quinta-feira
Nada para fazer
Estou aqui a secar e lembrei-me de um jogo que fiz ontem na net e que agora nao acho. Aquilo é americano e é um conjunto de fotos que vao aparecendo no ecran. Se a pessoa na foto tem uma arma na mao carrega-se numa tecla, se tiver uma carteira ou um telemóvel ou uma lata, carrega-se noutra tecla. As pessoas ou sao pretas ou sao brancas. Consoante os erros e o tempo que demoramos a carregar as teclas é-se medido o racismo latente. Antes do teste nao me é perguntada a raça (sou branco), pelo que fiquei na dúvida, mas parece que os pretos tem o mesmo racismo que os brancos, concluindo-se assim que o racismo é cultural. Nao interessa a cor da minha pele, eu vou sempre achar que branco é que é. Foi assim que compreendi a premissa. Joguei o jogo e dos resultados que eles mostram (os tempos quando preto-arma-mau, preto-bom, branco-arma-mau, branco-bom) concluí que mato mais depressa um branco que um preto, mas demoro mais tempo a acreditar que um preto possa ter uma carteira ou um telemóvel. Ou seja, nao há conclusoes definitivas da minha boa pessoalidade.
segunda-feira
domingo
Indignação monstruosa
Estava num jantar; ponham juntos um grupo de falantes de línguas românicas e o único momento em que estaremos todos unanimemente interessados na conversa, será quando compararmos as nossas línguas-mães. Agora que já nos conhecemos há mais de quatro anos, somos como gente caquética, repetindo as mesmas histórias, mas estamos felizes. Mas por vezes há histórias novas: uma italiana esteve em Portugal e vinha com as histórias pitorescas da atitude corta-garganta da língua portuguesa. Imaginem que "A Bela e o Monstro" é noutras realidades "A Bela e a Besta". Eu estava incapaz de ver como ser uma besta é melhor que ser um monstro, mas parece que uma besta não perde a possibilidade de ser giro, um príncipe, uma carinha laroca. Eu tenho sobrinhos e cumpri a obrigação familiar de os aturar; nas alturas em que queria descansar e os punha a ver filmes no vídeo, "A Bela e o Monstro" era uma das chupetas visuais. O tipo era um monstro e esta é uma das bases da história: que a princesa amou o eu interior, que era bom, pelo que o tipo não podia ser uma besta! Chamá-lo uma besta para que possa ser bonito, é uma desfiguração da moral da história. Dizer "A Bela e a Besta" é inaceitável.
sábado
Grandes dissenções clássicas
A posição de um grego relativamente ao banho de água quente revelava imenso sobre os seus valores e um dos mais longos debates na história da higiene íntima centra-se nos méritos da água fria versus água quente. O historiador oitocentista Edward Gibbon estava convencido que uma das principais razões para o enfraquecimento e a queda de Roma foi os seus banhos quentes. Os homens vitorianos, influenciados pelos estudos da Grécia clássica, acreditavam que o Império Britânico estava fundado no revigorante banho frio matutino. É um preconceito que ainda vive hoje na expressão alemã Warmduscher para adjetivar um homem falho na sua masculinidade. Platão iria simpatizar com esta expressão, ele que reserva n'As Leis os banhos quentes para os velhos e os doentes. Contudo, apesar de Platão, os gregos jovens e saudáveis habituaram-se aos banhos quentes nas termas, se não mesmo nos ginásios.
"The dirt on clean: an unsanitized history" de Katherine Ashenburg, North Point Press, 2007, pág. 25. Tradução minha.
"The dirt on clean: an unsanitized history" de Katherine Ashenburg, North Point Press, 2007, pág. 25. Tradução minha.
quinta-feira
Campanha agnóstica na Inglaterra
Provavelmente deus não existe. Agora pára de te preocupar e goza a vida.
Reacção:
Perhaps I’m simply not aware of the argumentative power of urban transit, but I find bus ads particularly unlikely to be compelling on matters of such importance. Is it really likely that some nice believer taking a walk, to brunch perhaps, or the park, will see the BHA ads lumbering by, with its grimy city smell and its noisy engine racket, and suddenly think: "Oh dear, oh dear. All that fluffy stuff about heaven is probably nonsense, isn’t it?" Whoosh! The bus roars by and the person’s faith disintegrates in a cloud of engine exhaust.
