fósforos para acender os seus amados cigarros. Eles mantiveram uma contagem a giz na parede de uma das mais altas chaminés. Quinhentos. No dia seguinte, trezentos. No dia seguinte, cem. Eles racionaram-nos, queimaram-nos até chegar o lume aos dedos, tentando acender pelo menos trinta cigarros com cada. Quando chegaram aos vinte, acender um fósforo tornou-se uma cerimónia. Aos dez, as mulheres choravam. Nove. Oito. O líder do clã deixou cair o sétimo do telhado por acidente, atirando-se de seguida, em vergonha. Seis. Cinco. Era inevitável. O quarto foi apagado pela brisa - um enorme erro do novo líder do clã, que também se atirou para a morte, ainda que o mergulho de nariz não tenha sido escolha própria. Três: morreremos sem eles. Dois: É demasiadamente penoso continuar. Então, no momento de mais profundo desespero, uma grande ideia surgiu, por uma criança, ainda por cima: certifiquem-se que há sempre alguém a fumar. Cada cigarro pode ser aceso com um outro. Sempre que haja um cigarro aceso haverá a promessa de outro. O fim de cinza luzente é a semente de continuidade! Horários foram delineados: o turno da madrugada, o fumar da manhã, o puff do almoço, o serviço da tarde e da tardinha, a passa do crepúsculo, a sentinela solitária da meia-noite. O céu estava sempre aceso com pelo menos um cigarro, a candeia da esperança.

Em Tudo é iluminado (Everything is iluminated) de Jonathan Safran Foer

Tradução minha

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