Segundo entendi, a pergunta que o sr. Marcelo proporia seria "Concorda com a despenalizaçao da mulher grávida quando aborta?" Sem limites temporais. Eu votaria nao. Nao penalizar a morte de um ser sensível? Nao penalizar aos 6, 7, 8 meses? Nao penalizar a morte de um ser que já tem consciencia, que reaje a sons, que sente as vibraçoes do liquído amniótico, que ouve e se relaciona com a voz da mae, que fica triste se ela está triste, que fica feliz se ela está feliz? Nao, assim nao.
Nao sei se ainda nao entenderam, mas até 'as 20 semanas o feto nao tem consciencia, nao sente dor, nao tem qualquer percepçao do mundo que o rodeia, do que é ou deixa de ser. Assim, para mim a liberalizaçao do aborto até 'as 10 semanas nao vai contra o princípio fundamental, para mim, de protecçao de seres sensíveis. Um feto de 10 semanas é vida, mas somente vida. Nao há sentir, quanto mais pessoa. Merece respeito por ser parte humana e por isso é importantíssima a educaçao para a responsabilizaçao na sexualidade. Como parte humana nao deve ser banalizado. Mas esta é uma questao moral individual, que a sociedade, todos nós actuamos ao nível educativo. Sejamos racionais e vejamos o que está em jogo. As vidas sentientes que realmente estao em jogo. Nunca percamos de vista os valores fundamentais de protecçao de quem nao deve nunca sofrer por moralismos, por hipocrisias, marcelices e suas relativas indisposiçoes cerebrais.
Verifico agora que a actual pergunta que vai a referendo é perfeita para mim. Protege o que deve ser protegido. Despenaliza quando ainda nao há pessoa, permitindo a escolha da mulher em condiçoes seguras. É isto que quero. De resto, quando há uma pessoa deve haver penalizaçao. Nao entendo os do "Nao", acho-os incoerentes, incompreensíveis, agora com o Sr. Marcelo, passei a achá-los imorais.
P.S.: e como mulher continuo impressionada com a forma como as minhas capacidades intelectuais, morais e de livre-arbítrio sao vistas pelos homens portugueses. Faz-me lembrar o que se le de tempos passados: a mulher infantil, incapaz, a mulher anjo e demónio, a mulher temível, mas que necessita também de protecçao. Em que tempo medieval viveis? Que mulheres é que conheceis? Nao entendo.
9 comentários:
Eu entendo a posição do Prof. Marcelo de outra maneira. Se a pergunta do referendo fosse: “Concorda com a despenalização do aborto?” não haveria liberalização independentemente de ser o Sim ou o Não a vencer, a lei actual mantinha-se. Se, com essa pergunta o Sim ganhasse, no caso de um médico, num hospital ou numa clínica, aceitar fazer um aborto a uma mulher que o desejasse, não haveria penalização para nenhum deles.
Mas, e depois? Haveria um novo referendo para a liberalização?
Nao. Ele diz claramente no vídeo que fala da despenalizaçao da mulher grávida. O que, para além do meu ponto, ficaria o ponto que a Fernanda Cancio e a Joana Amaral Dias salientaram: o problema do aborto clandestino manter-se-ia, logo a impossibilidade destas mulheres terem o dito aconselhamento, apoio e informaçao e claro, um aborto seguro.
O que fiquei a matutar é que ele diz despenalizar e pára nas 18 semanas. Seria que ele teria esse limite na ideia? Se sim, o meu poste estaria ultrapassado. Contudo, nada se resolveria. Uma soluçao que nao resolve o problema do aborto clandestino nao é soluçao.
Ui, nao digas liberalizaçao! Psshhh... As mulheres sabes lá! Umas malucas! Abortam por uma depressao momentanea, um estado de alma inconstante, um incómodo, uma mudança de residencia (isto deve ser porque a barriga estorva com os caixotes). Eu já nao tenho paciencia para tanta estupidez!
O Marcelo está a assumir uma posição, no mínimo, infeliz, mas acho que se tem deturpado o que ele disse... O problema dele é o "abortar porque sim". Parece-me que o que ele defende é que deveria haver na proposta de lei - e na pergunta a referendar - uma explicitação de um qualquer acompanhamento prévio à mulher que põe a hipótese de abortar. Um aconselhamento médico, um esclarecimento das alternativas,... Havendo isso, aí sim, ele até é mais liberal do que as 10 semanas.
