¡No Pasarán!“, Abrunho, temos é de nos organizar. Contaram-me uma história passada num autocarro brasileiro, penso que em Belo Horizonte: uma mulher, ao dar-se conta que um gajo se estava a esfregar nela, de pénis de fora e tudo, não esteve com meias medidas: agarrou-lhe no pénis e puxou com toda a força. O tipo começou a uivar de dor, os outros passageiros aperceberam-se e dividiram-se entre os que se riam dele e os que o queriam linchar, e foi uma sorte o motorista ter parado o autocarro para o gajo poder fugir. Se o sistema judicial não protege as mulheres, parece-me que se justifica entrarmos numa de "faroeste".
Penso que sim. Um dos desaires das mulheres é ainda por cima ficarem envergonhadas, como se a culpa fosse delas. Estou a falar por mim, mas tenho a sensaçao que é espalhado.
Algo que sempre me perguntei e que ao vir para a Alemanha verifiquei é que os homens portugueses sao mais doentes. Porque?
Fenómenos de coutada do macho latino? A minha filha já sentiu a diferença no recreio de uma escola francesa, a 15 km da fronteira alemã. (mas depois há aquela tal história que o simpático alemão contou sobre as suas experiências como trolha...) (foi naquela caixa de comentários que te conheci - as tuas primeiras palavras, a bem dizer, foram: "e eu a pensar: parvalhão")
Já nao me lembro do contexto exacto, mas confesso que este é um assunto que me exalta. Mas daí a intuíres que ando a maltratar homens somente simpáticos é levares longe demais o teu prezado contraditório. :-)
O contexto: eu contei de um gajo que me sibilou "ksssssss", e de eu me ter perguntado o que é que o gajo quer com um "ksssss" destes. (Nem me chega a ofender ou a assustar - quase me faz pena uma tal pobreza de afectos, uma tal manifestação de grunhice) O Lutz saiu-se com um post onde contava as suas experiências nas obras, o trabalho árduo, e a aparição de uma miúda como um momento de redenção para os machos...
Foi aí que tu lhe disseste o que a miúda pensava daqueles machos. Claro que o Lutz caiu em si e te deu razão. E daí a pouco apareceste (acho que foste tu) com um posto do Lost in Lisbon sobre as desventuras de uma portuguesa, criada em NY, para tentar entender o mundo da coutada tuga. Às vezes dou-me conta que o mundo masculino é muito diferente daquilo que os homens nos mostram. Sem fazer juízos de valor: andam connosco como o lobo com pele de cordeiro, parecem quase femininos. E um dia descaem-se, e levantam uma ponta do véu. Já vi isso em portugueses e em brasileiros. Em alemães, curiosamente, não. Ou são realmente diferentes, ou sabem disfarçar melhor...
Helena, a memória da internet
(por falar em memória, piadinha brasileira: Qual é a diferença entre um computador brasileiro e um computador português? O computador brasileiro tem memória, e o português tem uma "vâgue-lembrânce") (adoro quando os brasileiros tentam falar com pronúncia de português - mas depois tenho muito cuidado de não cantarolar MPB à frente deles...)
A questao para mim é que na maior parte das vezes e na melhor das hipóteses este assunto é tratado como um fait divers.
Eu tenho 31 anos e neste momento tenho uma confiança em que enfrento estas situaçoes sem grande mossa, por vezes até com uma atitude a roçar a antropologia masculina. No outro dia vi um rapaz que conseguia masturbar-se e correr ao mesmo tempo. Confesso que esta foi nova para mim. E encarei a situaçao com um certo humor. Consegui relevar. Nao me chatear. Mas aos 16 anos eu ficaria de rastos.
Na minha adolescencia eu lidei extremamente mal com estas situaçoes.
Recordando isto, o quao maligno foi durante o meu crescimento, e pensando que eu nao sou a mulher mais sensível de Portugal, é óbvio que o Lutz contar a sua história de redençao me chocou. Que algo potencialmente doloroso seja tratado como um grito de libertaçao masculina. Algo, usualmente, nojento, ofensivo, seja tratado como uma pequena brincadeira inofensiva e só uma mulher sem senso de humor, ou uma mulher nao totalmente feminina, é que poderá nao gostar de uma corte tao masculina, tao macho, tao erótica, é para mim do piorio. Haverá algo mais lindo que a redençao dos instintos básicos do homem?
Como é que nos novos tempos os homens continuam a ser desculpabilizados? Antes era porque eram homens e prontos, os homens já se sabe tem estas necessidades (alguém desconhece que num adultério a amante é a puta e o homem é simplesmente homem?), agora é redençao?!? Redençao?
Como os autores do parecer da associação sindical, Pedro Albergaria e Mouraz Lopes, deve ver a frequência quotidiana desses gestos como evidência de uma "aceitação cultural", talvez mesmo de inevitabilidade biológica - quiçá do gosto das azougadas vítimas.
O que eu nao perdoo a estes juízes e outros como eles é espalharem a culpabilizaçao. Eu sempre tive o sentimento de que a culpa era minha, talvez nao consciente, mas ainda assim culpada, algo em mim, algum cheiro, alguma forma de olhar ou me mexer que torna os outros desculpabilizáveis e eu culpada. Isto, Helena, eu nao perdoo.
E agora, o Lutz toma nova estratégia. Já nem é a inevitabilidade biológica de ser-se mulher e ser-se homem. Agora é uma falta de personalidade da mulher, falta de feminismo, de sentido de humor, a castraçao da naturalidade admirável dos homens.
7 comentários:
¡No Pasarán!“, Abrunho,
temos é de nos organizar.
