terça-feira

Babel


Babel, o filme, é como entrar numa loja de bric-brac: muita coisa, muita pantomineirice, muita parra... mas lá pelo meio há descobertas, por entre movimentos pode ser que se aviste algo que valha mesmo a pena. E sim, há coisas no filme que valem a pena, nem que seja a sensaçao com que se fica quando se sai da loja, de uma procura que deu gosto, ainda que o dono da loja tenha andado atrás de nós a manipular-nos claramente. Estas coisas prefiro-as subtis.

O filme nao é exactamente descomunicaçoes linguísticas. É nao existir comunicaçao. Mesmo quando se fala a mesma língua. Cada partícula aninha-se em si mesmo e nao fala e nao ouve. Os turistas americanos olham pelas janelas do autocarro um mundo estranho. O casal discute e anseia. Os marroquinos seguem com os olhos e os pés os estranhos americanos. Os americanos temem os mexicanos e estes os americanos. A rapariga japonesa vive isolada na sua língua. O pai nao fala com o filhos. O polícia e o condutor provocam-se. O filme nao é Babel, nao é a cidade das muitas linguas num sítio. O filme sao tres histórias e cada um fala para dentro. Na Babel a compreensao nao vem pela boca.

No fundo, no fundo, Babel que dá a ideia de um vasto cenário, é um filme limitado a um universo muito mais pequeno: ao de cada indivíduo, 'a sua noite e 'as luzes que a iluminam. E isso, para cada um de nós, nao é 'a distancia de continentes. E' na distancia de um abraço, de um beijo, de maos a tocar-se, de lágrimas vertidas sobre quem se quer mais que 'a vida.

P.S.: vi a apresentaçao do filme de que falas. Pareceu engraçado. Ficamos a saber a razao do bigode do Hitler. O uso do humor nao é em princípio contrário a tema algum. Bem pelo contrário. É nos assuntos mais difíceis que o humor pode abrir portas de discurso que nao se consegue de outra forma. Contudo, ainda nao vi o filme e nao sei ainda o seu valor. Hitler nao deve ser tema tabu, muito menos na Alemanha. Eu penso que os alemaes precisam destes filmes e nao se ponham com teorias de que estao a tentar limpar a imagem do facínora. Vejam isto como catarse e tentem fazer o mesmo relativamente aos vossos fantasmas.

3 comentários:

João Melo Alvim disse...

Dava jeito dava. Podia ser que assim não se fizesse um arraial à volta da história do maior português de sempre e dos receios de ser Salazar a ganhar a eleição.

Fico à espera de mais ecos.

abrunho disse...

Olha que isso da caverna foi o Saramago que escreveu...

abrunho disse...

Olhóóóó Ecoooooooo!

Bem Jotazinho, o filme está nas salas de cinema e as críticas sao más. Eu nao ando com grande vontade de filmes, pelo que ao ir quero ter a certeza de pelo menos ****.

Encontrei isto em ingles: http://www.signandsight.com/features/1131.html