quarta-feira
Sinopse
Sou feita de extremos. Não consigo o meio-ponto, a virtude, a constância. Salto ondas, tropeço em penedos e caio em precipícios. Sou aparentemente calma submersa num mar revolto. No balancé da vida lutei em manter-me de pé. Agora deitei-me, fechei os olhos e gozo o balançar. Meus senhores, estou crescida. Enjoada, quase a vomitar, mas adulta.
terça-feira
indignação nascida do governo sombra
Estou indignada. É verdade! E pensei: não posso desperdiçar isto. E cá estou fazendo o grito moderno: postar na internet.
Portanto, estava escorregando na neve fresca a caminho do trabalho, enquanto ouvia o Governo Sombra, quando o João Miguel Tavares veio com uma das suas indignações: um homem deu dois estalos à ex-mulher e o tribunal superior bleleleh confirmou o juízo de primeira instância de que não foi caso de violência doméstica, mas só assalto blelelh simples. E o JMT começa uma das suas arengas confusas, em que de uma certa forma disse que estava indignado, mas por outro lado também não, mas como morreram muitas mulheres em Portugal, mais que dez do que no ano passado, estava, e ainda por cima ninguém faz filmes sobre isso como em Espanha, mas foram duas estaladas, também não é para, mas foram estaladas e... No final não se percebeu bem. Estava à espera do Pedro Mexia para dizer algo inteligente e ele conseguiu descer do nível do JMT e dizer a coisa mais básica possível: agressão física + meio doméstico = violência doméstica. E claro, o RAP disse uma chalaça.
Portanto, estes tipos não entendem o que é violência doméstica. Eu explico: violência doméstica implica um nível de expectativa aterrorizada. Pode até nem ser físico. Pode ser psicológico. Mas implica um temor como se todos os dias pudesse acontecer um terramoto. E não penso que diminuímos a verdadeira violência doméstica fazendo um gajo que perdeu a cabeça com a ex-mulher pagar por todos os animais que aí andam. Acho bem que pague pelo que fez, mas não que façam dele o bode expiatório de outros. Talvez o que o JMT queria dar era uma ideia para um filme para sermos mais como os espanhóis. O homem vai para a prisão e a irmã torna-se advogada para o salvar da injustiça. Ah, espera, já foi feito.
Mais à frente no programa, o JMT faz piadinha com o sexo surpresa de que a justiça na Suécia acusa o Assange. Portanto, que mal pode haver em sexo surpresa? Eu pessoalmente gostaria que a esposa do JMT pegasse numa banana e a enfiasse num sítio que eu cá sei enquanto o JMT dorme. Quem é que não gosta duma surpresa destas? Quem?
Ou seja, o JMT acredita uma injustiça para as mulheres que um homem não pague por outros homens e acha uma injustiça que um homem não possa ter sexo com uma mulher inconsciente. Isto é um feminista profundo.
Portanto, estava escorregando na neve fresca a caminho do trabalho, enquanto ouvia o Governo Sombra, quando o João Miguel Tavares veio com uma das suas indignações: um homem deu dois estalos à ex-mulher e o tribunal superior bleleleh confirmou o juízo de primeira instância de que não foi caso de violência doméstica, mas só assalto blelelh simples. E o JMT começa uma das suas arengas confusas, em que de uma certa forma disse que estava indignado, mas por outro lado também não, mas como morreram muitas mulheres em Portugal, mais que dez do que no ano passado, estava, e ainda por cima ninguém faz filmes sobre isso como em Espanha, mas foram duas estaladas, também não é para, mas foram estaladas e... No final não se percebeu bem. Estava à espera do Pedro Mexia para dizer algo inteligente e ele conseguiu descer do nível do JMT e dizer a coisa mais básica possível: agressão física + meio doméstico = violência doméstica. E claro, o RAP disse uma chalaça.
Portanto, estes tipos não entendem o que é violência doméstica. Eu explico: violência doméstica implica um nível de expectativa aterrorizada. Pode até nem ser físico. Pode ser psicológico. Mas implica um temor como se todos os dias pudesse acontecer um terramoto. E não penso que diminuímos a verdadeira violência doméstica fazendo um gajo que perdeu a cabeça com a ex-mulher pagar por todos os animais que aí andam. Acho bem que pague pelo que fez, mas não que façam dele o bode expiatório de outros. Talvez o que o JMT queria dar era uma ideia para um filme para sermos mais como os espanhóis. O homem vai para a prisão e a irmã torna-se advogada para o salvar da injustiça. Ah, espera, já foi feito.
Mais à frente no programa, o JMT faz piadinha com o sexo surpresa de que a justiça na Suécia acusa o Assange. Portanto, que mal pode haver em sexo surpresa? Eu pessoalmente gostaria que a esposa do JMT pegasse numa banana e a enfiasse num sítio que eu cá sei enquanto o JMT dorme. Quem é que não gosta duma surpresa destas? Quem?
Ou seja, o JMT acredita uma injustiça para as mulheres que um homem não pague por outros homens e acha uma injustiça que um homem não possa ter sexo com uma mulher inconsciente. Isto é um feminista profundo.
quarta-feira
Conclusion:
The sex crime of the face of Wikileaks in Sweden was to leak.
I did not know Swedish had a sense of humor.
I did not know Swedish had a sense of humor.
domingo
Interregno
Quando escrevia aqui todos os dias, escarrapachava opiniões. Um estágio opinativo. Continuo a ter opiniões e continuo a enunciá-las com tal paixão que sou tomada de arrogante. Talvez seja inatamente arrogante, mas digo-vos que luto contra isso. Mas se a humildade é virtude, a neutralidade parece-me desistência, escolher ser fungo a humano.
Eu sou dona de mim
Houveram dias em que escrevia aqui todos os dias. Houveram outros momentos que passaram e todos juntos fazem uma história sem história. O meu percurso trapo a trapo cozidos uns aos outros, cada trapo de cor diferente, uma colecção impar, como são impares todas e cada vida. Aos dez anos pensei: há 10 nasci; aos onze, há dez anos andei; aos doze, há dez anos falei e continuei assim até aos vinte. Hoje retorno a esse hábito adolescente e miro dez anos atrás. Que eu possa olhar para trás e ver tantas coisas diferentes, tantos trapos cozidos uns nos outros até aqui, que eu possa dizer, há dez anos tanto que eu não sabia, inspira-me confiança no manto que sou.
quinta-feira
A nova religião
Not content with being wrong throughout the 1990s, during the 2000s more voodoo economists likened Europe’s economy to that of a “sick, sclerotic old man,” until—surprise, surprise—it was discovered that Europe actually had surpassed the U.S., creating more jobs, higher per capita growth and higher productivity (which lasted until the 2008 collapse).
And how about the experts who still can’t tell us how the Dow plunged a thousand points within minutes on May 7, 2010, in a frenzy of computer trading gone wild. Or the experts who never suspected that the rating agencies, like Moody’s and Standard and Poor’s, were selling their AAA ratings to Goldman Sachs and others for investment derivative bombs that they knew were designed to detonate. Now those same rating agencies have been downgrading Greece, Portugal and Spain, sending them into speculative play. Why does anyone listen to these ratings agencies anymore?
Exactamente. Eu sabia que eu não seria a única pessoa a fazer estas perguntas. É incrível que abundem artigos com os mesmos pressupostos, os mesmos futurismos e que sejam lidos. Eu só posso concluir que os investidores e essa malta etc são de uma estupidez transatlântica ou então as transações virtuais, o dinheiro virtual, esses jogos a que chamam finança e economia são a nova religião. Não interessa a realidade, interessa... O que é que interessa?