Contaram-me uma história passada num autocarro brasileiro, penso que em Belo Horizonte: uma mulher, ao dar-se conta que um gajo se estava a esfregar nela, de pénis de fora e tudo, não esteve com meias medidas: agarrou-lhe no pénis e puxou com toda a força. O tipo começou a uivar de dor, os outros passageiros aperceberam-se e dividiram-se entre os que se riam dele e os que o queriam linchar, e foi uma sorte o motorista ter parado o autocarro para o gajo poder fugir.
Se o sistema judicial não protege as mulheres, parece-me que se justifica entrarmos numa de "faroeste".
Penso que sim. Um dos desaires das mulheres é ainda por cima ficarem envergonhadas, como se a culpa fosse delas. Estou a falar por mim, mas tenho a sensaçao que é espalhado.
Algo que sempre me perguntei e que ao vir para a Alemanha verifiquei é que os homens portugueses sao mais doentes. Porque?
Fenómenos de coutada do macho latino?
A minha filha já sentiu a diferença no recreio de uma escola francesa, a 15 km da fronteira alemã.
(mas depois há aquela tal história que o simpático alemão contou sobre as suas experiências como trolha...) (foi naquela caixa de comentários que te conheci - as tuas primeiras palavras, a bem dizer, foram: "e eu a pensar: parvalhão")
Já nao me lembro do contexto exacto, mas confesso que este é um assunto que me exalta. Mas daí a intuíres que ando a maltratar homens somente simpáticos é levares longe demais o teu prezado contraditório. :-)
O contexto: eu contei de um gajo que me sibilou "ksssssss", e de eu me ter perguntado o que é que o gajo quer com um "ksssss" destes.
(Nem me chega a ofender ou a assustar - quase me faz pena uma tal pobreza de afectos, uma tal manifestação de grunhice)
O Lutz saiu-se com um post onde contava as suas experiências nas obras, o trabalho árduo, e a aparição de uma miúda como um momento de redenção para os machos...
Foi aí que tu lhe disseste o que a miúda pensava daqueles machos.
Claro que o Lutz caiu em si e te deu razão.
E daí a pouco apareceste (acho que foste tu) com um posto do Lost in Lisbon sobre as desventuras de uma portuguesa, criada em NY, para tentar entender o mundo da coutada tuga.
Às vezes dou-me conta que o mundo masculino é muito diferente daquilo que os homens nos mostram. Sem fazer juízos de valor: andam connosco como o lobo com pele de cordeiro, parecem quase femininos. E um dia descaem-se, e levantam uma ponta do véu.
Já vi isso em portugueses e em brasileiros. Em alemães, curiosamente, não. Ou são realmente diferentes, ou sabem disfarçar melhor...
Helena, a memória da internet
(por falar em memória, piadinha brasileira:
Qual é a diferença entre um computador brasileiro e um computador português?
O computador brasileiro tem memória, e o português tem uma "vâgue-lembrânce")
(adoro quando os brasileiros tentam falar com pronúncia de português - mas depois tenho muito cuidado de não cantarolar MPB à frente deles...)
Já me lembro.
A questao para mim é que na maior parte das vezes e na melhor das hipóteses este assunto é tratado como um fait divers.
Eu tenho 31 anos e neste momento tenho uma confiança em que enfrento estas situaçoes sem grande mossa, por vezes até com uma atitude a roçar a antropologia masculina. No outro dia vi um rapaz que conseguia masturbar-se e correr ao mesmo tempo. Confesso que esta foi nova para mim. E encarei a situaçao com um certo humor. Consegui relevar. Nao me chatear. Mas aos 16 anos eu ficaria de rastos.
Na minha adolescencia eu lidei extremamente mal com estas situaçoes.
Recordando isto, o quao maligno foi durante o meu crescimento, e pensando que eu nao sou a mulher mais sensível de Portugal, é óbvio que o Lutz contar a sua história de redençao me chocou. Que algo potencialmente doloroso seja tratado como um grito de libertaçao masculina. Algo, usualmente, nojento, ofensivo, seja tratado como uma pequena brincadeira inofensiva e só uma mulher sem senso de humor, ou uma mulher nao totalmente feminina, é que poderá nao gostar de uma corte tao masculina, tao macho, tao erótica, é para mim do piorio. Haverá algo mais lindo que a redençao dos instintos básicos do homem?
Como é que nos novos tempos os homens continuam a ser desculpabilizados? Antes era porque eram homens e prontos, os homens já se sabe tem estas necessidades (alguém desconhece que num adultério a amante é a puta e o homem é simplesmente homem?), agora é redençao?!? Redençao?
ProntoS. Já me chateei outra vez.
Como os autores do parecer da associação sindical, Pedro Albergaria e Mouraz Lopes, deve ver a frequência quotidiana desses gestos como evidência de uma "aceitação cultural", talvez mesmo de inevitabilidade biológica - quiçá do gosto das azougadas vítimas.
O que eu nao perdoo a estes juízes e outros como eles é espalharem a culpabilizaçao. Eu sempre tive o sentimento de que a culpa era minha, talvez nao consciente, mas ainda assim culpada, algo em mim, algum cheiro, alguma forma de olhar ou me mexer que torna os outros desculpabilizáveis e eu culpada. Isto, Helena, eu nao perdoo.
E agora, o Lutz toma nova estratégia. Já nem é a inevitabilidade biológica de ser-se mulher e ser-se homem. Agora é uma falta de personalidade da mulher, falta de feminismo, de sentido de humor, a castraçao da naturalidade admirável dos homens.
Dá a volta e continua-se no mesmo.
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