Talvez eu não esteja bem a ver o poder argumentativo do tráfego urbano, mas eu acho os anúncios, e particularmente aqueles em autocarros, desprovidos de apelo em assuntos de tal importância. Qual é a probabilidade de um simpático crente a descer a rua no seu caminho para o café ou para o jardim, ver o anúncio da Associação Humanista Britânica a passar, envolvido no cheiro sujo da cidade e no barulho do trânsito, e subitamente pensar: "Ai a minha vida! Toda aquela história melada sobre o paraíso é provavelmente um disparate!" Vrummm! O autocarro passa num ronco e a fé da pessoa desintegra-se numa nuvem de fumo de escape.
Ha ha ha ha ha
Os anglo-saxónicos são os mais engraçados a dissentir.
Não me parece que o objetivo do anúncio seja a conversão, mas acho piada imaginar o "Oh dear, Oh dear", estilo Miss Marple.
quarta-feira
Na cadeia
A Helena incluiu-me numa cadeia. Pensei em não reagir, porque 15 é muito trabalho. Eu visito 15 blogues, mas não sei se quero incluir aqueles blogues que realmente gosto, com aqueles que é um pouco como visitar as putas.
Blogues? Seja eu verdadeira, eu já ando há tanto tempo nisto, que metade dos quinze não é os blogues, mas um caso pessoal.
É óbvio para a Helena que a incluo a ela, porque se fossemos vizinhas num prédio, estariamos sempre na conversa nas escadas. E se eu não a encontrasse um dia, estaria a bater-lhe à porta e muito infeliz porque ela tinha ido de férias e não me tinha dito nada. Snif, snif.
A outra amiga é a Sabine. A diferença com a Helena é que usa óculos e só fala de coisas sérias. E eu sou, na maior parte dos dias, muito superficial. Assim, quando me encontro com ela nas escadas, ela está muito preocupada com as condições no Darfur e eu preocupada que começou a chover e tenho de apanhar as cuecas da corda.
Depois há o João, a quem gosto de moer a alma. Ele vive no apartamento abaixo do meu e eu vou atirando coisas pela janela que lhe caem na varanda.
Depois há o José, que se queixa imenso, trata da horta e tem cães e sempre que o vou visitar, ele tem de ir caminhar os cães à rua.
Depois há o Luís, mas ele é demasiado estranho... Ele nem se desculpa com os cães. "Desculpa abrunho, tenho de me passear à rua." Estranho, muito estranho.
Portantos, estes são os que vivem no meu prédio. Depois aquele a quem atiro pedras à janela é o jb, que retornou e que ainda não lhe tinha dito como me apraz encontrá-lo na esplanada, sentar-me na mesa ao teu lado e ficar a deitar o ouvido à tua mesa e educar-me nos gregos e em música clássica e os celtas e como estes se riram com o tamanho do Alexandre, o grande. Que faria eu sem a tua erudição clássica? Antes de te conhecer, eu pensava que grego era um estado de confusão cerebral com o que não entendemos.
Seguidamente, aqueles que vivem nas redondezas e que eu persigo, porque tenho paixões assolapadas por eles. Um é o maradona. Prontos, confessei. Envergonha-me profundamente e eu sei que tenho que ir ao médico. Depois a Palmira e a Câncio. Houve alturas em que duvidei da minha heterossexualidade com estas duas.
Depois, aqueles blogues que visito só pelo conteúdo... Deixa ver, faltam seis...
Hum, hmmmmmmm.....
Há o blogo existo, porque tenho esperanças que algum dia compreenda alguma economia e eu ainda nem sei se o blogue é sobre isso.
Depois há o terceira noite e os livros ardem mal, porque gosto de ouvir falar de livros e isso.
Faltam quatro...
O pente fino pela comédia.
Depois há o Andrew Sullivan, pela comédia e má língua.
O mundo perfeito, porque quero aprender a em dez anos não ser tão amarga.
E o arquiteto de barriga, porque parece um bom blogue.
Blogues? Seja eu verdadeira, eu já ando há tanto tempo nisto, que metade dos quinze não é os blogues, mas um caso pessoal.