And how about the experts who still can’t tell us how the Dow plunged a thousand points within minutes on May 7, 2010, in a frenzy of computer trading gone wild. Or the experts who never suspected that the rating agencies, like Moody’s and Standard and Poor’s, were selling their AAA ratings to Goldman Sachs and others for investment derivative bombs that they knew were designed to detonate. Now those same rating agencies have been downgrading Greece, Portugal and Spain, sending them into speculative play. Why does anyone listen to these ratings agencies anymore?
Exactamente. Eu sabia que eu não seria a única pessoa a fazer estas perguntas. É incrível que abundem artigos com os mesmos pressupostos, os mesmos futurismos e que sejam lidos. Eu só posso concluir que os investidores e essa malta etc são de uma estupidez transatlântica ou então as transações virtuais, o dinheiro virtual, esses jogos a que chamam finança e economia são a nova religião. Não interessa a realidade, interessa... O que é que interessa?
segunda-feira
Momento filosófico
Tirando aquele pós momento em que apanhamos a doença que nos há de matar, envelhecer é, como quase tudo na vida, a incongruência entre aquilo que somos e aquilo que deviamos ser. Uma pessoa apanha-se velha, mas a fazer com a mesma vontade tudo o que fazia antes e acha que não, que devia estar a fazer outra coisa qualquer. E pensa: "fodas, tenho de procriar, ou isso!" Felizmente, cada vez que solto este guincho, vem em meu socorro a minha misantropia. É como acordar de um pesadelo, em que me dou conta, que na verdade tudo continua na mesma e o alívio submerge-me em prazer.
sexta-feira
A conceção do mundo segundo eu ou é para esta merda assim que existem blogues, isto é, disparatar
O mundo não é redondo. Pode parecer uma esfera vista de fora, e até prescrutando pode-se observar que afinal é mais parecida com um ovo, mas de dentro é um cubo transparente. Dentro do cubo outras formas geométricas boiam num liquido amniótico a que os antigos filósofos chamavam éter. Durante a vida, movemo-nos lentamente de volta deste cubo, o que significa que nem a Terra gira à volta do Sol ou o Sol à volta da Terra. Aqui a malta gira à volta do mundo, ainda que de fora ou de dentro possa parecer de outra forma. Portanto, durante a vida o mundo muda, segundo equações muitíssimo complicadas escritas em poesias e sonhos. É só isto.
quarta-feira
Correção no: Não é sobre tolerância, é sobre decoro
Afinal é mesmo sobre tolerância. Fica aqui embaixo o texto original (itálico) e depois a minha adição.
Parece-me que muitos dos embates entre as sociedades ocidentais e os seus cidadãos muçulmanos se deve a que há regras de comportamento não escritas que os moradores mais antigos cumprem sem pensar, que os novos moradores não cumprem. Este não cumprimento é por duas razões: essas regras de comportamento aprendem-se sem palavras, pelo que os novos membros não as aprendem se não viverem essa sociedade e parece-me há agora uma predisposição para acicatar os outros. Um pouco como os forcados a atiçar o touro batendo com o pé no chão.
Por exemplo: construir uma mesquita no local da tragédia do 9 de Setembro. Imaginem que o meu irmão mata alguém. Eu não tenho culpa nenhuma no assassinato e só estou ligada a ele porque o assassino é meu irmão. Acham que devo ir ao funeral do morto? É isto que está em causa. Uma certa noção de como nos comportarmos em relação aos outros, que é amarfanhada numa luta de religiões, onde se perde o decoro.
A tal mesquita (que na verdade é um centro cultural islâmico) não está proposta para o local onde se situavam as Torres Gémeas. É perto. Portanto, sim, é pura intolerância.
Parece-me que muitos dos embates entre as sociedades ocidentais e os seus cidadãos muçulmanos se deve a que há regras de comportamento não escritas que os moradores mais antigos cumprem sem pensar, que os novos moradores não cumprem. Este não cumprimento é por duas razões: essas regras de comportamento aprendem-se sem palavras, pelo que os novos membros não as aprendem se não viverem essa sociedade e parece-me há agora uma predisposição para acicatar os outros. Um pouco como os forcados a atiçar o touro batendo com o pé no chão.
Por exemplo: construir uma mesquita no local da tragédia do 9 de Setembro. Imaginem que o meu irmão mata alguém. Eu não tenho culpa nenhuma no assassinato e só estou ligada a ele porque o assassino é meu irmão. Acham que devo ir ao funeral do morto? É isto que está em causa. Uma certa noção de como nos comportarmos em relação aos outros, que é amarfanhada numa luta de religiões, onde se perde o decoro.
A tal mesquita (que na verdade é um centro cultural islâmico) não está proposta para o local onde se situavam as Torres Gémeas. É perto. Portanto, sim, é pura intolerância.
terça-feira
sexta-feira
Desejos nas passas
Em momentos em que tinha de desejar algo, tinha sempre um desejo já ali, o agregador de todos os desejos, o pai de todos os desejos, pensava eu, satisfeita com a minha argúcia. E pensava "Quero ser feliz". Sintético e rápido, o que dava imenso jeito no final do ano e as suas perigosas (perigo: asfixia) passas. Agora, à espera das brancas, resolvi reavaliar esse desejo e querendo ser arguta e pragmática, penso "Quero ser contente", ou, porque estou mesmo no epicentro da minha fase minimalista, "Quero ser simples". Divirto-me a imaginar as reavaliações seguintes: uma década, "Quero ser satisfeita", duas décadas, "Quero ser", três décadas, "Quero existir"...
quinta-feira
ama o teu vizinho como te amas a ti
A conclusão de um inquérito sério nos EUA é de que os norte-americanos (exceto Canadá) não se amam, o que explica muitas mortes. A resolução deste problema poderia ser um blitzer de peluches.
quarta-feira
Há coisas em que não acredito
As pessoas que escrevem que a Internet tornou a informação eterna, estão a dizer que a eternidade depende da eletricidade, o que me custa a aceitar.
Erva
Pode-se comer todos os dias exactamente a mesma coisa. Esta descoberta maravilhosa mudou completamente a minha vida para melhor. Não tenho que pensar no que vou comer e não há restos no frigorífico, porque não há refeições perdidas como meias sem o par. No dia seguinte, o resto incorpora a nova refeição num prosseguir de perfeição canónica. Não há pacotinhos, frasquinhos ou latinhas de coisas que se usaram pela metade, como leites de coco ou ramas de hortelã. Menos lixo, portanto. O cozinhar é eficiente como bem faz a prática e não há perdas de tempo no comer, com pensamentos de gosto ou desgosto sobre o resultado final. Quando há um espreitar de aborrecimento compram-se novas ervas para a salada e assim se satisfaz aquela coisa tonta de novidade. Tenho vários frasquinhos de ervas para salada para dar, se quiserem... Tenho ervas de montanha suíça, de montanha italiana, de montanha ucraniana, ervas biológicas, ecológicas e que se lixe, ervas da provença, ervas indianas e algo que comprei no mercado negro das ervas, tenho marijuana e erva de hóstia e uma erva que mata formigas. É só contatar aqui no blogue. Obrigada.
