quarta-feira

Leituras de Natal

What Is Living and What Is Dead in Social Democracy?


Bem, aprendi com este texto que a social democracia está morta em Portugal. Depois de três meses na Suíça posso dizer que detesto e gosto dos suíços e chateia-me que comecei a gostar de falar mal deles. Estou apaixonada obcecadamente por Sígur Rós e ainda choro com os Radiohead. Não tenho lido nada e desisti de ser uma pessoa interessante. Quero fazer tricot e perder muito tempo. Este fim-do-ano vou imaginar o mundo daqui a dez anos (isto chama-se viver à frente do meu tempo). Estou indecisa entre o apocalipse total ou um mundo em que os homens têm cesarianas, as mulheres juram a pés juntos que são fracas demais prá guerra e deus aparece-nos a explicar que esteve em coma por ter apanhado com um cometa na testa, os afegãos são turistas no Algarve e os americanos foram todos viver pra Marte e não sabem nada doutros planetas. Férias.

terça-feira

Os suíços são uns idiotas

Resolvi comer a comida indiana, que me foi servida metida numa daquelas malgas de pala italianas para esparguete, só com garfo. Informaram-me que na Suíça é má educação não comer com faca. Além disso, comer com faca é uma necessidade cultural suíça alienável. Obviamente, não me estou a integrar. Por que é que vim viver pra Suíça? Isto não foi uma brincadeira como supus até meio da conversa. Eu já disse que os suíços são uns idiotas?

quinta-feira

medo II

Por falar em medo... Portanto, andam em Copenhaga a tentar pôr-se em acordo acerca de um futuro que ninguém consegue apreender. É incerto, pois, mas há algo totalmente certo: vai ser diferente do que estamos habituados e não é só alterações climáticas. Esta vida, estes computadores debaixo dos nossos dedos e olhos, os produtos todos que usamos, tudo o que tocamos, todos os nossos sentidos imersos num mundo totalmente baseado em combustíveis fósseis. Até mesmo as energias alternativas estão baseadas em combustíveis fósseis. O número impar de seres humanos neste planeta deve-se à capacidade industrial de produzir comida para todos eles. Tudo isto tem os dias contados. A piada, a enorme piada, é que os cientistas quando fazem as suas projecções no futuro, fazem-nas como se fosse haver combustíveis fósseis consoante os nossos caprichos. Não vai. Como os economistas que pressupôem crescimento ilimitado ou os religiosos que pressupôem vida para lá da morte. Não há. Copenhaga não interessa, porque antes do que os políticos estão dispostos a limitar agora, terão de limitar pela escassez. Vamos ser obrigados a não emitir. E nesse belo futuro, ficaremos sem o mundo a que estamos habituados totalmente construído por nós com base nesse manancial de energia enterrado debaixo da terra, e sem o clima a que estamos habituados há cerca de 12000 anos. Ou seja, temos de aprender a viver outra vez, não só na pré-revolução industrial, mas na pré-história. Se o futuro chegasse hoje, nenhum dos homo computis saberia como sobreviver. Eu não tenho, nem quero ter ideia de como viver nesse mundo. Portanto, quanto cigarros posso fumar antes de chegar o futuro?

medo

Os suíços fazem uma coisa muito estúpida e aparece toda a gente a querer parecer mais inteligente e mais boa pessoa e melhor país do que realmente são. Os suíços têm uma panca por referendos e talvez que o resto do pessoal possa aprender com essa panquice o que os referendos acabam por ser na realidade. Referendar o casamento de pessoas do mesmo sexo é ao mesmo nível de estupidez de referendar a proibição da construção de torres redondas e altas num país. Por isso não se armem ao pincarelho. A diferença entre vós e os suíços é que na Suíça é mais fácil propôr um referendo que arrancar os pêlos das axilas com cera.

A segunda parte da minha diatribe, é aquilo que já me preocupava depois das eleições para o parlamento europeu: as pessoas têm medo. Perderam a capacidade de não generalizar esse medo para todos os muçulmanos e tudo o que ressoe mais que levemente a muçulmano. O que quer que seja, mesmo num país sem quaisquer problemas com a sua comunidade muçulmana, o medo atravessa a Europa e ressoa pesadamente no coração de todos os europeus. Não vale a pena apontar o dedo aos suíços. O medo é geral.

quarta-feira

Educação de valia

All animals, humans included, have evolved the capacity to create a distinction between members of the in-group and those in the out-group. But the features that are selected are not set in the genome. Rather, it is open to experience.

For example, we know from studies of child development that within the first year of life, babies prefer to look at faces from their own race to faces of a different race, prefer to listen to speakers of their native language over foreigners, and even within their native language prefer to listen to their own dialect. But if babies watch someone of another race speaking their native language, they are much more willing to engage with this person than someone of the same race speaking a different language.

These social categories are created by experience, and some features are more important than others because they are harder to fake and more indicative of a shared cultural background. But, importantly, they are plastic. Racial discrimination is greatly reduced among children of mixed-racial parents. And adults who have dated individuals of another race are also much less prejudiced. On this note, moral education can play a more nurturing role by introducing all children, early in life, to the varieties of religions, political systems, languages, social organisations and races. Exposure to diversity is perhaps our best option for reducing, if not eradicating, strong out-group biases.


Marc D. Hauser

sexta-feira

Série: grandes experiências

O grande problema dos computadores é que nunca desistem.

quarta-feira

A minha memória preferida

Um dia, era eu criança, num impulso peguei no meu gato e atirei-o da varanda. Fiquei suspensa em incredulidade, encostando-me na parede na esperança de desaparecer por ela adentro durante tempo que agora não sei se muito ou pouco. Porque fiz aquilo? Lembro-me e não sei se é verdade, que me custava a respirar ou lembro-me agora do meu respirar, no pânico de me perceber. A certo momento, muito ou pouco depois de ter atirado o gato, movi-me para o beiral e olhei para baixo. Quando não vi o gato, corri para dentro da casa, lembro-me que corria muito depressa e criava ondas de ar pela casa, que me empurravam pelas escadas, pela rua, mas pode até nem ser verdade que corri depressa. Procurei o gato onde o gato devia estar, procurei debaixo das roseiras, perto da camélia, por entre os caules secos dos lírios e não percebia para onde ele se teria arrastado. Ele tinha de estar por ali e depois de muito tempo a procurar, desisti, mas remoendo por dentro tudo aquilo que eu não conseguia perceber. Que eu tivesse morto o gato e que o gato tivesse desaparecido. Como devem estar a prever, o gato apareceu-me mais tarde, completamente saudável, parecendo não albergar qualquer ressentimento. Inacreditável. A minha conclusão, na altura, foi que deus tinha-me dado uma segunda oportunidade. :)

Borrifamento total

Em Dezembro, em Copenhaga, talvez já tenham ouvido falar, há uma daquelas reuniões para os políticos se entenderem sobre o futuro do clima. Para acharem que vale a pena vir ler o meu blogue, já dou o resultado: nada. Nada em termos políticos, que as roldanas do destino dão as suas voltas inexoráveis. A minha dúvida é quanto é que eu irei assistir na minha vida. Quantas vezes, velhinha e sem dentes, direi "No meu tempo havia aqui uma praia ou não havia aqui uma praia ou havia 6 milhares de milhões de pessoas, imaginem, tantas, aquilo naquele tempo era como os coelhos." Que velhinha interessante vou ser...

Naqueles relatórios que os cientistas do clima engendram uma vez cada cinco anos, aqueles relatórios do IPCC, maquinaram-se uns cenários do que a humanidade ia mandar para a atmosfera. Havia o cenário "Pessoal em borrifamento total", "Pessoal importa-se um bocadinho", "Pessoal transforma-se noutra espécie". Já se passaram uns quase trinta anos e agora até dá para pegar nesses prognósticos e compará-los com o que aconteceu. Portanto, estamos a seguir o cenário borrifamento total. Se calhar, é para ficarmos contentes que sejamos capazes de prever com tal exactidão o nosso nível de borrifamento total.

domingo

Não me lixem

Há pessoas que se viram para os fumadores e perguntam em total desconchavo de lógica, como é possível fazer algo tão sem lógica? Estamos a matar-nos tão lentamente que não é suicídio, o prazer que se tira daquilo é incompreensível para um não-fumador e por vezes mesmo para fumadores, que são uns meros viciados, que se meteram porque acharam que era fixe, que arranjavam mais garinas e isto para mim é que é total desconchavo de lógica, porque beijar alguém que fumou, ou é muito amor ou muito álcool. Eu não sei se sou viciada. Posso parar meses, posso parar porque estou de férias, posso parar porque me apetece, muito poucas vezes na vida me passei por um cigarro, mas fumo e fumo com prazer. É ilógico? Será lógico apanhar um avião para ir para umas meras férias, numa mera praia, cheia de turistas com cor de lagosta cozida, sabendo que isso anda a mudar o clima? Será lógico ter filhos quando estes só dão chatices e que a possibilidade que tomem conta de ti na velhice sejam do tamanho de uma ténia? Será lógico oferecer a existência a um deus? Mas alguém faz coisas a pensar em lógica? Porque é que um fumador tem de ser lógico?