É óbvio para a Helena que a incluo a ela, porque se fossemos vizinhas num prédio, estariamos sempre na conversa nas escadas. E se eu não a encontrasse um dia, estaria a bater-lhe à porta e muito infeliz porque ela tinha ido de férias e não me tinha dito nada. Snif, snif.
A outra amiga é a Sabine. A diferença com a Helena é que usa óculos e só fala de coisas sérias. E eu sou, na maior parte dos dias, muito superficial. Assim, quando me encontro com ela nas escadas, ela está muito preocupada com as condições no Darfur e eu preocupada que começou a chover e tenho de apanhar as cuecas da corda.
Depois há o João, a quem gosto de moer a alma. Ele vive no apartamento abaixo do meu e eu vou atirando coisas pela janela que lhe caem na varanda.
Depois há o José, que se queixa imenso, trata da horta e tem cães e sempre que o vou visitar, ele tem de ir caminhar os cães à rua.
Depois há o Luís, mas ele é demasiado estranho... Ele nem se desculpa com os cães. "Desculpa abrunho, tenho de me passear à rua." Estranho, muito estranho.
Portantos, estes são os que vivem no meu prédio. Depois aquele a quem atiro pedras à janela é o jb, que retornou e que ainda não lhe tinha dito como me apraz encontrá-lo na esplanada, sentar-me na mesa ao teu lado e ficar a deitar o ouvido à tua mesa e educar-me nos gregos e em música clássica e os celtas e como estes se riram com o tamanho do Alexandre, o grande. Que faria eu sem a tua erudição clássica? Antes de te conhecer, eu pensava que grego era um estado de confusão cerebral com o que não entendemos.
Seguidamente, aqueles que vivem nas redondezas e que eu persigo, porque tenho paixões assolapadas por eles. Um é o maradona. Prontos, confessei. Envergonha-me profundamente e eu sei que tenho que ir ao médico. Depois a Palmira e a Câncio. Houve alturas em que duvidei da minha heterossexualidade com estas duas.
Depois, aqueles blogues que visito só pelo conteúdo... Deixa ver, faltam seis...
Hum, hmmmmmmm.....
Há o blogo existo, porque tenho esperanças que algum dia compreenda alguma economia e eu ainda nem sei se o blogue é sobre isso.
Depois há o terceira noite e os livros ardem mal, porque gosto de ouvir falar de livros e isso.
Faltam quatro...
O pente fino pela comédia.
Depois há o Andrew Sullivan, pela comédia e má língua.
O mundo perfeito, porque quero aprender a em dez anos não ser tão amarga.
E o arquiteto de barriga, porque parece um bom blogue.
segunda-feira
Jogar o jogo
O jogo da sedução tão parvo. Alguém se lembra do que se falou ou bebeu? Lembram-se os movimentos, como se caminhou, como a mão rodou pelo ar antes de estatelar-se a meio caminho do objectivo, lembram-se os olhares evitados por pouco, os sorrisos e os risos complicados de modular. O jogo da sedução é uma dança que finge ouvir a música.
sábado
Vao-se catar
Há característisticas muito humanas e que nos foram e ainda podem ser muito úteis, que se usadas em demasia podem ser maléficas. Como tudo, o sal, a companhia da mae, os beijos cheios de bactérias. Estou a falar da tendencia que temos para encontrar o modelo de tudo e comparar e viver tudo relativo a esse modelo. Gaja, duas tetas e uma vagina. Vida de gaja, um casamento e putos ranhosos. Gajo, um pénis. Vida de gajo, brincar com o pénis. Isto é um problema, porque nem a gaja, nem o gajo sao só isto. Eu sei que simplifiquei neste poste e sei que ninguém percebeu a profunda profundeza do que quero dizer e no entanto, apesar disso me chatear, chatear-me-ia mais, chatear-me com a vossa educaçao.
quinta-feira
Os homossexuais deviam ganhar o prémio nobel da paz
Lembram-se desta fotografia? Ou da história, daquelas histórias que se pensa só podem ser inventadas por bons comediantes. Mas não, foi verdade, passou-se. Cabeças vindas de três religiões monoteístas juntaram-se todos em Jerusalém em 2005 para se pronunciarem contra a procissão flamejante que os homossexuais planeavam na cidade. Depois levantaram-se, cumprimentaram-se e desapareceram nas suas igrejas, templos, mesquitas e sinagogas para continuarem o discurso da desunião. Mas naquele momento histórico, os homossexuais uniram o que deus nunca uniu.
