sábado

Eles || Eles


A retirada concretizou-se. Espero o que vem a seguir sem expectativas. Virá mera política e provavelmente desilusão.

Os conflitos humanos não costumam ser a preto e branco, mas este é tão matizado, que receberia o prémio para o nó górdio do século. Quando era [mais?] nova e carregada de idealismos e simplicidades e inconsequências e toda emoção eu era completamente pela causa dos palestinianos. Eles tinham sido invadidos. Parava pouco em pragmatismos e na minha perspectiva os israelitas deviam fazer as malas e ir.

Agora sou um pouco mais ponderada. Mas tal não significa que não me confranja a situação trágica dos palestinianos, usados pelos que eles chamam irmãos, ultrapassados pela História, esmagados por um absurdo.

Israel foi um erro. Esta é uma mancha que há-de sempre existir. Imaginem o que seria os portugueses acordarem um dia e darem-se conta que um povo estrangeiro andou pouco a pouco a comprar as serranias queimadas, os baldios abandonados, a instalar-se; que um dia vêm mais, muitos mais, e dizem-nos que eles eram lusitanos há 3000 anos, que esta terra era deles muito antes de nós, que nós não sabemos amar este rectângulo, que eles têm direitos históricos e de melhor guardião. Que fariamos nós? Imaginem que os espanhóis resolvem guerrear esse outro povo, porque afinal nós somos mais como eles, e nós rejubilamos e ajudamos, mas a guerra é perdida. Estamos desalojados nas fronteiras e agora os espanhóis fecham-nos as portas, recusam-se a dar-nos guarida e Portugal já não é nosso. Somos deixados num limbo.

Este povo foi varrido porque não entendeu que uma culpa enorme esmagava a Europa e evitou o bom senso, porque não entendeu que para os outros árabes eles são somente carne para canhão, porque sendo fatalmente humanos têm a arreigada noção do Eles e Nós. Por este povo trágico eu choro.

Como hoje sou mais velha e experiente, eu sei hoje que há feridas que para se curarem devem ser esquecidas. Eu hoje sei que Israel é. Tento entender a força que construiu este país. Que fracção é também culpa minha, na minha linha de ascendência católica.

Paz. Têm de haver mais pessoas a desejarem a paz e a olhar os outros com a mesma generosidade com que olham os seus. Nós e eles. Nós e eles. Nós e eles. Não sei. Nem sei se na verdade se encontraram os extremos do nó, para que se possa lentamente, mas em desenlaces seguros, destrinçar o emaranhado.

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