As perguntas que as pessoas fazem aos fumadores é a perfeita ilustração de como as pessoas pensam relativamente aos outros e às suas preferências, perguntas que as pessoas sentem que podem fazer aos fumadores porque é agora socialmente aceitável menosprezar os fumadores nos atributos que pertencem a todos. Um viciado em açucar acha que é mais que um viciado em nicotina, por razões que me ultrapassam. A única coisa que aceito ser apontado a um fumador é que ele incomode outros. A partir do momento em que ele precavê o conforto dos outros, passa-se ao que realmente se passa: fumar é agora uma escolha moral. Eu quero que os moralistas do mundo se vejam ao espelho.

sábado

Antecipação

Em dias especialmente cheios de burocracias várias, já começo a sentir que o fim da vida é este infinito procurar de moradas de repartições, de leitura de condições, de assinatura de contratos, o eterno sentir de me estar a casar por, pelo menos, 12 meses. Após tanta assinatura depois da cruzinha, tenho medo que quando entrar na rotina do dia-a-dia, me sinta em falta de uma cara que olho em antecipação do que poderá dali sair, uma megera ou megero, a simpatia, sorrisos falsos ou verdadeiros. Posta, então sem distrações, perante a minha vida em Zurique, tenho medo do que já conheço desta cidade, de a ir detestar como se detesta uma sogra.

quinta-feira

Os turcos da Suíça

Os turcos da Suíça são os alemães. Um dia destes hei-de ler mais um daqueles títulos "Há alemães a mais?" e rir-me como a cobra do Pinóquio até ficar sufocada em schadenfreude. Queixam-se uns de que os outros não se sabem comportar, mal-educados, com a mania que o mundo é deles. Queixam-se os outros de serem tratados com rudeza. Li no jornal, que se apanha grátis na estação, que vai começar um novo jornal para os alemães na diáspora (diáspora a uma hora de distância!!!): para os ajudar a integrar!! Eu vou morrer a rir-me neste país.

domingo

A estrela

O Roman Polanski foi talhado para a tragédia. Até a tragédia de estar entre dois mundos que teimam em ver o mundo da mesma forma, mas com óculos diferentes. Por ele ser artista supremo, puseram-no noutro nível de julgamento, de um lado como desculpabilizante, do outro como motivo de assédio. Se Roman não fosse Polanski, o caso ter-se-ia resolvido há 32 anos e não tendo sido resolvido teria sido esquecido por agora. Se Roman não fosse Polanski teria sido recambiado sem baixo-assinados e sem ministros. Mas quando se nasce com uma estrela, ela persegue até à morte. Se ele morrer atropelado por uma estrela cadente, não se surpreendam.

sábado

badalam levemente como quem acorda por mim

Há uns tempos, talvez já contados em ano, li que, num promontório qualquer da Suíça, queriam proibir por lei a construção de mesquitas. A razão mais proeminente dada, era o barulho. Depois disso, na India, estive perto de uma mesquita pela altura em que estão a rezar ou a chamar para a reza ou a cantar no duche, e aquilo é mesmo um chinfrim. Na altura pensei, nos neurónios que ainda não tinham migrado para um côncavo escuro do meu corpo, "os suíços é que têm razão". Agora estou na Suíça e é uma chinfrineira de sinos. Têm imensas igrejas, todas com badalos, a badalar a qualquer hora, desde a madrugada à noitada. Disseram-me que um, obviamente hereje, requisitou que só badalassem depois das 9h. Não, responderam, que isto já se fazia assim há centenas de anos.

Como estão a ver, os suíços são muito mauzinhos a inventar desculpas.

Adenda: Onde vivo agora, a igreja católica só toca para a missa: para ir e na saída.

sexta-feira

E andam-me a dar nóbeis a moleiras importadas da roménia

Meu Deus! Ele vai tornar-se alcoólico!, ouço gemer as duas velhinhas simpáticas que lêem este blogue e prefeririam que eu rezasse a algum santinho até que a irritação passasse e a dor se transformasse em prazer mórbido, como tantas vezes lhes acontece a elas quando tratam do buço. Mas não é em bebedeiras que eu estou a pensar, afinal sempre preciso de trabalhar daqui a pouco.

Parece que a vampira alemã escreve weltliteratur, que é traduzido em miúdos, todas aquelas histórias que emociona pseudo-intelectuais do mundo inteiro. Eu só gosto de cómicorealismo, que é traduzido em miúdos, pegar na vida e transformá-la num riso, se não no bom gosto de um sorriso. De resto, quero que vão todos para o caraças, incluindo o Roman Polanski, que vive numa cadeia perto de mim.

P.S.: Já agora, relativamente ao prémio nobel da paz, congratulo-me que o deêm a um gajo que não fez a guerra antes de tentar a paz. Este pelo menos não fez ainda nada, para lá de ser uma paixonite para adultos. Mas ó pra mim, eu tenho o potencial para ganhar um nóbel. Ó PRA MIM! Eu faço umas merdas na ciência! Alô ALÔ!

quinta-feira

Pide em Zurique

E perguntam: onde andas. E eu digo: cá estou, Zurique. Há gente a falar português debaixo de cada pedra: brasileiros, portugueses e angolanos já foram detectados pelo radar lusolândia, tantos que me saturam o detector. Por exemplo, no outro dia um grupo de turistas brasileiro em excursão relâmpago (aquelas em que tens 1 hora para ver Zurique, 2h para Munique e 4h para Paris) entupiu uma daquelas ruas estreitíssimas da zona antiga e ali fiquei num engarrafamento pedestre. Por exemplo, no outro dia estive a ouvir a conversa de um mocinho brasileiro a explicar a uma alemã que os portugueses falam muito depressa, mas é a mesma língua e que só gosta de espanhol por causa da música. Gostei tanto dele, que quase fui à mesa dele e me apresentei devagar. Mas talvez percebesse que eu tinha passado a última meia-hora a espiar e coibi-me. Por exemplo, no outro dia três angolanos divertiam-se com piadolas à custa dos locais e eu fiz um esforço desmesurado para perceber-lhes o português. Conclusão: tenho passado os últimos dias a viver a vida de um pide.

sábado

Fotos ilustrativas do meu poste abaixo (penso eu de que)



Exposição do Bauhaus: na secção das artes plásticas e representativas (sou eu a dar-lhe o nome). Esta geringonça movia-se e supostamente criava um espectáculo de luzes. Baixinho para que ninguém nos ouça: seca... Mas para tirar fotos era realmente interessante. Havia outras cenas mais interessantes, como as pinturas (o Mondrian estava lá, e eu que não sabia que ele tinha sido influenciado por alemães) e representações teatrais (havia uma que era dançarinos assim como a estátua ali debaixo, no palco a formarem formas... perceberam? têm que ir ver).




Bauhaus em Hamburgo? Será Mondrian 3D?



Esta é uma pequena parte (eu tenho a mania de fotografar partes de coisas) de uma escultura à frente do Reichstag em Berlim, que relembra os políticos que foram perseguidos pelos nazis. Cada placa contém o nome, datas de nascimento e morte, e local da morte (geralmente um campo de concentração).

quarta-feira

Macedónia a partir da Bauhaus

Este fim-de-semana descobri que a modernidade é velha. Ando a reestruturar a minha ideia do mundo. Fui à exposição sobre o movimento Bauhaus na Alemanha. Seguidamente, vou escrever a minha superficialidade e escrevo esta declaração de pessoalidade, este óbvio de um blogue ser opinião, porque a Helena anda por aí e ela é uma especialista em Bauhaus e não quero que ela se me atire às canelas. Eu não estou a ensinar ninguém sobre o Bauhaus. Provavelmente estou só a ser moderna.

Portanto, a minha primeira declaração, talvez herética, é: o Bauhaus é o pai da IKEA. Só que o Bauhaus deu-se de 1919 a 1933 e foi um movimento extremamente rico de ideias. Os conceitos desenvolvidos estavam cimentados numa visão do futuro com várias dimensões: políticas, sociais, artisticas, etc. A IKEA é uma superficialidade, uma degenerescência. A IKEA é a actualidade: um mundo vazio de ideias e cheio de marcas. Portanto, a modernidade hoje é a superfície da modernidade de ontem.

A segunda impressão que me ficou da exposição é uma reposição do deslumbramento que eu sinto com essa Alemanha entre guerras, berço de tanta ideia revolucionária, que em 1933 começaram a ser mortas uma a uma, por uma ideia que se mostrou um horror: o nazismo. A pergunta tem que surgir: porquê esta e não outras? O que me têm ensinado é que as pessoas viviam uma situação económica que os fazia sentir de tal forma inseguros, que acolheram quem lhes desse um sentido forte.