Continuando, que a minha vida meteu-se de permeio a este poste.
O que aconteceu foi um milagre. Um milagre sao fenómenos raros e incríveis. Era de toda a justiça que os homossexuais fossem honrados com ouro e mirra, que as medalhas olímpicas de ouro todas desde o início dos tempos lhes fossem dadas, mais o Mónaco e Andorra e títulos de sir expeddidos da Inglaterra. Mas quando dao a oportunidade a este pessoal de se pronunciar o que é que eles pedem: queremos casar pelo cívil e queremos criar crianças. O que? Como? Diga lá outra vez. Estao doidos? Uma pessoa começa a pensar que haverá algo mais que nos escapou e começamos a olhar para o namorado e os putos ranhosos na mesa do lado na esplanada com outros olhos. Mas nao. Por mais que se olhe, a ideia de pensar em fazer um contrato duradouro com o namorado começa a tornar o namorado muito pouco atrativo e depois de uma tarde a tentar ter uma conversa com uma amiga enquanto servimos de paraquedas ás suas crias, chega-se a casa derreado e pensa-se: aquele pessoal é doido! Mas no computo final é simplesmente a roda da história no seu movimento lento: pessoal que faz milagres é doido e passa muitos maus bocados ás maos das figuras governantes. Mas já acabamos com a cruz, certo?
Proibido assumir
Eu sou como a Sarah Palin: from a small town with small town values. Nessa aldeia com valores de aldeia existe tolerância por comportamentos, como dizem, fraturantes. Mas há um limite e esse limite é, como dizer, pavonear esses comportamentos. Um padre pode, na maior, ter filhos, mas chama-lhes afilhados, um homem pode bater na mulher, mas tem ser dentro de casa (este é a fratura literal), um homem pode ter uma amante, mas não pode andar com ela à frente da esposa, um homem pode dormir no trabalho, mas não pode ressonar (piadinha), um como dizem, paneleiro pode ser paneleiro, mas não pode apresentar-se paneleiro com outro paneleiro. Dos inúmeros comentários que eu leio e ouço, eu concluí que a mentalidade da aldeia é algo generalizado e de uma forma, que podem considerar perniciosa, é-me divertido ver esses valores com que cresci, serem expressos por pessoas educadas, como a Maria José Nogueira Pinto dizer que a gente já tolera os homossexuais. Sim, claro que sim, há centenas de anos, na lei de que não o assumes. Aí já é intolerável.
quarta-feira
Respeito, tolerância
Numa sociedade multicultural temos que aprender a viver juntos e a definir o que devemos/podemos ou não tolerar. Julgo que este é o maior desafio no nosso futuro, numa Europa que mostra reacções indesejáveis à imigração. Na Áustria, 29% dos votos nas últimas eleições foram em partidos da extrema-direita. Os opiniadores dizem-nos que não tem a ver com as ideias debitadas pelos seus líderes, mas porque os partidos moderados demonstram incapacidade de governar. Uma questão de votar nos que não estão a governar. Mas a Áustria com as leis mais duras na Europa em imigração e asilo e uma amnésia gritante relativamente ao seu passado nazi põe-me a duvidar.
Enquanto na Áustria se foca na expulsão e limitação férrea da imigração, na Alemanha resolveu-se exigir um pouco mais dos imigrados. Ultrapassada a ideia de que os imigrantes que tinham sido convidados a trabalhar vinham mesmo só de visita, resolve-se agora exigir conhecimentos mínimos de alemão a alguns dos novos imigrantes e agora há testes sobre a cultura alemã para obter a cidadania alemã. As vozes discordantes dizem que está-se a exigir a quem vem o que quem está não sabe. Muitos alemães não sabem falar bom alemão, dizem-me colegas alemães, e não sabem as respostas de muitas das perguntas no teste. Eu posso discutir o teor das perguntas. Mas a ideia do teste agrada-me se assinalar aos estudantes da nova cidadania que aqui há uma maneira de ver o mundo que deve ser respeitada por quem vem e se tal não for possível, por favor não venha viver neste país.