segunda-feira
Deste alto
Parece-me neste ponto da minha vida, que estar neste ponto da minha vida e talvez por um largo tempo que há de vir, que cada vez que pensar na minha vida, vou-me sentir como num miradouro, a mirar passado e futuro de cima, como se tivesse realmente aprendido algo. Parece-me, assim de cima, que qualquer que fosse o caminho que tivesse tomado, eu continuaria a considerar este miradouro muito longe da sua ideal perfeição e, no entanto, tentando ser verdadeira, muito dificilmente teria encontrado melhor miradouro. Arriscaria a pensar que quanto melhor a minha vida tivesse sido, quanto pior seria eu hoje.
sexta-feira
Nunca mais chega
Este blogue, é provável, morreu. É um corpo santo com a podridão invísivel. Isto digo eu a fazer tempo para a fresca da noite.
quinta-feira
Ahhhhhhhh, o fresco da noite
Numa noite de Verão, sento-me aqui querendo escrever o significado de algo muito importante para mim, porque sinto-me incapaz de não fazer uma enormidade que mude destinos e percursos. E no entanto, saiem-me sequências de palavras como sequências de segundos, despidos se não por nós, pelo que lhes colamos em cada respiração. Se eu disser que me sinto feliz, daquela felicidade simples e quente com uma brisa de noite de Verão, será que empresto a enormidade que preciso à minha apoucada sequência de palavras?
terça-feira
Israel
Finalmente, o lobo já não consegue esconder o focinho na touca de avozinha. Mas foi preciso deixar a cabeça do capuchinho vermelho dentro da cama do caçador.
segunda-feira
A crise da meia-idade
Precisamos de simbologias, de efemérides, de pontos marcantes e viragens de 90 graus. Precisamos de nos levantar de manhã e em algumas dessas manhãs de nos darmos um estalo e marcar a dor um ponto, um ponto que inventamos ou a que damos importância, tipo os anos, nossos e doutros, um feriado, um golo ou um autógrafo. Diria a Igreja que é muito natural e o Sr. Presidente que é no interesse do país. É preciso o alternado dalgo ao marasmo da existência. A marcação cerrada ao que se prolonga pela linha de tempo que se esvai na morte. É preciso casar, descasar, juntar e quebrar os cacos em cacos, comprar uns brincos, fazer aquela viagem e aquela festa. É preciso chamar a alternativa e destruí-la em rotina. É preciso descansar em algo imenso como o oceano. É preciso viver e chamar-lhe vida.
quinta-feira
Quem tem prioridade?
A filha que faz anos no dia da Mãe ou a mãe da filha que faz anos no dia da Mãe?
domingo
O meu alter-ego
Não estou a sonhar. Estou na lua e vem-me esta imagem. Espero que ele se mova e talvez me mostre o caminho. Mas ele, o meu imaginado do lado de lá da minha mente, fica ali parado a olhar para mim.
Detesto a esperança
Detesto a esperança, pelo que tem de fé e expectativa. Detesto tudo o que esteja paralisado a meio tempo e meio espaço. Desprezo-me quando me apanho a mandar pedras mágicas nos ares dos meus pensamentos. No entanto, a esperança permanece impérvia aos meus ataques, como outras fraquezas não o foram. A religião foi canja, pareceu o caminho normal no processo de crescer e deitar fora as peles velhas das ideias parentais. O mesmo com as convenções sociais que me vão cuspindo na cara ao de leve quando visito Portugal e que me causam tanta mossa como a irritação leve de um mosquito norte-alemão (estes suíços já parecem ter alguma pica). Na minha ânsia por tentar chegar a qualquer pequeno ponto de ideias claras e objectivas, a porra da esperança vai aparecendo, estragando-me os cálculos meticulosamente enquadrados nos riscos da vida, aumentando esses riscos.
terça-feira
Caminhando esperançosamente na direcção, quem diria, do futuro
Há uns anos queriam escrever na sebastiana constituição europeia uma frase que registasse que a Europa é cristã. Pareceu que quem queria escrever essa frase, o fazia com a mesma intenção com que alguém põe uma ferradura atrás da porta. Façam-se as mezinhas que se quiserem nas portas da Europa, a história da Europa é cristã. Mas a história é passado sobre o qual se vai construindo o futuro a que se chama presente. Portanto, parece que quando as pessoas exigem que se admita essa história, estão a exigir a cópia em série e não a evolução.
Já não somos todos cristãos. Os conceitos de pecado e salvação devem ter na sociedade secular o mesmo peso que os conceitos de reincarnação e nirvana. Tal como um hindu não pode reclamar isenção da justiça terrena, porque os seus crimes serão punidos por uma descida na escada de qualidade reincarnativa, também os cristãos não podem achar que o ciclo de prosternações até ao juízo final é uma excepção aceitável, porque estão aqui há muito tempo.
Felizmente, a cepa tem novos rebentos e os monges copistas morreram no passado.
Já não somos todos cristãos. Os conceitos de pecado e salvação devem ter na sociedade secular o mesmo peso que os conceitos de reincarnação e nirvana. Tal como um hindu não pode reclamar isenção da justiça terrena, porque os seus crimes serão punidos por uma descida na escada de qualidade reincarnativa, também os cristãos não podem achar que o ciclo de prosternações até ao juízo final é uma excepção aceitável, porque estão aqui há muito tempo.
Felizmente, a cepa tem novos rebentos e os monges copistas morreram no passado.
quinta-feira
Vulcões pessoais
E num dia acordamos revestidos a sol, vestimo-nos de saia e vermelho, colocamos um lenço esvoaçante e sapatinhos leves e saímos como para uma festa às oito da manhã, hora a que noutros dias ainda estamos na cama a revolvermos de infelicidade. De passinho leve imitamos abelhas e borboletas, chegamos ao trabalho, arranjamos um café, colocamos música francesa, miramos as montanhas e suspiramos de contentamento. Escrevemos um poste, damo-nos conta que escrevemos no plural e sorrimos com a patetice, pomos um ponto final, publicamos e começamos o trabalho, tudo como se a perfeição fosse inquebrável.
sexta-feira
quarta-feira
Calcanhar de Aquiles
Devo dizer que me sinto triste pelas tuas entradas no teu blogue sobre o último escândalo na igreja. Eu admiro nos teus raciocinios a procura da verdade e da justiça. Tens uma clareza de pensamento, que eu, por exemplo, não tenho. Parece que há limites para tudo e o teu é a tua religião.
Em primeiro lugar, desapontam-me os argumentos que pretendem calar o interlocutor, somente. Neste caso, a vitimização. Nós só criticamos porque é a Igreja Católica, senão não diziamos nada. Não diziamos nada sobre o abuso de crianças, porque afinal o que mais há é crianças abusadas e ninguém diz nada. Eu não sei que microcosmos da realidade portuguesa conheces Helena, mas no Portugal que eu conheço as crianças não são corriqueiramente abusadas e nunca presenciei qualquer comentário, acção ou intenção que desse a entender que o abuso de crianças é algo que devemos ignorar. Este fechar de olhos é ainda detectável em termos da violência doméstica contra mulheres, mas não crianças.
Este argumento é pérfido. Tu defines a sociedade portuguesa como uma sociedade que alberga a molestação de crianças! Porquê? Por causa do Caso Pia? O mais interessante, é que tu fazes este salto corajoso de generalização obscena e noutro ponto defendes que na Igreja Católica foi um caso de alguns individuos. Isto de saltos corajosos é só nalguns trampolins. Mas se eu generalizo para a hierarquia da Igreja Católica é porque há registos de altos responsáveis da Igreja Católica a delinar acções de acobertamento. A tua prova acerca da degeneração geral da sociedade portuguesa está aonde?
