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Diz-nos o maradona.
Se os fofinhos se vão, não há salvamento para os feios, repelentes, pequenos, despercebidos. É pôrmo-nos todos no cais, de lencinho branco a dizer adeus. Shite. Mega-shite.
Não será inútil salientar a harmonia que deve existir entre relação afectiva e o acto procriativo, bem como recordar que a relação afectiva e erótica, encarada na sua duração, é o contexto que dá sentido à relação sexual, tomada como acto mais pontual. A relação procriativa, fora deste contexto, contém perigos que não se devem subestimar.
A mesma consideração, contudo, pode ser abordada na base de uma análise da acção em geral e do acto sexual em particular. Em nosso parecer, o conceito de acto humano deve ser entendido, não de modo pontual mas englobante, como o conjunto dos segmentos ou das partes de uma acção significativa única. Ou seja, se qualquer acto verdadeiramente humano nunca é algo de puramente físico, mas incorpora sempre um sentido, é também este sentido que, sendo unificado, constitui em acto único os segmentos ou partes em que esse acto se deixa decompor. O conjunto do acto sexual e das intervenções de RMA [Reprodução medicamente assistida = PMA] pode considerar-se como integrado numa significativa única de amor do casal.
Relatório-Parecer sobre reprodução medicamente assistida de 1993 - 3/CNE/93
No projecto parental de um certo homem e de uma certa mulher não é o esperma que fecunda é a pessoa humana toda que assume a paternidade e a executa, no plano biológico, através do espermatozóide fecundante.
Como também, no projecto parental de um certo homem e de uma certa mulher, a maternidade não é, apenas, o óvulo fecundado, mas sim a pessoa feminina toda, com as riquíssimas transformações biológicas e espirituais do estado maternal que começam na fecundação e duram por toda a vida.
No projecto conjugal estas transformações estão integradas na conjugalidade desta mulher e deste homem.
Quando o casal aceita a contaminação do seu projecto pessoal, a dois, por um terceiro membro, anónimo ou não, é legítimo afirmar que a conjugalidade está desfeita (...)
A alínea h) do preâmbulo do projecto de Lei "justifica" a dádiva de sémen com uma afirmação inaceitável - não pode negar-se (a dádiva de gâmetas masculinos) sempre que assumidas todas as consequências que podem resultar de tal acto pelos potenciais "beneficiários". É como se dissesse que se eu assumir as consequências de ser preso não se me pode negar o direito de roubar ou até de matar.
Declaração de voto de 29 de Julho de 1997 de Daniel Serrão relativo ao parecer 23/CNEV/98 sobre o projecto de proposta de lei relativo à Procriação Medicamente Assistida
http://www.guardian.co.uk/Archive/Article/0,4273,4416955,00.html
Our storytelling is not only a social and cultural activity. We ourselves embody, a narrative. Sperm is not just fertiliser: it is a book, in which is written half the recipe for a new human being. When my donor's sperm fertilised my mother's egg, he ensured that his genes were passed on, to me. Most people would accept that an individual's personal development is the story of the interaction of genetic predisposition with environment. And there are kinds of genetic inheritance which have nothing to do with personal mythology: recessive genes for incurable diseases are not susceptible to interpretation.
Each of us owns our personal history. Not just the the funny things we said when we were little, but the darker and half-hidden story in the genes, that story which we cannot read but whose narrative will inescapably unfold in our own lifetimes and be passed to our own children.
Em geral os portugueses observam com muito rigor o lado exterior da religião, talvez mais do que os espanhóis. Quem come carne na Quaresma tem mesmo de ser muito instruído. Ouvi com prazer uma vez que a questão foi lançada: seria maior pecado comer carne na Quaresma ou infringir o sexto Mandamento? A conclusão em termos gerais foi que o último pecado seria uma ninharia em relação ao primeiro. Não obstante, a nação e mesmo o povo mais vulgar não é tão fanático como em Espanha. Podia contar uma série de coisas a este respeito, mas contento-me apenas com algumas. Assisti em Setúbal a uma procissão onde dois capitães de navios, um inglês e um dinamarquês, ao passar o Espírito Santo não tiraram o chapéu. Ninguém se preocupou com o caso, apenas um marinheiro português perguntou: quem são aqueles ali com os chapéus na cabeça? São ingleses, fideputas, replicou o outro, e com o palavrão a coisa ficou resolvida. Quando o príncipe de Waldeck foi sepultado, ouvi dizer a um homem do povo: era um herege, mas um muito bom homem. Em seguida misturei-me com a multidão e não ouvi senão louvores e elogios ao amável Príncipe que foi precisamente levado para o cemitério protestante, soube mesmo que ele declinou o habitual convite para se tornar católico que lhe foi feito à hora da morte e verifiquei que, para meu grande espanto, esse acto obteve de um modo geral a aprovação de todos, na medida em que cada pessoa deveria viver e morrer na sua fé. O português considera qualquer estrangeiro um herege e é atencioso e prestável para com ele, chega mesmo a admirar-se quando vê estrangeiros católicos. Este traço mostra já como a nação, provavelmente em virtude do seu contacto com os ingleses, perdeu o seu fanatismo há muito tempo.
Em Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha, págs. 134-5, de Heinrich Friedrich Link, Biblioteca Nacional, Lisboa, 2005
Apesar da boa lavoura a gente do povo é muito pobre e o motivo está à vista quando ao longe se avista a cidade [Coimbra em 1798]: a quantidade de conventos e igrejas.
Em Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha, pág. 193, de Heinrich Friedrich Link, Biblioteca Nacional, Lisboa, 2005.