Eu tenho um certo medo do futuro. O 11 de Setembro de 2001 aconteceu nos EUA, quando assassinaram à volta de 3000 pessoas e daqui os americanos deixaram que a administração Bush ratasse as suas apregoadas liberdades e pusesse em questão fundamentos de direito internacional. Aqui, metade do pessoal mete o rabinho entre as pernas cada vez que um gajo de toalha na cabeça grita e a outra metade chateia-se com meros lenços na cabeça das mulheres, enquanto o verdadeiro problema está submergido na confusão. Agora estamos em crise económica e finalmente demo-nos conta que é impossível o crescimento infinito que nos era propagado pelos economistas. Não sei que pensar, mas num mundo sem ideia, estaremos preparados para não deixar uma má ideia tomar conta de nós?

sábado

Amo o Outono

Adoro o Outono. É um daqueles temas que me fazem desejar ter talento para escrever como um escritor, para por em palavras o que parece inexprimivel e no entanto... Sem talento, tenho de me apoiar em palavras como magia. Quanta magia existe num bem-estar feito de nenhuma causa para lá de estar vivo e ser capaz de sentir, bem, bem? É, portanto, a magia de estar vivo; um imponderável, portanto. Mas o Outono é um imponderável inexprimível de uma classe superior. Será que gosto especialmente de dourados? Porque o Outono é ouro. E qual o prazer do primeiro frio? No Outono caminho muito, vagueio pelas ruas, pisando a terra molhada, o crispar das folhas secas, na urgencia de completar um sonho perecível. Deixo de fumar, para ter espaco para o cheiro do Outono nos meus pulmoes, metendo-o também nas bochechas, reservando-o para o longo ano, até ao próximo Outono. As folhas chovem sobre mim e eu sorrio como se caíssem por mim: é o Outono a dialogar.

É tao difícil exprimir o Outono, que só posso concluir, que amo o Outono. Este é o momento mais luminoso e aguardado do meu mundo. Está a comecar e a mim só me apetece saltar, saltar como um boneco animado, saltar sobre o sofá e a cama. Sinto-me como quando era crianca, dentro do carro, a caminho das férias anuais na praia. A expectativa do que está a comecar, todos os dias de Outono que estao para comecar, nao sei onde meter o meu entusiasmo e rebento de alegria! É Outono!

segunda-feira

Dois bons artigos

Minority Death Match: Jews, Blacks, And The “Post-Racial” Presidency, de Naomi Klein

Twice Branded: Western Women in Muslim Lands, de Judy Bachrach

Sobre o segundo, ainda hei de fazer uns considerandos. Para lá de dizer, que se aquilo não é uma mentalidade que merece ser combatida e desprezada, então não sei que vos diga. E nem falo das ideologias que dali saem. Se eu fosse holandesa, votava Geert Wilders. É simplista? Que se lixe.

P.S.: antigamente estas coisas só me punham em estado de feminismo.

É tão fácil falar

Eminent Afghan and international figures had encouraged citizens to defy the Taliban and vote in the elections. Yet, as a casualty in the process, Mr Mohammed and his friends say he has received no official support (On his way to the polling station he was held by Taliban fighters, beaten brutally, and then had his nose and ears slashed off.).

Mr Mohammed said his family had borrowed 20,000 Afghanis (around £250) from a local money lender to tide them over and buy medicine for him in the capital, Kabul.

"We have to pay back 40,000 Afghanis in three months," he said. "I do not know how we are going to do that, I think we will have to sell things. I do not know when I'll work again.

"Poor people suffer in this country, I do not know whether the elections will change that. I do not think I will try to vote again, I am now very frightened."

Tirado daqui.

domingo

Os genes e o desperdício

De vez em quando vêm uns lamentos do Portugal triste que nao se desenvolve, até ao ponto de já alguém ter apontado os dedos aos nossos genes colectivos. Depois perguntam-se porque é que os portugueses até dao ares de mérito no estrangeiro, porque nao na pátria, porque é que aquele solo nao dá fruta (e etc e tal cliche)?

Esta semana, por duas vezes, gente da minha geracao, trintoes portanto, que se lamentam nos moldes anteriores e sao muito modernos e muito pela iniciativa privada e pela responsabilizacao individual e muito modernos e fazem muitos erros ortográficos e gramaticais, falavam dos intelectuais e das "elites" com um desprezo e apontaram-me o dedo como uma parasita que tem a sorte de mamar em tetas de ouro, quando o que é que eu faco realmente? Pode-se comer? Pode-se meter no tanque do carro? E eu faco ciencia. Imaginem se fosse artista!

Num país em que nao se percebe o poder da arte como propulsor da criatividade humana, e até a ciencia, até a ciencia lhes parece um desperdicio, acho que podemos parar de olhar para os genes.

Pensamentos colaterais

Andei a passar os olhos pelos programas eleitorais. Preciso de passar mais uns olhos antes de conseguir ver por entre as postas de bacalhau, mas o que me vinha á cabeca eram os Magalhaes e os artigos que tenho lido sobre a possibilidade que existe de estarmos a mudar os cérebros das geracoes futuras (e há dois períodos muito importantes no desenvolvimento cerebral, que é os primeiros anitos com o desenvolvimento exorbitante de neurónios e na adolescencia, quando se cimentam ligacoes entre os neurónios mais usados e se elimina o que nao é tao usado), com uma forma de adquirir conhecimento que é muito diferente de um livro. E isto, antes de se terem criado bibliotecas de geito nas escolas. É mesmo por os bois sobre o carro e atracá-lo ao mini.

P.S.: Apesar de todas as criticas que possa ter ao PS, é até agora o único a quem daria o meu voto. Mas hei de explicar, se me apetecer...

P.S.2: O meu pai vai ficar tao contente. Se abandonei a Igreja e o Benfica, pelo menos que me mantenha fiel a um dos estandartes da familia (mas eu sou tao, tao socialista, só que mais que o partido). Vou-lhe telefonar!

Portanto, porque gosto tanto de Edward Hopper

Posso comecar pela simplicidade. Edward Hopper só pintava o estritamente necessário. Se repararem ele pintava os postes de eletricidade, mas nao os cabos. Vao lá ver, eu espero... O pintor do primeiro quadro que eu mostro (abaixo, num poste já ali abaixo) chamava-se John Sloan e se mirarem os seus quadros, é o arraial minhoto: é os prédios, é as roupas, é gatos a aparecerem em todas as esquinas, uma cena à esquerda, mais uma cara noutro lado. Eu espero outra vez...

Em segundo, há método em Hopper. Ele pintava quietude com horizontais e movimento com diagonais. Se repararem no quadro que eu pus abaixo, a diagonal é o braco da menina e, nao sei como é com voces, mas eu fico completamente fixada naquele braco. O quadro do Sloan é aquela roupa no estendal. E depois? Que me interessa a mim um monte de roupa no estendal? Mas aquela jovem, nao posso deixar de me interessar pelo que ela estará ali a fazer. Vai sair? Estar-se-á a preparar para a noite ou para o trabalho? Isto também se deve aqueles verticais, aquela porta que a enquadra, aquele relógio, os contrastes de cores (reparem as cores em Hopper, sao essenciais, trabalha com cores primárias e as suas oposicoes, como o vermelho com o verde) e o voyeurismo. A cena do Sloan é banal, as cores que usa normalmente sao uns pastéis entediantes e o que salta no quadro abaixo é o branco da roupa e roupa a secar deverá estar nos anais do NAO-INTERESSANTE. Além disso, nao há qualquer frisson no facto de estarmos a ver aquela mulher a estender roupa. O máximo que a minha imaginacao consegue fazer com aquilo é perguntar-se "onde está o cesto da roupa"? Isto é de por um hiper-activo a dormir.

Em terceiro, ele cria uma atmosfera nos seus quadros, como se algo estivesse para acontecer. Estamos num prestes, como no inicio de um filme de Hitchcock. Isto é um convite à imaginacao. Depois, Hopper pinta de maneira a que nós nos sentimos parte do quadro. Eu estou com aquela jovem. Ela nao sabe, mas eu estou ali a observa-la e sinto-me um pouco desconfortável por a estar a espiar. Mas eu quero saber quem ela é. A mulher a estender roupa? Naaaahhh.

O Hopper quando comecava a pintar já sabia como o quadro ia acabar. Já tinha planeado as cores, os contrastes, as linhas e as perspectivas. Ele já sabia o que queria provocar no observador. Os artistas que eu gosto sao sempre assim: pensam antes e trabalham muito, o que, para mim, poe em questao o géniozinho que por mero acaso é original. Eu de vez em quando visito um tipo que pinta. Os quadros sao horriveis (nunca lho disse). Penso que quando consegue algo minimamente de interesse, é por acaso. Ele simplesmente comeca a pintar. Vai espetando coisas pra lá, muda de ideias e o quadro acaba por ser camadas caoticas de tinta sobre tinta. Nao percebo quando é que ele decide que terminou. Para mim está tao horrivel como antes. Eu sempre me disse que eu nao percebo de arte. Mas será que quando um pintor é bom, mesmo que uma pessoa nao seja especialista, acaba por saber da qualidade, porque a arte diz-lhe algo. O nao especialista nao sabe porque, mas se observar, reconhece. Eu penso que precisamos de observar primeiro bastante, mas a certa altura ganha-se um sexto sentido, um certo gosto. Deve ser um pouco como aprender uma língua como um bébé. Nao se sabe a gramática, mas sabe-se falar.

Uma vez fui a um exame de pianistas na academia de música de Hamburgo. Eu nao percebo nada de musica, mas soube qual é que gostei ou nao. Os musicos com quem fui ficaram muito excitados, porque parece que eles concordavam comigo. Claro que eles explicavam tudo com muita tecnica, eu só gostei, gostei, sem saber porque, mas gostei. Tem piada, nao tem? Por vezes, é só uma questao de relaxar e nos deixarmos ir. Se formos é porque valeu a pena.

terça-feira

Há dias em que me apetece morrer

por favor, nao comentar, agora nao tenho tempo.

segunda-feira

Que bonito: Israel a aprender com os vizinhos

Os escandinavos estao sempre a meter-se nestes assados. Será a auto-censura, no resto desta Europa tao bem comportadinha? Ou serao os israelitas anti-louro-platinado?