Mas noutro passo dizes que a protecção dada às crianças é recente. É verdade. É verdade que a criança é hoje vista com outros olhos, mas quando os crimes foram cometidos já eram crimes à luz da legislação da altura! Eu sei que a Igreja é antiga e que demora a acertar o passo, mas as vitimas ainda estão vivas! Se estivéssemos distraídos poderia parecer que estamos a desenterrar esqueletos e a acusar a Igreja Católica de torturas no Século XVI!
A tua defesa da Igreja Católica seria rapidamente e obviamente obscena se estivesses a liberar outros. Se alguém chegasse e argumentasse:
- Oh, Sr. Juiz, eu sei que fiz mal, mas não sou só eu.
- Oh, Sr, Juiz, eu sei que raptei aquela pessoa e a escravizei, mas sabe que é recente o respeito que se tem pela liberdade das pessoas.
- Oh, Sr. Juiz, eu sei que escondi e ajudei o criminoso, mas já pedi desculpa!
O que se está a observar é os membros da Igreja Católica serem objectores de consciência da lei criminal de vários países. Há outra organização com tal regalia? É nestes momentos, que se vê a delicadeza das nossas sociedades seculares, quão frágeis são ainda, que há dificuldade em não tornar especial o que aos olhos das nossas leis deveria ter o mesmo tratamento. Não é crime, é pecado. Noutro âmbito seria um escândalo óbvio, aqui desculpabiliza-se e misturam-se tempos, como se a Igreja vivesse no século XVI e a gente esqueceu-se de esperar por eles. Mas mais interessante: temos a obrigação de esperar. Coitados, aquilo é outro mundo. Ainda falam latim! Prova óbvia de uma deficiência que os exonera das leis de um país. É o mundo dos sacramentos, diz-se. São objectores de consciência, são incapazes mentais, são extra-terrestres, portanto, vivem além das leis dos países.
Um dos teus apontamentos causou-me calafrios. O que tu resolveste revolver na tua saga de defesa da Igreja Católica deixa-me sem respiração. Tu resolveste ir atrás da criança e usaste um argumento que já foi usado por um juíz portuguès num caso de abuso sexual, que na altura deixou-me quase em lágrimas de indignação. Para justificar a pena miserável que deu ao criminoso, uma das justificações era que o rapaz tinha catorze anos e, dizia o juíz, obviamente é mais grave abusar um miúdo de 6 anos, que um miúdo de 14 anos. Para mim isto não é nada óbvio, mas começo a chegar à conclusão, que a mentalidade reinante é essa. Pergunto-me se eu era a única pessoa de catorze anos que não era sedenta por experiências sexuais e que era mais fragilizada aos catorze que aos seis. Aos catorze tu sabes sem dúvidas que estás a ser abusado. Aos seis talvez. O juíz disse aquele óbvio sem apresentar qualquer avaliação psicológica do rapaz. As leis que existem para proteger os adolescentes dos adultos ao nível sexual, existem porque há os que ainda se lembram o que significa ser adolescente e para aqueles que já não se lembram, há pessoas a estudar esse período. É um período de imaturidade e crescimento e pensava que concordavamos em sociedade que é necessário protegê-los de abutres sexuais. Parece que a discussão agora anda a resvalar. Um dia destes, andamos a discutir as virtudes da educação espartana. Não sei é se ainda há montes bastante longe de um macdonalds para abandonar os putos de sete anos à sua sorte. Para os enregecer e preparar para a vida. Se as crianças encontrarem o pior logo no início, estão preparados para tudo. Só um ponto mais: crianças molestadas têm maior probabilidade de abusarem de crianças quando crescerem. Em vez de crianças, podem também pôr adolescentes antes. Depende da personalidade de cada um. Deve haver os que gostam. A adolescència é um momento de maturação, o segundo momento alto de construção cerebral. É altura de basear opiniões em factos quando eles existem e os estudos demonstram que os adolescentes precisam de guias e protecções. Não me parece que deixá-los à mercê de predadores sexuais seja uma boa ideia, tal como não acho uma boa ideia abandonar crianças de sete anos no cimo de um monte isolado.
Para terminar e até vou citar, que isto merece:
Eu sinceramente gostaria de saber que práticas "educacionais" são estas que são comparáveis a abusos sexuais de crianças! Dar um tabefe esporádico a uma criança? DEixá-las acordadas até tarde? A tua argumentação esperaria noutro blogue que eu definiria como intelectualmente desonesto. O que tu demonstras é que todos têm um calcanhar de aquiles, até aqueles que parecem racionais.
P.S.: É crime a violência física contra crianças na lei portuguesa. Eu gosto de pensar que há inteligência para ver a diferença entre o tabefe esporádico e o uso de agressão continuada sobre uma criança.
P.S.: Não sei se este foi um plano para me retirar da letargia e indignar-me, mas se foi, parabéns, conseguiste.
Em primeiro lugar, desapontam-me os argumentos que pretendem calar o interlocutor, somente. Neste caso, a vitimização. Nós só criticamos porque é a Igreja Católica, senão não diziamos nada. Não diziamos nada sobre o abuso de crianças, porque afinal o que mais há é crianças abusadas e ninguém diz nada. Eu não sei que microcosmos da realidade portuguesa conheces Helena, mas no Portugal que eu conheço as crianças não são corriqueiramente abusadas e nunca presenciei qualquer comentário, acção ou intenção que desse a entender que o abuso de crianças é algo que devemos ignorar. Este fechar de olhos é ainda detectável em termos da violência doméstica contra mulheres, mas não crianças.
Este argumento é pérfido. Tu defines a sociedade portuguesa como uma sociedade que alberga a molestação de crianças! Porquê? Por causa do Caso Pia? O mais interessante, é que tu fazes este salto corajoso de generalização obscena e noutro ponto defendes que na Igreja Católica foi um caso de alguns individuos. Isto de saltos corajosos é só nalguns trampolins. Mas se eu generalizo para a hierarquia da Igreja Católica é porque há registos de altos responsáveis da Igreja Católica a delinar acções de acobertamento. A tua prova acerca da degeneração geral da sociedade portuguesa está aonde?
Mas noutro passo dizes que a protecção dada às crianças é recente. É verdade. É verdade que a criança é hoje vista com outros olhos, mas quando os crimes foram cometidos já eram crimes à luz da legislação da altura! Eu sei que a Igreja é antiga e que demora a acertar o passo, mas as vitimas ainda estão vivas! Se estivéssemos distraídos poderia parecer que estamos a desenterrar esqueletos e a acusar a Igreja Católica de torturas no Século XVI!
A tua defesa da Igreja Católica seria rapidamente e obviamente obscena se estivesses a liberar outros. Se alguém chegasse e argumentasse:
- Oh, Sr. Juiz, eu sei que fiz mal, mas não sou só eu.
- Oh, Sr, Juiz, eu sei que raptei aquela pessoa e a escravizei, mas sabe que é recente o respeito que se tem pela liberdade das pessoas.
- Oh, Sr. Juiz, eu sei que escondi e ajudei o criminoso, mas já pedi desculpa!
