Para o Vaticano, pois, a possibilidade de acabar no mundo inteiro com a criminalização da homossexualidade levaria necessariamente à pressão para a aprovação dos casamentos homossexuais no mundo inteiro. E, portanto, a única forma de impedir que esse horror – a universalização do casamento homossexual – suceda é continuar a perseguir os homossexuais no maior número de países possível.
A primeira brecha na minha religiosidade foi quando soube da Inquisiçao. Visto daqui, os sentimentos que me submergiram na altura só poderiam ter aquela intensidade de terramoto porque era muito nova e muito crédula e muito ingénua. Era adolescente, o mundo era feito de preto e branco e eu nao entendia a possibilidade de me associar a uma instituiçao que perpretou aquilo. A minha mae dizia-me que tinha sido há muitos anos, imensos, as coisas tinham mudado. Apesar de a acreditar, eu nao consegui reaver o antes, como se tivesse comido uma espécie de maça.
Contudo, a minha mae está errada.
segunda-feira
domingo
Professores
Daqui:
Gostei imenso do texto em questão. No universo dos EUA, põe-se em questão o sistema de lá, que baseia a contratação dos professores em virtudes académicas, em vez de no que se passa dentro das salas de aula. O mesmo que em Portugal, que agora introduziu a oportunidade de avaliar os professores. Contudo, para meu espanto, li no jornal que os professores podem escolher se querem ser observados nas classes de aulas (!) e não vão ser consideradas as notas dos alunos (!). Se em termos absolutos é entendível que não se considerem as notas, em termos relativos não se percebe. Tirando o desempenho dentro da sala de aula e os resultados, afinal vai-se avaliar o quê? Pontualidade? O número de fotocópias? A cereja no bolo: os professores vão ser avaliados por colegas da própria escola. Adiante, militante.
Eric Hanushek, um economista em Staford, estima que os alunos de um mau professor aprendem, em média, num ano escolar, o que valeria metade do programa. Os alunos nas classes de um professor excelente aprendem o valor de um programa e meio. A diferença corresponde ao que seria suposto aprender num ano inteiro. Os efeitos dos professores sobre a aprendizagem dos alunos são enormes quando comparados com os efeitos da escola: a sua criança está melhor numa escola "má" com um professor excelente do que numa escola excelente com um mau professor. A qualidade do professor é também mais importante do que o tamanho das turmas. Seria necessário diminuir o tamanho de uma turma média quase em metade para obter os mesmos efeitos de mudar de um professor com um desempenho médio para um professor no percentil 85. Lembrem-se que um bom professor custa o mesmo que um professor médio, mas cortar o tamanho das turmas para metade implica construir o dobro das salas de aula e contratar o dobro dos professores.
(...)
Thomas J. Kane, um economista na Escola de Educação de Harvard, Douglas Staiger, um economista em Dartmouth e Robert Gordon, analista de políticas sociais no Centro para o Progresso Americano [Center for American Progress] investigaram se ajuda ao desempenho de um professor obter a certificação profissional ou um mestrado. Ambos são processos demorados e caros que quase todos os empregadores esperam que os professores obtenham. Nenhum tem qualquer impacto dentro da sala de aula. Elementos que parecem relacionados com a aptidão de ensinar, como o valor das notas, pós-licenciaturas, certificados, parecem tão úteis em avaliar a qualidade de um professor como avaliar o valor de alguém como futebolista observando-o a pontapear uma bola no ar [no texto faz-se uma comparação com o futebol americano, o que não é episódico. Todo o texto é baseado numa comparação entre as dificuldades de contratar os melhores professores com o contratar os melhores "quarterback".]
Gostei imenso do texto em questão. No universo dos EUA, põe-se em questão o sistema de lá, que baseia a contratação dos professores em virtudes académicas, em vez de no que se passa dentro das salas de aula. O mesmo que em Portugal, que agora introduziu a oportunidade de avaliar os professores. Contudo, para meu espanto, li no jornal que os professores podem escolher se querem ser observados nas classes de aulas (!) e não vão ser consideradas as notas dos alunos (!). Se em termos absolutos é entendível que não se considerem as notas, em termos relativos não se percebe. Tirando o desempenho dentro da sala de aula e os resultados, afinal vai-se avaliar o quê? Pontualidade? O número de fotocópias? A cereja no bolo: os professores vão ser avaliados por colegas da própria escola. Adiante, militante.
sábado
Fezada
Continuando...
Estive este dia a tentar lembrar-me do que descobre a dona morte no seu íntimo no livro do Saramago "Intermitencias da Morte", mas nao consigo. Sei que é interessantíssimo, talvez tivesse podido incluí-la neste poste, mas já concluí que quando estiver brevemente em Portugal há uma amiga que visitarei.