Adenda a 28.08.09: E depois do governo israelita confundir o jornalismo feito num país com o governo político desse país (como os seus vizinhos retrógados fazem), o jornalismo de Israel mostra que a esperanca de Israel está longe do seu governo político, mas perto do seu jornalismo (ou que, pelo menos, há liberdade de imprensa e gente com juízo):

Swedish article on organ harvesting was cheap and harmful journalism

Excerto: "Serious journalism's task is to document, investigate and prove - not to call on others to investigate, as the Swedish tabloid did. One may, for example, accuse the Swedish reporter of a crime, writing that he rapes little boys or girls, all based on suspicions and rumors, and call on the Swedish police to investigate. That's what the reporter did with his claims of trafficking in Palestinian organs."

terça-feira

A graca

Nao há duvida alguma que eu gosto mais do segundo quadro que do primeiro. Nao percebi a razao, até Domingo, quando fui ver uma exposicao sobre Edward Hopper no contexto dos seus contemporaneos. Edward Hopper fez quadros de que me é impossivel nao parar e observar. Há ali algo que chama, que pede e exige atencao. Porque? Na exposicao era possivel comparar e tentar perceber o que havia num e nao noutro. Depois, se me apetecer, conto.


Suicídio das pintarolas

A cada passada vi uma joaninha espalmada no chão. Porquê, meu deus, porquê? Logo hoje que o Biedermann ganhou!

P.S.: tou suada

P.S.2: hoje elas continuam a descer ao chao e a serem calcadas. O que é isto? Época de acasalamento e só podem foder no chao?

P.S.3: tou feliz

jaaaaaaaaaaaaaaaaaaavol!

Paul Biedermann ganhou algo na água ao Michael Phelps. E o meu título: foi o grito na rádio. Espero que nao hajam apitos na rua...

P.S.: tou entediada

P.S.2: diz o Phelps que foi a roupa, que foi batota do Biedermann. Até parece que ele nada de cuecas!

P.S.3: tou feliz

sexta-feira

decidido



Esperemos que a minha semi-nova vida nao seja mesmo montanha abaixo. Aparte: este desporto é absolutamente alucinante, nao é?

Para ser mais clara: eu decidi nao ir pra Noruega. Eu decidi ir prá Suica. Entre o petróleo e o banco, escolhi o último. Entre os de sangue frio e os trafulhitas, escolhi os últimos.

quinta-feira

Coisas fantásticas

Nas minhas últimas andancas comprei no aeroporto o livro "The undercover economist" de um homem que nao me lembra o nome. No inicio comecei a desapontar-me, pois na contra-capa prometiam-me que após aquele livro ia comecar a ver o mundo como a Eva depois de ter comido a maca. Mas lá pelo meio até encontrei umas cenas fantásticas, que nem eu no meu cinismo me tinha lembrado de esperar. O escritor comeca a descrever a estratégia número um entre as inúmeras estratégias para as companhias ganharem o maximo de dinheiro possivel. Porque para aqueles que nao vendem só para os perdulários ou só para os poupadinhos, o desafio é apanhá-los a todos, esmifrando bem os primeiros e esmifrando o melhor possível os segundos. Como fazer isto? Nao se pode vender a mesma coisa com dois precos. Portanto, por exemplo, numa daquelas marcas tótós de lojas de café que vendem canecas de café com todas as possíveis variacoes de ingredientes adicionais, tamanhos, mistura e espuma e uma pessoa pensa que merda de tótós é que bebem café nesta espécie de loja de café pra tótós?... O que os cérebros por tras destas marcas pretendem é fazer a coisa simples, tipo café com leite, um preco, espetam-lhe uns pós de chocolate, sobe o preco, com abanamento, sobe o preco, com uma camada de nata, sobe o preco, com canela, sobe o preco, com raspas de gelo, sobe o preco. O poupadinho compra a versao simples e os perdulários podem perder a cabeca pelas versoes mais caras. Para o vendedor a diferenca entre produzir a versao simples ou as versoes "melhoradas" é misera, mas a diferenca de precos pode ir até ao triplo! As lojas de roupa com saldos: na época dos saldos eles ganham dinheiro, o intuito é apanhar os poupadinhos; na época sem saldos apanham-se os outros que se estao a cagar pros precos. Portanto, o que as marcas tentam é ter a versao simples-saldo e a versao "melhorada"-premium, poucas diferencas de producao, mas oferecidas diferentemente conforme a facilidade com que o dono da carteira a abre. O que acontece com as marcas de computadores é entao fantástica: um produto informático é desenvolvido normalmente de raiz. E desenvolve-se um produto. Contudo, para apanhar todos é preciso duas versoes do mesmo produto. Portanto, o produto base é o premium. Neste produto desligam-se funcionalidades e tem-se a versao "simples". Ou seja, eles tem adicional trabalho para produzir a versao mais barata! E por vezes nem é só desligar funcionalidades, é mesmo sabotar o produto final! Nao é o mundo da economia fantástico?

quarta-feira

O tapete de boas vindas dos noruegueses

A visitor should depart and not always be in one place.
A friend becomes a nuisance if he stays too long in the house of another.



Isto encontrei eu escrito no chão da estação de comboios no aeroporto de Oslo.

segunda-feira

decisoes... :(

Tenho sobre a mesa uma proposta de trabalho para a Noruega. Já disse que a raca de pessoas que eu alguma vez tive o desgosto de conhecer que mais detestei foi os noruegueses? Como eu uma vez disse a uma chinesa, se ela quiser calor humano é melhor abracar um peixe que um noruegues. Ela riu-se muito, disse que era uma piada muito boa e eu depois de uma piada muito boa estou a pensar, se fosse piada. Uma italiana, imagino que para me confortar ou em piada, lembrou-me que o bacalhau vem da Noruega. Pois, realmente há lá muito peixe.

quarta-feira

Que se lixe a peugada



Nao há respeito pelo silencio. Já todos sabemos disso, pelo menos aqueles que nao vivem em ilhas desertas e até desejam que lhes gritem. Mas está-se muito pior que no meu tempo (o que eu desejei ter idade para comecar a dizer isto). Nao se entende o silencio. Parece que o silencio é a ausencia de barulho feito por seres viventes: o bébé a chorar, o casal a brigar, o vizinho a ressonar, o cao a ladrar, até o galo ou os grilos, por estas orelhas que hao de apodrecer no humus materno, já ouvi pessoas queixarem-se que acordaram com o galo ou que nao conseguiram adormecer com os grilos! Que mundo louco é este em que vivo? Pois aí fui de bilhete de comboio na mao, acomodar-me numa carruagem para dormir, como bem dizia à entrada, para uma boa dormidela até aos Alpes Suicos. Na carruagem tinham escrito confortável, nao um adolescente qualquer, nao, grafiti formalizado e permitido, pelo que me senti confiante e até deslumbrei que aquilo tinha dois andares, olha que fino, dois andares numa carruagem. Pois, meus amig@s, nao deitei nenhuma das sobrancelhas... Descobri como é um secador do cabelo por dentro. Disseram-me que era o ar condicionado e houve grande espanto que eu em vez de me sentir confortável, como seria o óbvio sentir depois de ter lido o exterior da carruagem, me sentisse cansada, até zangada. Muito pior seria estar com os outros, a dormir 4 ou 6 no mesmo compartimento. E eu sonhei acordada com o ressonar de 5 seres humanos, em vez da ventoinha parasitica que se albergava nas paredes da minha carruagem. Há momentos em que nao suporto este mundo. E é por isso, que neste momento de publicação, eu estarei num avião, porque pelo menos é uma tortura menos demorada. Com tanto ar condicionado ainda a peugada é igual.

segunda-feira

Episódio da vida de uma pessoa ensonada: limites

Bem, bem, bem. Estava aqui ensonada quando aparece no umbral da porta um italiano, assim a dar pró bom como o milho. Queria ir à net e se eu tinha o cabo e postou-se de portátil debaixo do braço com a confiança de quem sabe que a probabilidade de recusa é baixa. Acertou. Eu podia ficar aqui uns bons parágrafos a descrevê-lo, mas não tenho palavras que lhe façam juz.

Mas já o expulsei. Ausentei-me por uns momentos e encontrei-o na minha cadeira, ao telemóvel, a brincar com o meu teclado. Há limites e os meus são o meu computador e todos os seus periféricos. Tira a mãozinha.

sexta-feira

simpatias e confissöes III

Durante muito tempo nao se falou. Durante muito tempo acreditou-se que os estrangeiros iriam embora e poderiamos nunca falar, com regras nao faladas, mas compreendidas por todos. Um verniz agradavel de tolerancia colou-se-nos à pele, o que interessava mesmo era que nao falassemos. A tolerancia existia desde que o toleravel permanecesse à distancia. E um dia o toleravel esbofeteou-nos na cara e enquanto estavamos perplexos sem percebermos muito bem o que tinha acontecido, foi-nos dito que o melhor era nao falarmos. O toleravel só é intoleravel porque o nao toleramos como deve ser.