Só que isto do respeito é um bicho de mais que uma cabeça e não nos afeta só em termos de imigração. Porque o que enfrentamos é um mundo em que teremos de tolerar o que não respeitamos. E teremos de definir bem o que é extremamente importante que todos respeitemos e o que teremos de tolerar e o que simplesmente é intolerável e impossível de ser respeitado. Quando falamos de novas regras, deveriamos ter isto em mente. Só que isto implica pensar em nós, nas nossas sociedades e definir já, pensar já, o que fica em cada compartimento e entendermo-nos entre nós sobre estes assuntos antes de os querermos ensinar aos imigrantes.
Abordando o casamento de homossexuais, que andou a rodar de novo pelos blogues e que enlameou outra vez o PS, partido que tem feito muito empenho em se borrar, e não digo isto só porque votou contra, mas porque fazem aqueles malabarismos discursantes e impõem regras de voto na assembleia que me chateiam pessoalmente. O meu gosto pessoal é que me fodam pela frente. Numa estratégia de arrastão trouxe-se para a discussão a poligamia. Isto para mim é muito interessante porque permitir casamentos poligamos faz-me repulsões. Imagino que seja este tipo de reacção primária que submerge quem argumenta contra o casamento de homossexuais. Do que tenho lido, as argumentações são reviravoltas mais ou menos inteligentes que usam a estratégia do foder por trás, quando o que realmente interessa é que as pessoas sentem uma repulsão primária pela ideia de que os homossexuais, que fazem coisas que todos nós fazemos, mas entre pessoas que conhecem intimamente o terreno inimigo, possam ser aceites às claras. Porque não andem às voltas do elefante na sala, que o busílis é este: as pessoas sabem que se os homossexuais casarem, eles estão a obter a carta de respeito. A Maria José Nogueira Pinto disse uma vez, a gente já os tolera. Eu pessoalmente tenho outra ideia de tolerância, que não a de não perseguir ativamente as pessoas. A tolerância seria mesmo deixar casar os homossexuais, mesmo que não respeite o fato deles terem mau gosto (esta do mau gosto é do maradona, outubro de 2008), porque o eles casarem não põe em questão nenhum fundamento cívico das nossas sociedades. Dizem-nos que põe em questão o casamento, mas esta asserção só seria aceitável se pusesse na prática em questão o casamento de outros. Isto, depois de muitas linhas lidas, não me foi demonstrado.
Olhando para mim e as minhas capacidades de tolerância e respeito, eu diria que me prepararei para discutir a questão de permitir por lei a poligamia. Ainda que sinta que neste caso não é somente uma questão de tolerar mau gosto. Eu sei que nunca respeitarei a prática da poligamia, mas pode ser que o possa tolerar, se me convencerem que com a poligamia não se fragilizam os direitos humanos na nossa sociedade, algo que cairia no compartimento do intolerável. Eu penso que o caminho seria este, o de hierarquizar o que é intolerável, tolerável, respeitável, compreendê-lo, ensiná-lo e só assim poderemos viver todos juntos e com as melhores oportunidades de sermos todos juntos felizes.
Enquanto na Áustria se foca na expulsão e limitação férrea da imigração, na Alemanha resolveu-se exigir um pouco mais dos imigrados. Ultrapassada a ideia de que os imigrantes que tinham sido convidados a trabalhar vinham mesmo só de visita, resolve-se agora exigir conhecimentos mínimos de alemão a alguns dos novos imigrantes e agora há testes sobre a cultura alemã para obter a cidadania alemã. As vozes discordantes dizem que está-se a exigir a quem vem o que quem está não sabe. Muitos alemães não sabem falar bom alemão, dizem-me colegas alemães, e não sabem as respostas de muitas das perguntas no teste. Eu posso discutir o teor das perguntas. Mas a ideia do teste agrada-me se assinalar aos estudantes da nova cidadania que aqui há uma maneira de ver o mundo que deve ser respeitada por quem vem e se tal não for possível, por favor não venha viver neste país.