O que se está a observar é os membros da Igreja Católica serem objectores de consciência da lei criminal de vários países. Há outra organização com tal regalia? É nestes momentos, que se vê a delicadeza das nossas sociedades seculares, quão frágeis são ainda, que há dificuldade em não tornar especial o que aos olhos das nossas leis deveria ter o mesmo tratamento. Não é crime, é pecado. Noutro âmbito seria um escândalo óbvio, aqui desculpabiliza-se e misturam-se tempos, como se a Igreja vivesse no século XVI e a gente esqueceu-se de esperar por eles. Mas mais interessante: temos a obrigação de esperar. Coitados, aquilo é outro mundo. Ainda falam latim! Prova óbvia de uma deficiência que os exonera das leis de um país. É o mundo dos sacramentos, diz-se. São objectores de consciência, são incapazes mentais, são extra-terrestres, portanto, vivem além das leis dos países.
Um dos teus apontamentos causou-me calafrios. O que tu resolveste revolver na tua saga de defesa da Igreja Católica deixa-me sem respiração. Tu resolveste ir atrás da criança e usaste um argumento que já foi usado por um juíz portuguès num caso de abuso sexual, que na altura deixou-me quase em lágrimas de indignação. Para justificar a pena miserável que deu ao criminoso, uma das justificações era que o rapaz tinha catorze anos e, dizia o juíz, obviamente é mais grave abusar um miúdo de 6 anos, que um miúdo de 14 anos. Para mim isto não é nada óbvio, mas começo a chegar à conclusão, que a mentalidade reinante é essa. Pergunto-me se eu era a única pessoa de catorze anos que não era sedenta por experiências sexuais e que era mais fragilizada aos catorze que aos seis. Aos catorze tu sabes sem dúvidas que estás a ser abusado. Aos seis talvez. O juíz disse aquele óbvio sem apresentar qualquer avaliação psicológica do rapaz. As leis que existem para proteger os adolescentes dos adultos ao nível sexual, existem porque há os que ainda se lembram o que significa ser adolescente e para aqueles que já não se lembram, há pessoas a estudar esse período. É um período de imaturidade e crescimento e pensava que concordavamos em sociedade que é necessário protegê-los de abutres sexuais. Parece que a discussão agora anda a resvalar. Um dia destes, andamos a discutir as virtudes da educação espartana. Não sei é se ainda há montes bastante longe de um macdonalds para abandonar os putos de sete anos à sua sorte. Para os enregecer e preparar para a vida. Se as crianças encontrarem o pior logo no início, estão preparados para tudo. Só um ponto mais: crianças molestadas têm maior probabilidade de abusarem de crianças quando crescerem. Em vez de crianças, podem também pôr adolescentes antes. Depende da personalidade de cada um. Deve haver os que gostam. A adolescència é um momento de maturação, o segundo momento alto de construção cerebral. É altura de basear opiniões em factos quando eles existem e os estudos demonstram que os adolescentes precisam de guias e protecções. Não me parece que deixá-los à mercê de predadores sexuais seja uma boa ideia, tal como não acho uma boa ideia abandonar crianças de sete anos no cimo de um monte isolado.
Para terminar e até vou citar, que isto merece:
Há práticas "educacionais" nas famílias portuguesas que já hoje são consideradas crime noutros países europeus. Daqui a uns anos, acusarão as mães de não terem denunciado o marido por este bater nas crianças, como hoje acusam os bispos de não terem denunciado os padres.
Seria boa ideia estarmos muito atentos ao modo como falamos do papel dos bispos no escândalo da pedofilia, porque pode ser que se esteja a criar o modelo para o modo como daqui a uns anos falarão de nós (no nosso papel de pais ou de professores) por termos descurado as nossas responsabilidades no apoio às crianças que nos foram confiadas.
Eu sinceramente gostaria de saber que práticas "educacionais" são estas que são comparáveis a abusos sexuais de crianças! Dar um tabefe esporádico a uma criança? DEixá-las acordadas até tarde? A tua argumentação esperaria noutro blogue que eu definiria como intelectualmente desonesto. O que tu demonstras é que todos têm um calcanhar de aquiles, até aqueles que parecem racionais.
P.S.: É crime a violência física contra crianças na lei portuguesa. Eu gosto de pensar que há inteligência para ver a diferença entre o tabefe esporádico e o uso de agressão continuada sobre uma criança.
P.S.: Não sei se este foi um plano para me retirar da letargia e indignar-me, mas se foi, parabéns, conseguiste.
terça-feira
Não aguento mais
A morte mandou-me uma carta registada em como ia morrer num par de dias. Estava a morrer, quando a morte pausou o processo e anunciou que afinal tinha sido tudo um erro nos registos e eu não ia morrer. Mas a revisão do processo ia demorar umas semanas (parece que demora mais a ressuscitar que a morrer). E nisto estou meia-morta e vou andar meia-morta mais não sei quanto tempo até me restabelecerem completamente viva. Nada disto aconteceu, mas sinto-me como se tivesse acontecido, para além de o ter imaginado enquanto não dormia porque estava demasiadamente cansada até para adormecer. Rastejo como um zombie até às malditas férias...................................................................................................................... férias ................................................... oásis.........................................................água........................
O tempo sem agendas
Estou na minha crise de meia idade. Está a ser difícil e até me sentiria melhor se soubesse que sǿ há uma, mas desconfio que esta crise anuncia todo um fim de vida de crises. Não me apetece ter uma mota ou um filho, mas simplesmente não ter esta crise. Não quero questionar-me sobre coisas que se as vivesse me dariam crises de meia-idade de outra natureza. A inevitabilidade de estar em crise na meia-idade irrita-me profundamente. É o pior desta crise. A partir de agora vai ser como a gripe. Uma por ano, na altura do meu aniversário, presumo, só para arrumar diferentes doenças em diferentes pontos do ano. Não sei se aguento a entrega de um relatório, uma crise de meia-idade e uma gripe no mesmo mês. Bons tempos, em que não havia necessidade de agendar doenças.
segunda-feira
EUtediante
Às vezes dou-me conta de que há pessoas que me julgam entediante. Também há as que julgam que sou parva, mas com isto de ser parva posso bem. Mas ser entediante custa-me, tira-me toda a autoridade de desprezar a humanidade no modelo: pessoas entediantes, pessoas não entediantes, pessoas entediantes que aturo (é amor), pessoas não entediantes que não aturo (é mal-querer). Eu tenho de me aturar e não tenho de me amar. Isto provoca aqui um problema de tanta monta, que só me apetece dormir. Sinceramente, EU, entediante?
sábado
entralgo
A quem me conhece, aviso para não construirem estereótipos, fotos-tipo, do português sobre a minha pessoa. Pelo menos quando encontro emigrantes sinto sempre estranheza. Estranheza pela saudade, pela quase atitude sofredora, porque o destino bruto os pôs fora de Portugal. E não consigo deixar de me perguntar se não é uma quase peça teatral que somos chamados a declamar, que somos emigrantes obrigados, que estamos tristes, que sem sol engordamos mirrados de maldito fondue. Como parece que faltei às aulas de teatro, calo-me e deixo-os interpretar as minhas palavras como lhes aprovem, faço cara de comiseração e tento que não se apercebam que me baldei às aulas como ser emigrante.
E quando encontro suíços, também me baldei às aulas de como ser imigrante. E quando me perguntam se não é absolutamente magnífico estar nas montanhas, como a felicidade nos abraça, eu remarco que a felicidade vem de dentro de nós. E que o fondue cheira mal e me faz mal ao figado. E não, a estação de comboios de Zurique não é especial, tirando a gaja gorda pendurada no tecto. Mas sim, adoro o sistema de comboios e a perfeita lógica das suas regras, lógica sendo algo que os alemães não percebem e os portugueses pensam ser nome de sereia.
