quinta-feira

LA Crash - Colisão



"Crash" é não só uma palavra com sentido, mas som. O som da colisão. Mesmo antes de ver o filme lembrei-me do "Crash" de 1996 do Cronenberg. Não me lembro se era passado em Los Angeles, nem mesmo da história. Lembro-me do que senti ao ver o filme: sufoco e surpresa. Fiquei com a ideia que o filme era sobre pessoas que de alguma forma perdidas (algo tendencioso?) num meio de automatização esterilizada, procuravam estímulos poderosos dentro do que lhes era oferecido. Escolheram as duas sensações mais fortes: excitação sexual e colisões de automóveis. Outra forma de intoxicação cerebral, pensei. Lembro-me também que o cinema estava apinhado no início da sessão e ao terminar estava a um terço. Lembro-me que no percurso para casa as minhas amigas criticavam duramente o filme, enquanto eu procurava sentidos. Quando "LA Crash" começou apreendi uma ligação entre os dois filmes, mas foi ténue. Neste a colisão automóvel é um aperitivo para a colisão racial. Se no início somos apontados também para uma sociedade sôfrega de contactos e que os procura de uma forma perversa, rapidamente nos lançam nos episódios de fricção do caldeirão étnico.

São retalhos de histórias. Tristezas, solidões, violências, abusos, incompreensões q.b., e por vezes com tão pouco de verosímil ou bastas vezes tão politicamente correcto e escorridinho, que se constitui também como um ataque ao espectador. Subtileza precisa-se! O director segue o modelo de interligar as diferentes histórias introduzindo as mesmas personagens em diferentes retalhos, que tornou-se agora a moda, mas neste caso com todo o sentido e mestria. Existe a figura de estilo cinematográfica do cortejo das personagens a deambular as suas misérias estilo "Magnólia", mas sem o poder de envolvência que foi criado neste filme entre as personagens e o espectador ou uma banda sonora como a de Aimee Mann. Para completar e prover o filme com todos os pequenos acessórios de um filme "a sério" e talvez para o director mostrar um certo virtuosismo, um competentérrimo flashback. Finalizando, há cenas per se bastante boas. Não é um filme genial, mas um filme americano competente sobre um tema difícil.

A mensagem é que somos todos boa gente, a viver vidas difíceis, ok com pré-conceitos, mas, principalmente, o racismo alimenta-se da acção da cidade opressora sobre as pessoas, pois cada um de nós mostrará o seu melhor nos momentos de crise. Ah, e a redenção existe às pazadas!

Eu sugiro ir ver o filme. Pessoalmente preferiria a tal subtileza, mas a versão choque de certeza agrada a muita gente e, talvez por isso, não se fica insensível à delicada tarefa de viverem diferentes culturas juntas. Lembrar à gente a tolerância.

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