terça-feira

Queen Mary 2 em Hamburgo

Ontem um amigo convidou-me a ir ao porto ver o "Queen Mary 2" e eu disse que "sim", como podia ter dito "não" ou "não me lixes" ou "estou-me nas tintas". No caminho perguntei-me como iria o nível de aborrecimento na minha vida.

Queen Mary 2

Quando chegamos verifiquei que o que para mim era um claro sinal da decadência da minha vida era para o resto da cidade um acontecimento. Havia pessoas por tudo o que era sítio com vista: relvados, praia, andaimes, escadas.

Ainda não tinha escrito, mas moro em Hamburgo. Cidade do norte da Alemanha, com a maior densidade de milionários, cosmopolita, jovem, bela, verde, com um tempo pavoroso. Se passarem perto entre Maio e Novembro é uma cidade que vale a pena visitar. Deixo uma ligação em que apresentam uma visualização de 180 graus da margem norte do Elbe (um dos rios de Hamburgo), onde ontem me juntei aos cidadãos germânicos para ver o tal navio-cruzeiro: aqui.

O pessoal por aqui aproveita todas as ocasiões de tempo seco para fazer churrascos e piqueniques e beber cervejas ao ar livre. Assim, não me admirei minimamente de ver grupos de pessoas espalhadas na conversa, com as cervejolas, gente mais reflectida com as mantinhas sobre a relva a comer do papel de alumínio comida-rápida turca. Ao longe um prédio movia-se muiiiiiiiiito lentamente. O Queen Mary 2 é o navio dos superlativos, a chamada cidade sobre a água. No porto de Hamburgo tens mesmo de ser superlativo para atrair atenção, pois todos os dias tens navios enormes a entrar rio acima até aqui. São navios-contentor, feios e com nomes femininos, a vir de locais longínquos como o Chile ou a China. A margem sul de Hamburgo é uma grande extensão de contentores e gruas e navios atracados. Ainda assim, a vista não é repulsiva, é uma beleza de máquina. De noite, com as luzes, é uma vista cativante.

Porto de Hamburgo

Estive uma hora à espera que a cidade flutuante fizesse talvez 1 quilómetro até nós, entre foguetório e os barcos (agora ridiculamente minúsculos na comparação) que abriam caminho. Mas foi agradável, já que a noite estava amena e havia uma atmosfera de festa. Como sinal dos tempos discutiamos a possibilidade do Queen Mary 2 ser atacado por terroristas. De vez em quando soava o apito do navio. Escrevo apito porque não encontro outra palavra, mas o som era cavernoso e poderoso. Era o som de chamamento dos extra-terrestres no filme mais recente do Spielberg "A guerra dos Mundos". Várias vezes me deixei absorver pela sensação de que a qualquer momento apareceria uma máquina gigantesca com tentáculos que iria fulminar-nos em pó branco.

A festa

Mas não aconteceu nada assim fantástico e perigoso. Num finalmente o navio passou-nos à frente, um arranha-céus imenso a movimentar-se muito perto, os da margem assobiaram e vaiaram, os do barco cumprimentaram-nos (a inveja é muito feia).

A noite terminou comigo num metro apinhado (extremamente raro) a observar as famílias que retornavam calmamente às suas casinhas agradáveis, junto aos canais e caminhos florestados dos subúrbios de Hamburgo. Vida boa.

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