Pergunto-me se não devia pedir um passaporte neutro, algo para pessoas que não entendem o mundo.
E quando encontro suíços, também me baldei às aulas de como ser imigrante. E quando me perguntam se não é absolutamente magnífico estar nas montanhas, como a felicidade nos abraça, eu remarco que a felicidade vem de dentro de nós. E que o fondue cheira mal e me faz mal ao figado. E não, a estação de comboios de Zurique não é especial, tirando a gaja gorda pendurada no tecto. Mas sim, adoro o sistema de comboios e a perfeita lógica das suas regras, lógica sendo algo que os alemães não percebem e os portugueses pensam ser nome de sereia.
Pergunto-me se não devia pedir um passaporte neutro, algo para pessoas que não entendem o mundo.
Planos para o Verão
As noites têm estado maravilhosas, prenunciando que me vou apaixonar pelas noites de Verão. Há tanto tempo que não sinto o alívio de caricia que são as noites em Portugal, que me tinha esquecido das minhas longas romarias com a Primavera de Vivaldi ou algo assim movido para me acompanhar nas minhas prescrutações de noites estreladas. ASsim, planeio que saio de casa e vou rodeando o lago, rodeando, rodeando, pontapeando os cisnes pelo caminho. Vai ser bom.
terça-feira
Nunca perguntem à meia-noite
Por falar em Grécia antiga. Naquele tempo era assim: O meu filho anda-me ali com os papiros e nem um pedófilo tem! Que desgraça. Não se preocupe D. Eufémia, isso é uma fase. Mas daqui a pouco nascem-lhe os pêlos!
Os miúdos ficavam traumatizados quando não tinham um pedófilo que os quisesse. Presumo. Mas não ficavam traumatizados à moderna? Se hoje a sociedade também achasse que fazia bem a um mancebo ter um amante mais velho, e se os miúdos não ficassem traumatizados, então, portanto, o trauma é na verdade sociológico...? Pergunto eu. Há duas opções: Ou a maioria dos gregos antigos eram traumatizados ou a melhor maneira de não traumatizar miúdos hoje, é achar a pedofilia normal. Será que os gregos só pedofilavam, porque tinham sido pedofilados? Quem despedofilou os gregos? OU...?
Os miúdos ficavam traumatizados quando não tinham um pedófilo que os quisesse. Presumo. Mas não ficavam traumatizados à moderna? Se hoje a sociedade também achasse que fazia bem a um mancebo ter um amante mais velho, e se os miúdos não ficassem traumatizados, então, portanto, o trauma é na verdade sociológico...? Pergunto eu. Há duas opções: Ou a maioria dos gregos antigos eram traumatizados ou a melhor maneira de não traumatizar miúdos hoje, é achar a pedofilia normal. Será que os gregos só pedofilavam, porque tinham sido pedofilados? Quem despedofilou os gregos? OU...?
segunda-feira
Eu sou pior que um papa
Eu tenho a sensação que as pessoas extremizam o que eu digo. Quando eu digo a um amigo "Gostas de filmes merdosos", eu não estou a dizer a essa pessoa que vou acabar com a nossa amizade, porque acho que ele tem mau gosto*. Eu até vou ver os filmes com ele para verificar a merdosidade do material (se ele for bonito). Quando alguém rouba um tomate no supermercado e eu digo "Acho mal que roubes tomates", eu não estou a dizer que essa pessoa é indigna de se dar comigo, porque roubou um tomate. Eu, por vezes, como a salada. Quando eu digo a um católico que acho um crime (não só uma vergonha) o que os superiores hierárquicos católicos andaram a fazer no que respeita aos padres pedófilos (que é crime! É crime acobertar crimes! Só mesmo ser no seio da Igreja para ninguém se lembrar disto!), não estou a dizer a essa pessoa para começar a atirar padres de muros. É claro que tudo o que essas pessoas fizerem será devidamente analisado, criticado e matutado. Mas daí a achar que eu sou perfeita, coerente e comigo todos os meus amigos, familiares e conhecidos, é um salto de QED que até me dá vertigens. Se eu fosse tão severa como me fazem, viveria numa ilha num satélite de Saturno.
P.S.: eu não tenho nada contra os católicos. Eu até tenho amigos católicos!
* O pecado não é ter mau gosto. O pecado é alguém achar que, porque gosta de algo, isso, portanto, significa que a coisa gostada é de boa qualidade.
P.S.: realço: O PAPA COMETEU UM CRIME DE CUMPLICIDADE POR ORDENAR O ACOBERTAMENTO DE CRIMES! E A PENA QUE AS PESSOAS ACHAM TOTALMENTE NORMAL E GRANDE HOMEM ESSE PAPA É ESCREVER UMA CARTA A PEDIR DESCULPA... EM NOME DA IGREJA. Se eu matar alguém, vou ter a nobreza de carácter de pedir desculpa pela humanidade. E a humanidade vai-me achar o máximo.
P.S.: realço: os casos de pedofilia já eram crimes quando foram cometidos! Isto não se passou na Grécia Antiga!
P.S.: eu não tenho nada contra os católicos. Eu até tenho amigos católicos!
* O pecado não é ter mau gosto. O pecado é alguém achar que, porque gosta de algo, isso, portanto, significa que a coisa gostada é de boa qualidade.
P.S.: realço: O PAPA COMETEU UM CRIME DE CUMPLICIDADE POR ORDENAR O ACOBERTAMENTO DE CRIMES! E A PENA QUE AS PESSOAS ACHAM TOTALMENTE NORMAL E GRANDE HOMEM ESSE PAPA É ESCREVER UMA CARTA A PEDIR DESCULPA... EM NOME DA IGREJA. Se eu matar alguém, vou ter a nobreza de carácter de pedir desculpa pela humanidade. E a humanidade vai-me achar o máximo.
P.S.: realço: os casos de pedofilia já eram crimes quando foram cometidos! Isto não se passou na Grécia Antiga!
sábado
E o Papa pede desculpa de novo
(...)
The letter was written in language that was at once passionate, personal and sweeping. And the pope did take the relatively rare step of ordering a special apostolic delegation to be sent to investigate abuse in unspecified dioceses in Ireland.
But even that decision raised questions among many who wondered what the investigators might unearth beyond what the Irish government found in two wide-ranging and scathing reports released last year. One report found systemic abuse in church-run schools; another said the church and the police in Ireland had systematically colluded in covering up decades of sexual abuse by priests in Dublin.
(...)
Indeed, while many Irish Catholics were hoping for concrete measures after the government reports that have criticized Vatican norms for dealing with the abuse, Benedict instead offered a prescription for how to renew their faith. He urged all Irish clergy to go on a spiritual retreat and suggested that dioceses set aside special chapels where Catholics could pray for “healing and renewal.”
“There’s a strong tendency to approach this as a problem of faith, when it is a problem of church management and a lack of accountability,” said Terrence McKiernan, founder and president of BishopAccountability.org, which tracks church records on abuse cases.
(...)
Some Irish church officials have said the problem has been deepened by confusion over the interpretation of a 2001 directive by Benedict, then a cardinal, reiterating a strict requirement for secrecy in handling abuse cases.
Fonte.
Coloquei a negrito, o que para mim é importante no que diz respeito à Igreja como instuitição neste último escândalo. Já agora, o minimo que o Papa merece é que cada uma das vitimas lhe cuspa na cara. Era a resposta digna às suas cartas.