Só que isto do respeito é um bicho de mais que uma cabeça e não nos afeta só em termos de imigração. Porque o que enfrentamos é um mundo em que teremos de tolerar o que não respeitamos. E teremos de definir bem o que é extremamente importante que todos respeitemos e o que teremos de tolerar e o que simplesmente é intolerável e impossível de ser respeitado. Quando falamos de novas regras, deveriamos ter isto em mente. Só que isto implica pensar em nós, nas nossas sociedades e definir já, pensar já, o que fica em cada compartimento e entendermo-nos entre nós sobre estes assuntos antes de os querermos ensinar aos imigrantes.
Abordando o casamento de homossexuais, que andou a rodar de novo pelos blogues e que enlameou outra vez o PS, partido que tem feito muito empenho em se borrar, e não digo isto só porque votou contra, mas porque fazem aqueles malabarismos discursantes e impõem regras de voto na assembleia que me chateiam pessoalmente. O meu gosto pessoal é que me fodam pela frente. Numa estratégia de arrastão trouxe-se para a discussão a poligamia. Isto para mim é muito interessante porque permitir casamentos poligamos faz-me repulsões. Imagino que seja este tipo de reacção primária que submerge quem argumenta contra o casamento de homossexuais. Do que tenho lido, as argumentações são reviravoltas mais ou menos inteligentes que usam a estratégia do foder por trás, quando o que realmente interessa é que as pessoas sentem uma repulsão primária pela ideia de que os homossexuais, que fazem coisas que todos nós fazemos, mas entre pessoas que conhecem intimamente o terreno inimigo, possam ser aceites às claras. Porque não andem às voltas do elefante na sala, que o busílis é este: as pessoas sabem que se os homossexuais casarem, eles estão a obter a carta de respeito. A Maria José Nogueira Pinto disse uma vez, a gente já os tolera. Eu pessoalmente tenho outra ideia de tolerância, que não a de não perseguir ativamente as pessoas. A tolerância seria mesmo deixar casar os homossexuais, mesmo que não respeite o fato deles terem mau gosto (esta do mau gosto é do maradona, outubro de 2008), porque o eles casarem não põe em questão nenhum fundamento cívico das nossas sociedades. Dizem-nos que põe em questão o casamento, mas esta asserção só seria aceitável se pusesse na prática em questão o casamento de outros. Isto, depois de muitas linhas lidas, não me foi demonstrado.
Olhando para mim e as minhas capacidades de tolerância e respeito, eu diria que me prepararei para discutir a questão de permitir por lei a poligamia. Ainda que sinta que neste caso não é somente uma questão de tolerar mau gosto. Eu sei que nunca respeitarei a prática da poligamia, mas pode ser que o possa tolerar, se me convencerem que com a poligamia não se fragilizam os direitos humanos na nossa sociedade, algo que cairia no compartimento do intolerável. Eu penso que o caminho seria este, o de hierarquizar o que é intolerável, tolerável, respeitável, compreendê-lo, ensiná-lo e só assim poderemos viver todos juntos e com as melhores oportunidades de sermos todos juntos felizes.
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domingo
Fausto na Ar´bia
Tive pena do McCain neste vídeo. Não sei se ele sentiu, mas eu senti que ele sentiu o peso de Fausto. McCain quer ser presidente dos EUA e sabe que esta seria a sua última oportunidade. Baseado na sua experiência passada resolveu vender a alma à máquina republicana que vende votos a pessoas que não quereriamos nem a viver na aldeia mais próxima, quanto mais como vizinhos. Agora, talvez tenha sentido peso na consciência, mas é tarde demais.
Noutro apontamento, há racismos que andam escondidos e neste momento da história espera-se isso e o grande espanto é quando alguém é racista às claras. Mas eu não estava habituada a pessoas serem racistas às claras e ninguém dar conta. O Obama é apelidado de árabe e o McCain faz a antítese com ser-se uma pessoa decente! E é o mesmo noutros programas que vi hoje que roçaram isto, em que ninguém, ninguém, repito, ninguém exprimiu o, para mim, óbvio. Imagino que isto do preconceito vai por partes. Ou vai e volta, consoante as guerras.
sábado
O segredo da felicidade
Enquanto estive na Inglaterra fui lendo um livro do Bill Bryson sobre a Inglaterra. A maior parte do livro era seca, porque era sobre terriolas onde nunca fui e as piadas do Bill Bryson já não conseguem substituir o interesse. Acontece-me muito, encontrar um autor de cujo estilo gosto, ler meia dúzia de livros e a partir daí ver-me a não conseguir mais ler esse mesmo autor. Ficam como períodos, o período Isabel Allende, o período Paulo Coelho, o período Saramago, o período Camilo Castelo Branco e está oficial que o período Bill Bryson já era.