A minha pergunta é só esta: nao é esta a altura de falarmos? Porque neste momento, há os Geert Wilders que falam por nós e um sistema que se vende por uma ideia de tolerancia que nao é a mais justa. Para além da nossa tolerancia ser apenas o nao me chateies, essa tolerancia institucional serve os ideologos fanáticos e nao os comuns cidadaos que querem mais que o privilegio de existir sem chatear.

Seria bom falarmos, a sério. Sem clichés e ilusoes.

P.S.: contava-me um norueguês como a mäe arengava sobre os norte-americanos e o que eles tinham feito aos pobres pretos, mas os sama, esses eram todos uns malandros e ladrões a morar no fundo do fiorde.

p.s.: o teclado norueguês tem acentos! :)

segunda-feira

simpatias e confissões II

Nestes vários dias, andei a pensar naquilo que escrevi antes de ir. Na minha provocação, que foi obviamente consciente, o que eu queria era que vocês me dissessem que eu estava errada. Porque eu estava com simpatias e compreensões que queria atacadas e desterradas. De entre aquilo que mais me ajudou a reformar a minha ideia do problema foi esta entrevista a Jocelyne Cesari.

sábado

simpatias e confissões

Vou andar fora até ao fim do mês, amiguitas. Mas deixo um biscoito à Helena, que anda mesmo passada pelo fato dos partidos de direita terem elegido tanto deputado para o Parlamento Europeu.

E agora, como isto é um blogue, deixo a minha opinião: o que se vê é uma contra-reação a uma cultura de compreensão por comportamentos anti-liberdade, anti-direitos humanos, porque vêm de imigrantes de países que existem como símbolos de vitimas, vitimas da nossa colonização, do nosso imperialismo, sei lá que mais. Temos de os respeitar e compreender. E nos Países Baixos, mata-se e obriga-se pessoas a andar de guarda-costas e pressiona-se para eliminar direitos conquistados a muito custo. Eu confesso que tenho mais compreensão e simpatia por quem votou no partido de Geert Wilders e questiono-me sobre este homem, que precisa de ser corajoso ou insano para levar a vida que ele leva.

E agora desapareço antes que leve com um ovo eletrónico.

quarta-feira

La coisa ins verso

Depois, caro bloguista, de ter caído redondo no chão a dormir depois de ter tentado ler a constituição, de ter morto baratas simplesmente atirando-lhes com o tomo em cima e depois de ter usado metade das folhas para apanhar com as caganetas do coelho que encontrou meio-morto na rua, tentemos novamente ler esse fundamental documento. Em verso...


ARTICLE 60: REPRESENTATION

If a person, if only for an hour at a time, could borrow the bodies of others,
I would borrow yours, my brother, so that you could walk beside a river somewhere.’

* Eva Runefelt
* PART IV - Policies and Action

ARTICLE 74: SECURITY

One cat I got from an abandoned building site. His eye was glued shut, an ear
partly severed and in his fur you could still see the teeth marks of the dogs. He
lived under a cupboard for a week and didn’t sleep, each time I got on my knees
to look for him I’d find him crouching, with a glazed look, I could only tell he
was still alive from the sucking motion of his flanks, a frightened oxygen pump.
Later he would sometimes let you stroke him, if you were very careful he
wouldn’t bite. But one night he jumped onto the bed, a claw slashed into my
eyebrow, blood ran down my nose into my mouth, I dived under a pillow to
dodge the tiger in my house.
Another cat I found in the street, in a porch in the cold rain. She was so small
that she was still full of trust. The first night she already slept in my bed, fell into
such a deep sleep that all the life slid out of her young muscles, I played with her
paws, tail, she became a toy cat filled with sand. At night she didn’t hear
the neighbours’ dogs. That sleep is called: safety.
A friend who is deaf says: he’s got the sweetest tom cat in the world. One night
it jumps onto his head, his stomach, it viciously bites his toes. When he looks up,
bewildered, he sees how, in the dim light, the door handle of the bedroom moves
down, moves down without making any sound.
This is how cats talk to us: about the depths of sleep, the wild flesh of ancient fears.


ARTICLE 55: TIME OF TRANSITION

We live in a time of transition, which our grandchildren
May designate an epoch. We know nothing about ourselves but they
Will classify us as butterflies in History’s specimen cases.
We will be gazing through the glass with our lifeless
Eyes, and our children’s children, the conquerors
Of stars, will be thumbing through family albums. This
Old fashioned elderly gentleman is me, the photograph
Already faded. I’m standing motionless, eyes fixed
On the setting sun. In the top left corner
You can see a shining dot. And that’s precisely why
This old photograph has such significance. That was
The first sign. Then came the others.



ARTICLE 24: THE RIGHT TO LAZINESS

The good gardener prizes the shadow of the apple tree.

sábado

A cruz de ser portuguesa no estrangeiro

A proxima pessoa que me perguntar sobre o Cristiano Ronaldo vai receber o meu afamado olhar de arrogante-pila-grande-mamas-farfalhudas-seu-mentecapto.

P.S.: Isto sem qualquer juizo mau sobre o Cristiano. Mas presumo que o Cristiano ia fazer o seu afamado olhar fodas-mas-wat-the-fuck-dizes-tu-meu-cabrao, se lhe perguntassem sobre a minha pessoa.

P.S.2: E tambem nao sou especialista em peixe!

P.S.3: A piada sobre bigodes... Ah ah ahaaaaa zzzzzzzzzzzzzzzzzz.. Chatinha... Nao dava para inventarem outra?

Se nao sabem: em que dia e' que se vendem mais maquinas de barbear em Portugal? O dia da mae!

A T-shirt: "Nao me estou a cagar e tenho a(s) pila (mamas) grande(s)!"

Imaginemos uma casa muito grande, onde vivem dez pessoas. As dez pessoas decidiram que as tarefas relativas 'a casa nao sao decididas por decreto, por assim dizer, cada um faz de acordo com a necessidade de manter a ordem e a limpeza e no suposto que as dez pessoas sao adultas, conscienciosas, responsaveis. A coisa vai andando, ha' uns mais atinados, uns que so' limpam o seu quarto, outros que fazem, mas so' de vez em quando. Mas os atinados comecam a chatear-se a a queixar-se e a chamar os outros 'a sua obrigacao. E os outros viram-se para os atinados e dizem que nao ha' razao para fazerem nada, afinal a casa ate' esta' limpinha e em ordem! Os atinados acham que nao, que podia estar melhor e que nao tem de ser so' eles a limpar e a organizar e chateiam-se e chamam os outros de lamboes, irresponsaveis e de volta sao chamados de arrogantes e armados! Mas voces atinados pensam, o que? Que tem pilas grandes? Calem, mas e' essas bocas, porque se nao limpamos e' porque nao encontramos a vassoura perfeita, o aspirador mais potente, o pano de po' mais revelador da verdade do mundo e porque esta casa e' so' porcaria e nos temos alergias!

A Rita faz a defesa do "pra que e' que eu hei-de limpar se a casa ate' ta' limpa", em que a casa e' a democracia e prontos estao a seguir a analogia. Eu devo agradecer a Rita que subiu o atinado um degrau na linha intelectual tuga, em que o atinado foi promovido de toto a arrogante. Obrigada, Rita.

segunda-feira

Os que merecem voz

Em vez de carpir os lambões-não-cidadãos-abstencionistas, que deviam receber a indiferença que merecem, deviamos falar dos 4.63% de brancos (164788 cidadãos) e 2% de nulos (71122 cidadãos) que demonstraram com todas as certezas que não se reveêm em nenhum dos partidos. É muita gente, no universo de quem falou, que merece ser atendida.

domingo

O meu plano

Acabei de chegar do consulado. Fui votar. Foi votar? Nao foi? A partir de hoje nao falo mais consigo. A partir de agora quando conhecer alguém pergunto o nome e se vota. Se nao, bem adeus, é óbvio que nao tenho de perder tempo consigo. Que me pode importar um nao-cidadao?

P.S.: É óbvio que faco excepcoes a boas justificacoes.

sexta-feira

Nostalgias programativas

Começo pelo início, João. Começo pela abelha maia. Depois também tenho esta imagem de uma cozinha na penumbra, fechando-se para o calor de Verão que começa a apertar pelas 11 da manhã, o barulho sussurrado de uma casa a tostar e eu a ver os estrumpfes. Também me lembro das janelas abertas e o sol a esparramar-se pelo tapete onde me deito expectante a olhar para uma circunferência com cores e um piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii a debitar enquanto espero que comece a emissão do Sábado de manhã com o sítio do picapau amarelo. Pobres de vós que não esperaram ao sol pelo Sítio do Picapau Amarelo. Ide e chorai. Também me recordo de pular de alegria no sofá pelo começo do Verão Azul.

Mais tarde, apaixonei-me pelo Jeremy Irons e o outro gajo que não se tornou famoso, no Revisitar Bride qualquer coisa e pelo Hari Kumar na Jóia da Coroa (ele aparece nos dois primeiros episódios e no último e eu andei a ver os episódios todos, enfim...). Nesta altura, enquanto me apaixonava por atores, gostava do Dartacão, por razões que completamente me ultrapassam e deviam ser investigadas (eu acho que colocaram droga naquela coisa). Também via o LA Law. E o Poirot e a Miss Marple e o Perry Mason e o programa do Hitchcok em que ele aparece de perfil. Só a música deste programa me fazia pesadelos. Depois ou antes dava a Quinta Dimensão, que via, mas de que não me lembro um único episódio, apesar de os ter visto todos.