Eu não entendo como considerar mais uns relampejos de pedidos de desculpa e perdão, quando já não havia outra forma de ignorar a situação se pode considerar como "agora está tudo bem, porque eles admitiram e até pediram desculpa. É o renascimento!" Na realidade o que é que a Igreja fez? Até as avestruzes aterram nos buracos com mais elegância.
The letter was written in language that was at once passionate, personal and sweeping. And the pope did take the relatively rare step of ordering a special apostolic delegation to be sent to investigate abuse in unspecified dioceses in Ireland.
But even that decision raised questions among many who wondered what the investigators might unearth beyond what the Irish government found in two wide-ranging and scathing reports released last year. One report found systemic abuse in church-run schools; another said the church and the police in Ireland had systematically colluded in covering up decades of sexual abuse by priests in Dublin.
(...)
Indeed, while many Irish Catholics were hoping for concrete measures after the government reports that have criticized Vatican norms for dealing with the abuse, Benedict instead offered a prescription for how to renew their faith. He urged all Irish clergy to go on a spiritual retreat and suggested that dioceses set aside special chapels where Catholics could pray for “healing and renewal.”
“There’s a strong tendency to approach this as a problem of faith, when it is a problem of church management and a lack of accountability,” said Terrence McKiernan, founder and president of BishopAccountability.org, which tracks church records on abuse cases.
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Some Irish church officials have said the problem has been deepened by confusion over the interpretation of a 2001 directive by Benedict, then a cardinal, reiterating a strict requirement for secrecy in handling abuse cases.
Fonte.
Coloquei a negrito, o que para mim é importante no que diz respeito à Igreja como instuitição neste último escândalo. Já agora, o minimo que o Papa merece é que cada uma das vitimas lhe cuspa na cara. Era a resposta digna às suas cartas.
Eu não entendo como considerar mais uns relampejos de pedidos de desculpa e perdão, quando já não havia outra forma de ignorar a situação se pode considerar como "agora está tudo bem, porque eles admitiram e até pediram desculpa. É o renascimento!" Na realidade o que é que a Igreja fez? Até as avestruzes aterram nos buracos com mais elegância.
quinta-feira
Como se cimentam as boas relações laborais
Sem tempo para um duche, compra um aromatizador ao colega de escritório.
Muito lentamente escorre o ranho
Portanto, Helena, sair da Igreja católica não é a opção certa se desapontado. O que há é mudar o que está errado por dentro. Já pensaste que os guardas suíços não deixam entrar cavalos de tróia no vaticano? Imagina que o meu companheiro me dá uns estalos todas as noites? Fico para lhe mudar a atitude? Imagina que a tua filha anda com malta que fuma charros? Dizes para ficar e mostrar-lhes a maravilha da sobriedade? E quanto tempo esperas?
Eu pessoalmente não me dou com cadastrados. Chamem-me esnobenta.
Eu pessoalmente não me dou com cadastrados. Chamem-me esnobenta.
terça-feira
Dou um estalo ao primeiro que argumentar
Os argumentos. Ahhh, os argumentos. Eu, por vezes, quero dar uma chance, mas não me dão a chance. Mesmo agora vi uma espécie de apoio contra o acordo ortográfico, cujo argumento é: "O Português levou 8 séculos a construir, não será por decreto que o irão destruir." A frase é um disparate maior a cada palavra que se lhe se junta. Porra, eu consigo criar-lhes um bom argumento. Eu vou montar uma empresa para fazer argumentos!!
Portanto, o acordo ortográfico é mau, porque a língua é um maravilhoso organismo em evolução, cujas asas não devem ser cortadas por disposições legislativas. 1000 Euros.
Porque é este argumento melhor que o outro? Porque admite a língua como não acabada e viva. Porque não pressupõe a destruição da língua com este acordo ortográfico, que é um pressuposto só possível em ignorância. Porque não é comicamente dramático, mas comicamente poético. :)
Outro argumento que só me dá vontade de dar estaladas a gatos é o do natural. Isto não é natural, aquilo é natural. Eu vou contar-vos uma naturalidade que faz as delícias dos estudantes de biologia. Os tamboris que comemos são todos fêmeas. Os machos são umas coisitas sem aparelho digestivo e um nariz muito apurado, cujo único objectivo à nascença é encontrar uma fêmea. Se e quando a encontram, agarram-se a ela e lentamente tornam-se parte da fêmea. O macho encarquilha-se excepto nos testículos, que libertam esperma quando as hormonas da fêmea a assinalam pronta a desovar. Na minha fabriqueta de argumentos posso declarar que obviamente um macho é somente valioso pelas suas saquetas de esperma. O resto naturalmente é dispensável. Pelo que uma sociedade de amazonas é que era naturalmente esplêndido.
Portanto, o acordo ortográfico é mau, porque a língua é um maravilhoso organismo em evolução, cujas asas não devem ser cortadas por disposições legislativas. 1000 Euros.
Porque é este argumento melhor que o outro? Porque admite a língua como não acabada e viva. Porque não pressupõe a destruição da língua com este acordo ortográfico, que é um pressuposto só possível em ignorância. Porque não é comicamente dramático, mas comicamente poético. :)
Outro argumento que só me dá vontade de dar estaladas a gatos é o do natural. Isto não é natural, aquilo é natural. Eu vou contar-vos uma naturalidade que faz as delícias dos estudantes de biologia. Os tamboris que comemos são todos fêmeas. Os machos são umas coisitas sem aparelho digestivo e um nariz muito apurado, cujo único objectivo à nascença é encontrar uma fêmea. Se e quando a encontram, agarram-se a ela e lentamente tornam-se parte da fêmea. O macho encarquilha-se excepto nos testículos, que libertam esperma quando as hormonas da fêmea a assinalam pronta a desovar. Na minha fabriqueta de argumentos posso declarar que obviamente um macho é somente valioso pelas suas saquetas de esperma. O resto naturalmente é dispensável. Pelo que uma sociedade de amazonas é que era naturalmente esplêndido.
segunda-feira
De mim e da melancolia
Gosto mais de estar melancólica do que de estar feliz. Estar feliz é um estado de embriaguez, momentâneo e vazio. A melancolia transborda para o passado e para o futuro, numa viagem 3D a partir de um minúsculo ponto: tu. Estar feliz é ver fogo de artifício. A melancolia é uma viagem de barco. Quando estou feliz não me sinto eu. Sou um palhaço em roupas civis que entretem os outros de graça. Eu sou melancolia e na melancolia encontro-me com a minha alma. Pelo que se pareço triste, posso não estar triste, mas simplesmente no meu local apropriado, em equilíbrio com o mundo.
Da vida e do inverno
Vim até Hamburgo e o cinza do seu inverno entrou dentro de mim prolongando a chuva até onde a nostalgia desagua. É uma tristeza batida, de despedidas e invernos que passam e primaveras esperadas que serão iguais, mas diferentes. São os dias e as pessoas que passam, os caminhos dos aeroportos e as paisagens a derramarem-se nos adeuses que ecoam. Estou suspensa num suspiro.
sábado
Isso não acontecia aqui.