Pessoalmente, concordo com a existência desse acompanhamento, mas não me parece que venha a propósito do actual referendo. Acho que isso são medidas a implementar (ou não) posteriormente. Discordo, portanto, da posição do Marcelo, não por ser incoerente, mas por ser inoportuna: ele vota NÃO agora porque não está garantido aquilo que ainda se vai - espero! - discutir depois.
O que eu sei é que se para o Marcelo é essencial controlar as razoes que uma mulher tem para abortar antes das 10 semanas, para mim é essencial saber a sua liberalidade. A importancia do que ele exige para responder Sim, é a mesma importancia que eu exigiria para responder Nao. Porque ele tem que nos dizer como exactamente seria o Assim Sim.
No blogue do Nao confirmaram-me que a despenalizacao que eles estao a pedir é para toda a gravidez. Isto é imoral e faz-me duvidar que a luta deles seja pelo feto, a luta desta gente, com o Marcelo ‘a cabeca, é contra a mulher.
Acho que estás a radicalizar um bocado... Ou estás mesmo convencida que a "luta" do Marcelo, ou de quem quer que seja pelo NÃO, é «contra a mulher»?!
Eu percebo que há argumentos que nos revoltam, mas dizer que a luta do NÃO - ou de parte dele - é «contra a mulher» é um bocado não querer perceber o outro lado da barricada.
Quanto ao grau de liberalidade do Marcelo... ele NÃO TEM que nos dizer como exactamente seria o Assim Sim!!! Ficava-lhe bem - logo a ele que tudo sabe e tudo fala sobre tudo - mas NÃO TEM. Até porque para concordares com o NÃO dele, não tens de concordar com o seu SIM. E ainda menos deve ser por não concordar com o seu SIM que vamos discordar do seu NÃO.
Ui... ficou confuso... O que eu estou a dizer é não interessa agora discutir qual seria o SIM do Marcelo, muito menos quando o seu NÃO por si só já não tem a nossa empatia...
Eu falo especificamente dos que pedem a despenalizaçao total do aborto. Isto nao é pelo feto. E se nao é pelo feto, entao o que é que fica? A mulher.
Explica-me como é que pessoas que consideram a vida do feto sagrada podem colocar isto sobre a mesa?
E eu é que sou radical? Talvez o que eu nao sou é hipócrita. Nao quero moralizar usando o direito penal, mas quero proteger o que é realmente importante: a vida da mulher e a vida do feto quando este é sentiente.
O que me parece que está em causa na cabeça dessas pessoas é o porquê das 10 semanas, o porquê desse limite específico - isto numa postura de admitir que até seria razoável despenalizar o aborto... A aceitar a despenalização ela deveria existir sempre: o que têm as 10 semanas de especial que as 11 não tenham?! Isto é o que eu acho que é a "luta" desse NÃO, não porque concordem, de facto, com a ausência de limites, mas sim numa tentativa de apontar incongruências ao outro lado. Uma espécie do que faz o SIM quando questiona o NÃO sobre as excepções já previstas, nomeadamente, por violação: se o feto é sagrado e se não há perigo de vida para a mulher, então nunca deveria ser permitido o aborto...
Em resumo, são posições absurdas, pelo absurdo do que questionam, não pelo absurdo do que defendem. Pois não me parece que defendam isso de facto...
A aceitar a despenalização ela deveria existir sempre
Mas é isto mesmo que nao é aceitável. E se nao é aceitável para mim, como é que pode ser aceitável para alguém que considera desde a concepçao que aquele pequeno ser tem de ser protegido pelo Estado, a nao ser em definidas excepçoes, que estao na actual lei?
Eu, ao aceitar as 10 semanas estou a fazer um compromisso completamente aceitável, face aos meus valores, já que é um limite abaixo do meu critério ético.
Eles ao falarem da despenalizaçao total estao a ir completamente contra os valores que eles nos atiram como fundamentais. Isto mostra que aqueles valores nao sao assim tao fundamentais.
É portanto uma estratégia para descreditar o SIM? Mas isto nao é absurdo, é idiota. É nao entender que as pessoas que defendem o SIM sao tao morais como eles. Melhor: sao mais morais que eles, pois nós nao comprometemos os nossos valores para ganhar um referendo.
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