Todas as sitcoms que alguma vez deram na televisão? Vi-as todas. Até do Alf gostei.

Richard Attenborough? Nunca gostei mais da natureza fora do meu prato. Mas gostava ainda mais do Herman José a gozar com o Richard Attenborough. Adorava de alma o Herman José e os seus programas. Adorei-o e aos seus programas até ele arranjar um programa de variedades e pintar o cabelo de louro branco.

Agora, ah agora, a inocência do mundo desaparecida, as expectativas desavindas, as ilusões esvanecentes, fico-me cínica de sorriso esgaçado a gostar do Dr. House...

Sim, a sério?

É difícil seguir uma campanha quando as pessoas que campanham não falam muito da Europa. Na nossa estação, o porta-voz do partido socialista [na França] Benoît Hamon disse "Vamos fazer destas eleições um voto de protesto às políticas de Sarkozy". Ele tem todo o direito de dizer isto, de dar esta direção. O problema é que os assuntos europeus ficam fora da campanha. Como podemos então interessar os franceses se os candidatos não se interessam? As pessoas que mais falam dos assuntos europeus são os eurocépticos, na verdade, os eurocépticos com as ideias mais extremas.
Diz Sophie Larmoyer, Chefe da secção de notícias externas da Europe 1.

Devo dizer-vos que cada vez gosto menos de jornalistas. Se eu pudesse votar em jornalistas, abstinha-me. Se algum dia um jornalista me tentar entrevistar, obrigo-o a engolir o gravador. A próxima vez que passar por uma câmara de filmar, dou-lhe um empurrão.

A sério, os jornalistas coitadinhos só podem seguir a manada. Dizem eles, enquanto vão à frente.

Não, a sério. Fui à net ver o programa especial eleições parlamento europeu com a Fátima Ferreira em que ela entrevistou os treze candidatos. Um feito heróico, como ela bem demonstrou no seu ar cansado-ponderoso, pois como é que os treze podem ter tempo para dizer algo de jeito? Não há tempo! Especialmente quando se fazem perguntas como "Devem aumentar os impostos agora?", porque todos sabemos que os deputados europeus irão decidir o aumento dos impostos agora. Também vi um programa de debate DEDICADO ao parlamento europeu moderado por uma jornalista chamada Fernanda Gabriel em que ela pergunta TRÊS vezes a deputados sobre a apresentação de candidatos à presidência da Comissão Europeia pelos partidos (não grupos, partidos, sim, mesmo isso que leram) depois de ter sido informada no programa por dois diferentes deputados, em duas intervenções, que isso não é da responsabilidade dos grupos políticos no parlamento europeu!

Não, agora a sério. Podem os que estão atrás na manada simplesmente passar a ferro os que estão à frente da manada? Obrigada.

Acabando em tom de seriedade: a Helena e outros estão muito preocupados, atemorizados, trespassados porque 4 deputados eurocépticos e anti-imigração dos Países Baixos foram eleitos para o parlamento europeu. Temos de olhar para o lado positivo que está ali nas últimas palavras de Sophie Larmoyer: finalmente vamos ouvir falar da União Europeia.

sexta-feira

se gostas de meter o bedelho na vida dos outros



Vou usar esta canção numa situação completamente fora: resposta ao inferno por que estou a passar no meu escritório em que um colega teima em passar a música alemã da eurovisão. Mais um "kiss kiss bang bang" e eu cometo um ato de violência!

quinta-feira

Levantado processo disciplinar a enfermeiro por reclamar em carta ao Presidente da República!

(...)
Na exposição ao PR, o enfermeiro queixa-se de ter sido transferido compulsivamente do serviço de otorrino para a pneumologia enquanto estava de férias, sem que lhe fosse dada oportunidade para se defender. "Não seria lógico, num quadro de alguma falta disciplinar, a instauração de um processo?", questionou.
(...)
Além do seu caso particular, o enfermeiro refere a existência de "um acumular de situações naquele serviço de extrema gravidade", acusando-o "de ser uma fábrica de números" e de estar instalada "uma concepção autoritária do poder". Pede a Cavaco Silva que "tenha um olhar atento e preocupado". E disponibiliza-se para prestar esclarecimentos.
(...)


Segundo o BE:
Alguns dias depois, esta carta, dirigida ao Sr. Presidente da República, serviu de pretexto para o Conselho de Administração (CA) decidir a abertura de um processo disciplinar contra o referido enfermeiro, tendo em vista o seu despedimento com justa causa, invocando para isso a natureza difamatória da missiva e o carácter ilícito do acto de escrever ao mais alto representante da nação.

Voltando ao i:
(...)
Contactado pelo i, o hospital confirma que a carta a Cavaco Silva é o motivo para ambos os processos, e explica que não está em causa a opinião pessoal do enfermeiro quanto às chefias, mas sim as acusações que faz "pondo em causa o bom nome da unidade no tratamento dos doentes". Sobre as denúncias do enfermeiro na carta, a unidade recusa fazer quaisquer outros comentários.
(...)
O Bloco de Esquerda já levou o caso à Assembleia da República, questionando a ministra da Saúde, Ana Jorge, sobre o assunto na última reunião da comissão parlamentar de saúde. Tendo ficado sem resposta, o deputado João Semedo apresentou um requerimento pedindo à ministra uma posição.
(...)
Questionada pelo i, a Presidência da República responde apenas que "tem por princípio não comentar publicamente a correspondência que recebe". Também o Ministério da Saúde recusou prestar declarações.
(...)

os ênfases nas fontes são meus. sou eu a passar-me

'''''''--------------------------------------------------------------------------------
Atualização no i:

Processo a enfermeiro é "inaceitável", diz Cavaco Silva



´´´´-----------------------------------------------------------------------------------
Nova atualização no i:
A pressão do Palácio de Belém acabou por dar frutos, e a administração do S. João, invocando atender "ao superior interesse público e à consideração que merecem todas as instituições democráticas", decidiu-se pelo arquivamento do processo.

Já comeca a fazer escola escrever "interesse publico" quando se quer justificar merda. Talvez fosse melhor ir fazer formacao em democracia, meus senhores, nao é vergar o pescoco as instituicoes democraticas, é perceber a democracia! Idiotas.

quarta-feira

Os media e o parlamento europeu: uma relacao difícil
ficheiros pdf em ingles, frances e alemao em cima
O título original é um pouco diferente, mas depois de ler as entrevistas penso que este é mais apropriado.

sexta-feira


:fonte:


Harvest of Suicide
, de Vandana Shiva

Excerto:
"De acordo com dados oficiais, mais de 160 mil agricultores suicidaram-se desde 1997 na India. Estes suicídios são mais fequentes nas áreas de cultura de algodão e parecem diretamente ligados à existência de monopólios sobre as sementes. O fornecimento de sementes de algodão na India tem progressivamente passado das mãos de agricultores para as mãos de produtores globais de sementes como a Monsanto. Estas corporações gigantescas começaram a controlar as companhias locais de sementes através de aquisições, criação de consórcios e através de sistemas de licenciamento que conduzem ao monopólio no mercado de sementes.

Quando isto acontece, as sementes passam de um produto comum a serem "propriedade intelectual" das companhias como a Monsanto, e desta forma a corporação pode reclamar proveitos ilimitados através do pagamento de royalties. Para os agricultores isto significa o aprofundamento das suas dívidas.

Para além disso, as sementes passam de um recurso regenerativo e renovável para um recurso não-renovável e uma mercadoria. A escassez de sementes deriva diretamente do monopólio de sementes, que aplicam como arma limite a semente "exterminador" que é criada para ser estéril. Isto significa que os agricultores não podem independentemente renovar o seu stock, mas necessitam de retornar ao monopolista a cada estação de plantio. Para os agricultores isto significa mais custos, para as companhias mais lucro."


tradução minha.

terça-feira

segunda-feira

Permita-me abordar a questão da democracia

Martin Schulz, PSE: “Os que pensam que o Tratado de Lisboa ou a constituição eram menos sociais do que o Tratado de Nice sob o qual estamos hoje, não leram o texto. Para responder claramente, é mais social. Não é o que pretendíamos, mas constitui mesmo assim um progresso. Mas permita-me abordar a questão da democracia. O colega Farage pertence a um grupo que defende a legitimidade do referendo. Isto implica que nos países que tradicionalmente não conhecem o referendo sobre os tratados internacionais, a ratificação parlamentar é menos válida do que um referendo, o que me parece pouco aceitável. Os Estados Unidos são um país que não sabe o que são os referendos e que é mesmo assim democrático. A Alemanha não tem uma tradição referendária. E vou dizer-lhe porque é que, na Alemanha, eu sempre estive contra os referendos. Vejamos o caso do alargamento… (Farage ri) Ouça-me primeiro e depois ri. Imaginemos que na Alemanha, por exemplo, na altura do alargamento, houvesse referendos sobre a Polónia, a República Checa, etc… Não me parece que teria sido uma boa ideia na Alemanha de submeter o alargamento da União Europeia a referendo. E a ratificação do Bundestag e do Bundesrat foi absolutamente democrática.