Esta é uma frase ao gosto dos suíços. Estou a imaginá-los a abrir o jornal e o contentamento estampado na cara quando lerem esta notícia e poderem dizer: olhe que isto não acontecia aqui.
sexta-feira
quinta-feira
Pelo direito de estar de trombas
A Helena queria um poste sobre o poder do meu sorriso. Devo dizer que por vezes o meu sorriso e o meu não sorriso são um peso. Dizem-me que sou contagiosa, o que é chato. O meu sorriso e as minhas trombas espalham-se como um tsunami, espalhando mau ou bom humor e fico eu com a responsabilidade. Quero a minha liberdade de estar de trombas! Não sei se mais alguém tem este problema, mas se tiver escreva-me e organizamos uma pequena manifestação pelos direitos dos trombudos.
quarta-feira
Coisas que nem se pensa
Portanto, já por duas vezes, ouviram-se os sons do apocalipse, da guerra, fujam todos. O som é alucinante. Já por várias vezes ignorei alegremente o alarme de incêndios, mas o alarme morte total é impossivel de ignorar quando não se sabe que morte é que anuncia, porque obviamente este guincho é morte. Uma vez por ano, o som morte total é testado, para que quando o apocalipse se abater sobre a Suíça todos tenham tempo de pensar "Estou fodido".
sexta-feira
quinta-feira
Cara feia aos cara tapada
Na minha óptica, os véus integrais caiem direitinhos na educação. O que eu quero dizer com isto, é que somos educados a certas regras de estar no espaço público, que nos permitem viver num mínimo de agradabilidade todos juntos. Para mim, alguém tentar falar comigo de cara tapada é de muito má educação. Tal como é mal educado usar um decote de tal maneira aprofundado que eu tenho medo de ser projetada a qualquer momento por um mamilo. Contudo, educam-se as pessoas por decreto? O melhor seria o sistema normal de pressão social. Mas que fazer quando essa pressão não funciona e ainda por cima se dá a desculpa "Para mim ser mal-educado é um caso de identidade!"? Ou pior, "Para mim ser mal-educado é um caso de religião!" Portanto, até que ponto aguentar a má-educação dos outros e, ainda por cima, as más desculpas. Ah, mas dizem vocês, isto é só racismo e afins. Além disso, são só meia-dúzia de caras tapadas. Relativamente ao primeiro ponto, é verdade para algumas pessoas, mas não para todas, nem um mau cobre outro mau. Quanto ao segundo ponto, é possível aguentar alguma má educação. Não é como se não houvesse outros mal educados na via pública. E portanto, digo eu, aguentem-se os mal-educados, mas façamos todos cara feia aos cara tapada.
terça-feira
Fora o topfull!
Pelo menos nos serviços públicos vai ser proibido cobrir o rosto
Comité parlamentar defende proibição do véu integral em França
Querem saber? Concordo. Se há limitações no minimo de roupa, também deve haver no máximo. Só mudo de opinião quando começar a ver gente de biquini nas finanças.
Comité parlamentar defende proibição do véu integral em França
Querem saber? Concordo. Se há limitações no minimo de roupa, também deve haver no máximo. Só mudo de opinião quando começar a ver gente de biquini nas finanças.
segunda-feira
o inverno dá cabo da gente
Há dias prováveis. Uma pessoa acorda de manhã e sabe que provavelmente o dia vai correr mal. Uma pessoa pode lutar contra a probabilidade. Pode começar o dia com uma terrina de café e uma concha de natas do céu e ainda por cima lavar logo os dentes, para precaver a probabilidade da cárie. Mas sabe a probabilidade de escorregar no gelo que faz lá fora. Uma pessoa vive da coragem de sair de casa e enfrentar a probabilidade. Um segundo depois um quilo de neve cai em cima da cabeça e pensa "-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------porra!"
quinta-feira
A natureza mesmo à vista
Um amigo contou que já viu inúmeras raposas no meio de Zurique. Mesmo no meio, na baixa zuriquenha. Outro confirmou que há mais raposas a viver em Zurique, que nas envolventes e ele é biólogo. Outro afiançou-me que eu já deveria ter capiscado uma quando vou pra casa, bom percurso para avistar raposas. Portanto, limpei a arma, meti-a na mochila e comecei a caçada. Nã. Limpei os óculos e comecei o treino árduo de não olhar para o chão enquanto caminho. Nã. Não uso óculos. Meti um pau no pescoço para o manter direito. Desisto. Ver raposas em Zurique dá muito trabalho.
Olho por olho, dente por dente
Quando li este poste (e já agora, se anda por aqui perdido, sou ateia), pensei, tanto burburinho por nada. Porque a não ser que me esfreguem as coisas no nariz, se me derem a amplitude para eu ignorar, eu estou na minha onda, vive e deixa viver. O cardeal patriarca falou quinze minutos na RTP1, no dia 24 de Dezembro. Pude ignorar? Pude. Ok, cardeal fala. Mas depois parei, porque eu não o ignorei. Porque da forma que falou, ele ofendeu os ateus. Portanto, não me chateou que o cardeal tenha falado, chateou-me a sua atitude. Não só ele usa um espaço privilegiado na estação pública, mas ele tem o topete de pensar que ele tem direito a ele e de o usar para denegrir parte das pessoas a quem aquele espaço pertence. E é isso que chateia. A mim não me chateiam as cruzes, a mim chateia-me que as pessoas para quem as cruzes são importantes, achem que têm o direito de as impingir aos outros. O que assusta o cardeal patriarca é que nós possamos vir a ser a maioria e que possamos ser tão arrogantes quanto ele e as suas ovelhas. O que o senhor cardeal patriarca deveria saber é que eu não me importaria nada de os deixar pôr cruzes onde querem ou ele falar na televisão pública, mas que quando ele se arma ao pincarelho com os ateus, eu apoio quem acha que devemos impôr limites rígidos. Porque se não me toleram a mim, porque é que eu os hei-de tolerar a eles?
quarta-feira
segunda-feira
domingo
sábado
As ironias da vida
Li que ontem um espectacular arco-íris apareceu nos céus de Lisboa. Foi uma coincidência fantástica. Eu não sei não, beatos, mas parece-me um sinal inegável do vosso chefe supremo. Uma belíssima estalada.
De resto, agora os homossexuais, querendo adoptar, têm de adiar o casamento uma década. As ironias divinas têm sempre as versões mais pobres dos humanos.
De resto, agora os homossexuais, querendo adoptar, têm de adiar o casamento uma década. As ironias divinas têm sempre as versões mais pobres dos humanos.
quarta-feira
Ao D. Policarpo, que almeja ser meu inimigo
Estava eu a concentrar-me na digestão, depois da primeira ronda daquele desporto maravilhoso que é comer durante as festas, quando me aparece o D. José Policarpo naquela caixa sempre iluminada em todas as salas-de-estar portuguesas. Para meu enorme espanto, o D. José falava de mim! O homem parece que resolveu achar que os ateus são um perigo, o que demonstra que necessita de sair do convento. Podemos ter os nossos momentos de alarvidade, mas chamar-nos perigosos é como estar ocupado a matar aranhas durante o ataque de um tubarão. O D. JP, que não pode casar para ter todo o tempo do mundo para pensar no que lhe compete, mas deve ter arranjado algum passatempo no entretanto, parece precisar de gente que o ajude a capiscar as suas ovelhas. Portanto, D. Policarpo, aqui vai: as suas ovelhas que se autodenominam de não praticantes e que só vão à igreja para casar, são iguaizinhos aos ateus. A única forma de os diferenciar é com uma pergunta: pergunte-lhes se acreditam em bruxas. Se disserem que não, são ateus, os outros são todos seus. Assim, D. José Policarpo, como pessoa que também não se casou e que posso passar o tempo que passaria a passar as camisas do meu marido a pensar no seu problema, penso que a solução é em o D. Policarpo focar-se na educação dos milhares de católicos não praticantes. E por amor de deus, deixe os ateus em paz.
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