O que me interessava, como pedacinhos de chocolate numa bolacha, era quando ele escrevia sobre o temperamento dos ingleses. Ele falava da forma espartana com que eles olham para a vida, pontuada de prazeres, que sendo pequenos são vividos como grandes nesse fundo de miniminalismo. Bill Bryson fazia a antítese com a forma de ver americana (ele é americano) onde a abundância e o hedonismo são tidos como adquiridos. Bill Bryson que vive já há um bom tempo na Inglaterra dizia que desde que começou a olhar para a vida como os ingleses, tornou-se mais feliz. Lembra-me agora a lição do porquê das drogas duras serem perigosas, não só em termos de saúde, mas porque destroem no nosso cérebro a capacidade de sentir os pequenos prazeres, ao massacrar os recetores com quantidades enormes dos químicos que os espoletam.
Eu diria que a moral deste poste é que o segredo da felicidade está na temperança e nela preservar a capacidade de sentir os pequenos prazeres.
O que me interessava, como pedacinhos de chocolate numa bolacha, era quando ele escrevia sobre o temperamento dos ingleses. Ele falava da forma espartana com que eles olham para a vida, pontuada de prazeres, que sendo pequenos são vividos como grandes nesse fundo de miniminalismo. Bill Bryson fazia a antítese com a forma de ver americana (ele é americano) onde a abundância e o hedonismo são tidos como adquiridos. Bill Bryson que vive já há um bom tempo na Inglaterra dizia que desde que começou a olhar para a vida como os ingleses, tornou-se mais feliz. Lembra-me agora a lição do porquê das drogas duras serem perigosas, não só em termos de saúde, mas porque destroem no nosso cérebro a capacidade de sentir os pequenos prazeres, ao massacrar os recetores com quantidades enormes dos químicos que os espoletam.
Eu diria que a moral deste poste é que o segredo da felicidade está na temperança e nela preservar a capacidade de sentir os pequenos prazeres.
sexta-feira
De molho
No meu caso é só mesmo vírus. O ser pobre tem a vantagem de olhar para esta crise nos bancos como de longe. Eu sempre achei a economia e a finança incompreensíveis e agora só me parece que eu não era a única ignorante. Eu sempre me apoiei no meu único saber nesta matéria: gastas só o que tens. Sinto-me muito sábia com esta crise.
quarta-feira
A ressacar
Estou ressacada de viagem. Sempre que faço uma viagem de avião há uma sessão no tribunal da minha consciência onde sou obrigada a provar a necessidade absoluta de ter imposto ao meu corpo as horríveis posições, as horas de espera, a sensação de vaquice que me submete no aeroporto onde cordas limitam os movimentos da manada, que é tocada, prescrutada, conduzida a manjedouras duty free, vai pastando nas alcatifas esperando o momento de ser conduzida ao pequeno espaço onde felizmente sou suficientemente pequena para caber, onde a maior felicidade que poderia haver era trazerem-nos comida em caixinhas e em talheres pequeninos e em copinhos, pelo que podemos fazer de conta que tornamos a ter cinco anos e estamos a brincar ao chá das cinco com o puto do vizinho, mesmo antes de irmos atirar lama a uma casa a fazer de conta que somos construtores civis. Mas agora nem esse pequeno momento temos. Agora é só o desconforto e se formos na Ryanair podemos ter o surpreendente desprazer de ao tentarmos dormitar um pouco, sermos acordados com publicidade em duas línguas. Li num jornal que antigamente viajar era uma excitaçao. Acho que me lembro vagamente, por entre as dores de costas.
sexta-feira
Vou à aventura
Vou pra um país onde bichos selvagens nos esperam em cantos inesperados e onde se morre da comida. Posso não voltar. Gostei muito de estar convosco. Inté.
quarta-feira
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