Para terminar, senhor Farage. Houve quatro referendos sobre a Constituição. Um na Holanda: contra; um em França: contra. Houve mais dois: em Espanha, com 72% a favor, e no Luxemburgo, com 60% a favor. No conjunto dos países que organizaram um referendo houve uma maioria de cidadãos a favor da Constituição. Respeite, o senhor também, a democracia.”

Nigel Farage, Ind/Dem: “O que está a dizer senhor Shultz, as implicações do que está a dizer em relação ao conceito de democracia são verdadeiramente terríveis. Está a dizer que não devemos perguntar aos alemães que opinião têm, que temos que os guiar. É assustador! Nunca me esquecerei que no dia a seguir ao “não” irlandês você disse no parlamento que ‘não nos devemos render ao populismo’ e espero que peça desculpa pelo que disse. É absolutamente… Você é anti-democrático. Você acredita que uma classe dirigente sabe o que é melhor para o cidadão comum. É monstruoso!”

Martin Schulz, PSE: “É uma honra ser tratado de anti-democrático por si. Muito obrigado!”


Antes que pensem que eu posto isto porque partilho as opiniões do Sr. Farage, afirmo já que não. Desculpem, mas não tenho uma alta opinião sobre as capacidades do cidadão comum em não ser manipulado através dos seus preconceitos. Nunca Portugal teria entrado na UE se o tivessem perguntado aos franceses, nunca a Polónia teria entrado na UE se o tivessem perguntado aos alemães. Nunca teria existido UE se o tivessem perguntado aos cidadãos. Alguém imagina o cidadão comum francês a querer juntar-se ao cidadão comum alemão e ao cidadão comum britânico e ao cidadão comum... Portanto, sejamos honestos e ponhamos a UE a referendo e terminemos já com isto. Na Suiça, onde se pergunta muita coisa aos cidadãos, nos anos 90 as mulheres tiveram finalmente o direito de votar em todos os cantões e ainda havia para lá um cantão perdido que não se tinha decidido a tal. Foi preciso o governo central dizer "desculpem lá, mas c'est fini!" Cá para mim, se tivesse sido por referendo, a escravatura ainda era legal. E vocês dizem, que ideia, somos tão civilizados. Li este artigo sobre o Dubai e o que mais impressão me fez foi como os europeus que aí vivem veem e aproveitam-se daquele sistema. Sem pejos ou problemas de consciência. Desculpem, o cidadão comum? O cidadão comum come-te o figado se acha que não és um deles e se ninguém existe que o puna. Se não concordam, exemplifiquem com um daqueles avanços civilizacionais de que gostamos de nos orgulhar que tenha sido promovido por voto popular.

Portanto, eu acho que referendos em que haja a figura dos "outros" não devem existir. Mas concordo com referendos sobre "nós". E não concordo com referendos em que só existe uma resposta possível e em que a resposta impossível não traz consequências. Quem votasse "não" saía e aí já podiamos tirar conclusões sobre a opinião do cidadão comum sobre a UE.

Esta confusão é culpa dos governos que não têm tomates para definir que se não existe aceitação do tratado saem e deixam os outros que aceitam ir no seu caminho, e mais destomatados são os que não arcam com a responsabilidade sem que possam oferecer subsídios ao cidadão comum.

Mas não é por não concordar com Nigel Farage que eu não o ache importante para a democracia:



P.S.: Eu diria que se fazem referendos nos EUA. Só que são ao nível estadual (e muito provavelmente local) e eles referendam tudo o que alguém se lembrar pôr a referendo e que tenha um nr. minimo de assinaturas. Quando estive no Colorado em 2006 estava a referendo, entre outras questões de que já não me lembro, a legalização da marijuana e usar certo dinheiro para comprar autocarros e outros materiais escolares.

P.S.2: snowgaze disse...

na Alemanha não há referendos??? Então e o referendo para decidir se parte das pequenas bibiliotecas municipais espalhadas pela cidade deveriam continuar abertas? E o referendo para decidir se se podiam construir prédios muito altos dentro da cidade? (estes dois em Munique) Não contam como referendos porquê?

11/Mai/2009 13:23:00

domingo

A nova inquisição?

A situação é pior do que eu pensava. Imaginem que um dia no futuro eu serei enviada a tribunal e que os meus postes neste blogue sirvam como a prova do meu ateísmo e eu seja obrigada a escolher entre uma religião e o ateísmo? Tenho que começar a pensar na minha decisão, entre a cobardia e um certo gosto pela ironia histórica. Seja como for, comprovaria a minha suspeita de que o nosso futuro não está situado na linha reta de cada vez mais valores humanistas, mas num círculo.

Sobre as regras - parte II e os ideais - parte I

Na continuação deste meu poste e pegando nos comentários aí escritos do jj.amarante e da Rita Maria,

Na minha relação com a religião com que fui criada passei por várias fases. Acho improvável que sendo quem sou neste momento eu possa retornar a ser religiosa sem ser deixando de ser quem sou. Mas tenho olhado para a religião como uma necessidade humana que importa, na minha percepção, não negar liminarmente por nós ateus. É um equilíbrio muito difícil de conseguir. Mais interessante para mim do que os religiosos, são os ateus e o percurso longo que cada um de nós tem de percorrer e se estou acostumada a ver os ateus que sabem minimamente da religião de que se afastaram, estou agora interessada numa nova casta de ateus, que cresceram assim e que têm que fazer um outro caminho. A minha irmã, que também é uma não crente, resolveu colocar os seus filhos em Aulas de Religião e eu concordei porque me pareceu que caso contrário correriamos o risco de sermos convidados para algum batizado aquando da sua chegada à idade adulta. Mas a minha irmã partiu de um outro pressuposto: o de que para compreender a sociedade em que vivemos precisamos de aprender também sobre a religião que formou a sociedade em que vivemos. Pouco a pouco tenho vindo a concordar com o ponto dela. O relato do Rui Tavares é mais um pormenor nessa ligação subtil entre o hoje secular e o ontem e hoje religiosos, que afeta os ateus.

Quando postei sobre regras estava a pensar naquelas que definem acordos necessários para que todos nós possamos viver em sociedade em harmonia, como decidir que se guia do lado direito. Não estava a pensar em ideais. Estava a pensar neste poste da Fernanda Câncio e nisto:

Há muitos anos atrás, arranjei num Outubro, um trabalho a ganhar o salário minimo nacional da altura. Seis meses depois arranjei outro trabalho a ganhar para aí o dobro e uns meses depois fui já nao me lembro onde candidatar-me ao arrendamento jovem. Havia uma base minima de apoio que era calculada pegando na declaração de IRS e dividindo por 12, o que no meu caso era: tres salarios minimos nacionais dividindo por 12 = mesada de papa e mama. A senhora informou-me que eu assim nao podia candidatar-me. Eu expliquei-lhe que aquilo nao tinha nada a ver com a minha situação e que podia trazer um comprovativo do meu rendimento atual. A senhora disse que nao, que a equaçao era aquela e acabou-se. Já nao me lembro quanto tempo fiquei a gaguejar "mas", mas a senhora lá passou ao ponto dois: como fazer gincana ao sistema. Os olhos sairam-me das órbitas e eu removi-me do antro. Nao quero que pensem que eu sou um anjo, porque nos finalmentes eu fiz a gincana ao sistema. Mas cá está o meu ponto: há a regra que é estúpida e portanto a solução é ser chico-esperto e isto é ensinado pelas pessoas que aplicam as regras. Agora, digam-me onde está a mula. Eu proporia quem fez a regra...



Penso que é necessário discriminar entre os ideais e as regras. Esta foi uma das minhas irritações com a chamada constituição, porque para mim a constituição é uma declaração de ideais e não um aglomerado frankensteiniano de regras e ideais como o que nos foi apresentado. A necessidade de uma constituição europeia clara parece existir quando somos confrontados com as notícias de dislates vários das nossas instituições quando confrontadas com grupos de pessoas imigradas recentemente que intentam em impôr costumes que nos afrontam. É necessário definir em constituição o que é um afrontamento válido, o que são ideais universais, aqueles que devem ser defendidos e impostos a todos neste espaço em que vivemos. Porque é extremamente importante fazermos esta reflexão e esta definição, fico zangada quando se mistura o que é um ideal com o que é uma regra. A homogeneidade populacional anterior parecia não necessitar de tal preciosismo, mas estes são outros tempos, senão ainda em Portugal, noutros países. Misturar regras com ideais é dificultar o raciocínio e termos de ler que o cardeal da igreja britânica acha que é aceitável que um grupo de pessoas por professar uma religião diferente podem sair fora da esfera do direito do estado em que vivem. Como se o estado definisse só um conjunto de regras e portanto que importa que outras pessoas queiram regras diferentes, mas e os direitos fundamentais, senhor cardeal? Outra faceta, é as pessoas menosprezarem um direito fundamental como se fosse uma mera regra, como o direito de liberdade de expressão, que não pode ser colocado em causa por delicadezas de sentimento de um grupo de pessoas. É, do meu ponto de vista, essencial que façamos esta discriminação, para sabermos onde podemos comprometer regras e onde não se pode nunca de forma alguma comprometer ideais.

Finalmente, aproveitando que o poste do Rui Tavares citado pelo jj.amarante foi escrito durante a campanha do referendo sobre o aborto, faço esta pergunta: a lei de despenalização do aborto é um direito ou uma regra?

terça-feira

Declaracao de detesto

Eu detesto o Durao Barroso. Detesto-o desde aquela mentira desnecessária de dizer que nunca nos deixaria porque Portugal estava mal e precisava de estabilidade e pouco depois lá vai o Barroso para a Comissao. E eu pergunto porque? Eu consigo perceber que alguém queira mudar de emprego, mas para que mentir, para que ser mentiroso sem precisao? Mais uma tonelada de detestar porque deixou de presente o Santana Lopes, uma doenca crónica, ainda sem cura à vista. Depois detesto-o porque andou, como primeiro ministro de Portugal, a beijar as galochas do Blair, do Bush e do Aznar. Que ele fosse lá servir de carpete como Durao Barroso, o cidadao, se tal fosse possível sendo primeiro-ministro, ainda vá, mas nao, foi lá representando-nos e eu por proxi estava lá a beijar cus, coisa que ainda hoje me poe capaz de requebros de vómito. Detesto-o platonicamente, que nunca o conheci, mas detesto-o vivamente. Detesto-o com paixao, era capaz de lhe mandar com sapatos, tomates e ovos. Assobiar-lhe, dar-lhe estaladas e faze-lo ouvir a Manuela Moura Guedes cantar até ao fim dos dias. É um parasita, um oportunista, um lambe-botas. Detesto-o.

Fico enjoada quando após eu me indignar com a declaracao vinda do Sócrates, de que o PS apoiará o Durao Barroso a continuar na Comissao, me dizem que concordam, porque afinal o Durao Barroso é portugues. Ser portugues é um limpa-nódoas! Permitam-me muito vivamente discordar. Apaixonadamente discordar. Eu até poria a coisa ao contrário: um portugues para sair de Portugal para uma posicao de relevancia, devia ter um ónus maior em provar que é muito bom, para, no minimo, nao envergonhar os restantes de nós. Eu, ao Durao Barroso, escondia-o na cave.

Comecando um poste sobre regras

Na sociedade portuguesa é suposto nao cumprir as regras. Nao é síndrome do portugues, mesmo que o portugues nao queira ser chico-esperto, o portugues tem de o ser porque as regras estao feitas para isso. Faz-me lembrar uma frase que ouvi em miúda, talvez nao tao miúda, que ficou-me gravada, que era "Portugal tem das melhores leis do mundo." É claro que quando se poe mundo numa frase já se está a errar. Quem pode saber do mundo? Mas imaginemos que é verdade. Melhor como? Nesse dia em que ouvi essa frase e a boca se fez num O (uau, temos as melhores leis do mundo), tirei a conclusao: "a culpa é do portugues, que tendo das melhores leis do mundo, nao as sabe usar". Vinte anos depois a conclusao que eu tiro é outra: "essas leis nao sao para pessoas, nem para a vida que as pessoas fazem, sao para um ideal de pessoas e para um ideal de situacoes que vivem na cabeca de quem faz as leis".

quinta-feira

Que país?

A única coisa que é possível e certo concluir do caso Freeport é que os investigadores públicos nao sao independentes. Respondam-me: porque é que o caso hibernou de 2005 até hoje?

Uma pessoa é inocente até prova em contrário. Eu nao digo isto porque quero defender o Sócrates. Eu digo isto por um país que nao pode ser governado por suspeitas. Por um país em que nao pode ser possível atirar merda para o ar e ganha quem atirar mais merda. Isto nao pode funcionar assim por amor de nós todos, por amor da justica.

Que sistema é este, em que um inocente nunca poderá provar a sua inocencia e um culpado nunca verá a sua culpabilidade provada?

sexta-feira

A desnecessidade

Eu detesto viajar nos dias anteriores a viajar. Se vou de férias arengo-me sobre a desnecessidade de me colocar dentro de caixas-rolantes. E carpo-me em silencio, pelas horas nas bichas e as imagens a passar pela janela e a seca, a imensa seca e sair do outro lado e nao estar lá a minha casa. Ando uma semana a sofrer a viagem e durante a viagem estou tao preparada para o desastre, que tudo me parece espetacularmente bem, ótimo. Do outro lado provavelmente divirto-me terrivelmente e no dia anterior á volta começo a sofrer a necessidade que a viagem passe muito depressa para retornar a casa. A ansiedade é tanta que o sofrimento aumenta com a diminuiçao da distancia e quando finalmente chego... Nada.

quarta-feira

Os media que parece que merecemos

No Diário de Notícias "Massacre no Liceu Columbine comemora 10 anos". Prémio para a frase mais absurda dos últimos tempos.

No Público, hoje é o dia da Terra, pelo que confirmou-se o que eu suspeitava: o Público mudou-se (deve ser o "outsourcing" em reverso) para os EUA.

A Manuela Moura Guedes nao tem só uma cara com piada, também gosta de dizer piadas. A próxima vez que for à cirurgia plástica deve ser para mudar de nariz: daqueles vermelhos e redondos.

P.S.: Isto foi há uns dez anos, lembro-me que era uma Terça-feira, pois o comentador de serviço no telejornal de um canal privado era o Miguel Sousa Tavares (o meu grande ídolo da juventude). A grande notícia da altura, que foi escalpelizada com grave esmero pela Manuela Moura Guedes e a sua equipe foi o rejunevescimento da cara de uma socialite muito famosa, que agora nao me vem o nome à cabeça, mas há-de vir, que ela foi a primeira socialite de que soube o nome e estou aqui a pensar e só sei de mais uma, aquela que tem como primeiro nome o diminutivo de ancinho e o último é Jardim, pelo que a senhora combina roupas e nomes, uma vilha! O Miguelito começou a torcer-se todo enquanto a notícia passava nas suas diversas facetas e quando a Manela lhe pediu um comentário à desrugaçao da tal socialite ele quase teve um AVC! Foi das melhores cenas que eu alguma vez vi na televisao e imaginem, soube tao bem que me lembro hoje como se tivesse sido ontem. Ele recusou-se a fazer o comentário e disse algo que espremido era "tenha vergonha na cara". A Manela chateou-se e respondeu que eles mostravam o que o povo queria. Isto foi há cerca de dez anos. Agora, dos excertos que vejo dos telejornais nas minhas férias, conseguiu-se descer da retrete para o esgoto. E a Manela continua a nao ter espelhos em casa, nem vergonha na cara.

terça-feira

Planos pra minha reforma

Disse ao meu irmao para juntarmos o nosso dinheiro, comprarmos uma quinta e vivermos lá em feliz isolamento. Para minha surpresa ele concordou imediatamente, mas também começamos imediatamente a discordar nos particulares. Eu entrei disparada na decoraçao, nao fosse eu mulher, a descrever muros de 3 metros, arame farpado e caes assassinos. Ele diz que para o isolamento, basta nao haver estrada alcatroada. Homens e a sua passividade...

Porque nao?

Imagino-me com ternura. Serei uma velha saudável, porque imagino-me a matar tempo, nao a ser torturada pelo tempo. Eu e o tempo seremos inimigos, nao pelas rugas que ele me quer dar, mas por indiferença. Faremos de conta que nos ignoramos e quando eu morrer, lá para o fim da minha reforma, ele há-de sentir-me a falta.

quarta-feira

Os meus cheiros favoritos:

Ao sal do mar,
a terra molhada pela chuva de verao,
a erva cortada de fresco,
a giestas,
a morangos,
a graos de café,
à minha escola primária.

Até o cao!

É verdade, confesso, estive a ver isto: a apresentaçao do novo cao da família ?-Obama aos media americanos (agora torço o nariz, espeto-o para cima e suspiro com compenetrada gravidade, no verdadeiro estilo de superioridade europeia). Mas voltemos ao que interessa: o cao. Se repararem no filme, caso se queiram submeter a tal degradaçao de carater, é que o cao é mesmo portugues! Ele anda por ali a farejar meio maluco, como se nao conhecesse quem lhe pega na trela, de cauda esticada como antena de carro, mas basta o Barack Obama lhe tocar com o dedo mindinho e aquela cauda começa a abanar como uma hélice de aviao. Ele sabe bem a quem lamber as botas. Portugues de cauda a focinho.

terça-feira

Tweet ao fim da tarde

Estou muito chateada: roí uma unha até ao sabugo. Au!

Tweet a meio da tarde

Estou muito chateada: acabei de rasgar as calças.

Grrrrrrr

Eu por vezes acordo mal disposta, como é o caso hoje (depois de quatro dias grátis de lazer é difícil retornar ao mesmo ram-ram), e como sou uma pessoa normal, rabujo contra algo, mas como sou esquisita, arranjo temas de rabujo que eu estou consciente serem esquisitos. Hoje vinha pelo caminho (difícil continuar mal-disposta com o prato que a Primavera nos tem dado por aqui, mas eu sou teimosa) a rabujar contra a igreja católica e o papel desta na supressao da mulher durante os tempos, com a breve excepçao de quando o cristianismo começou, um movimento de esperança para todos os oprimidos e que inicialmente foi capaz de aceitar as mulheres. Felizmente, apesar de eu estar para lá da normalidade, os meus pais, segundo o último telefonema, ainda me amam.

quinta-feira

Ficou como eu gosto



Talvez deva pôr uma história nisto. Pois andava eu a deambular numa zona sem particulares atrativos, num dia ameno em que a Primavera começa a despontar (visualizar rebentos na parte superior), quando tirei uma foto. Por falar em Primavera, ela é muito melhor cá cima.