Primeiro, ser racional para mim nao significa ser compreensível à luz das fraquezas humanas. A razao supostamente está um pouco acima da emoçao. Para um agnóstico o medo da morte é um desperdício, para um ateísta é ter medo de nada, para um religioso poderá ter fundamento dependendo do tipo de deus que estao à espera do outro lado. Os velhotes que eu conheço sao católicos e supostamente o lado de lá é melhor que este e deus é um tipo porreiro que gosta de perdoar à direita e à esquerda, desde que o pessoal se arrependa. Ou seja, basta nao fazer asneiras, o que sendo eles velhos e já limitados nao deve ser assim um enorme desafio, e focarem-se no arrependimento e está feito. O que eu acho é que este pessoal tem uma fé muito rota.
As pessoas querem viver porque é algo inato. Mesmo quem quer muito morrer tem que lutar enormemente contra essa força do corpo que nao quer morrer nem por nada. O instinto é algo com muita força.
O mundo natural provavelmente nunca nos mostrará tudo o que é. Haverá limites, mas serao os limites humanos. Eu pessoalmente acho o conhecimento do mundo natural a coisinha mais interessante deste mundo. Contudo, se o que eu teria para saber pode estar limitado, tenho a certeza absoluta que a minha paciencia com a espécie humana (incluo-me a mim) nao é de forma alguma ilimitada. Acho que sem morte, o meu destino seria a loucura.
Estive este dia a tentar lembrar-me do que descobre a dona morte no seu íntimo no livro do Saramago "Intermitencias da Morte", mas nao consigo. Sei que é interessantíssimo, talvez tivesse podido incluí-la neste poste, mas já concluí que quando estiver brevemente em Portugal há uma amiga que visitarei.
Primeiro, ser racional para mim nao significa ser compreensível à luz das fraquezas humanas. A razao supostamente está um pouco acima da emoçao. Para um agnóstico o medo da morte é um desperdício, para um ateísta é ter medo de nada, para um religioso poderá ter fundamento dependendo do tipo de deus que estao à espera do outro lado. Os velhotes que eu conheço sao católicos e supostamente o lado de lá é melhor que este e deus é um tipo porreiro que gosta de perdoar à direita e à esquerda, desde que o pessoal se arrependa. Ou seja, basta nao fazer asneiras, o que sendo eles velhos e já limitados nao deve ser assim um enorme desafio, e focarem-se no arrependimento e está feito. O que eu acho é que este pessoal tem uma fé muito rota.
As pessoas querem viver porque é algo inato. Mesmo quem quer muito morrer tem que lutar enormemente contra essa força do corpo que nao quer morrer nem por nada. O instinto é algo com muita força.
O mundo natural provavelmente nunca nos mostrará tudo o que é. Haverá limites, mas serao os limites humanos. Eu pessoalmente acho o conhecimento do mundo natural a coisinha mais interessante deste mundo. Contudo, se o que eu teria para saber pode estar limitado, tenho a certeza absoluta que a minha paciencia com a espécie humana (incluo-me a mim) nao é de forma alguma ilimitada. Acho que sem morte, o meu destino seria a loucura.
sexta-feira
Necessidades
A música que vibra pelo quarto é básica, ridícula se presto atenção à letra, inepta até à lágrima, desavergonhada de incompetente, mas de rabiosque a dar a dar, consegue suprir as necessidades de exuberância, num mundo um pouco cinzento. Para lá do sublime, necessito do medíocre.
quinta-feira
A morte e mais além
Acho interessante esta espécie de Emilie Poulain-ismo acerca da espécie humana. Contudo, eu contraponho que as pessoas não criam, as pessoas recriam. Assim, nao há-de haver ninguém, por mais entusiasta da espécie humana, que nao se chateie em algum ponto da imortalidade. Eu que sou realista e pró cínico, quero morrer (concordo com o irmao naquele texto que deu origem ao meu poste que deu origem àquele poste da snowgaze que está a dar origem a esta resposta, que dizia que o medo da morte é irracional). Contudo, não me importava de ressuscitar daqui a uns tempos para ver o que é que afinal aconteceu no longo filme humano: afinal houve a terceira guerra mundial? afinal bangladesh afogou-se? afinal é só paz e amor entre as naçoes? acabou o racismo? os homens dao á luz? serao todos castanhos e iguais? mad max? deus apareceu?
terça-feira
Liçoes de vida
Os meus pais na sua senda de criação deixaram as crias à sua sorte. Lembro-me dos meus amigos a irem pra casa muito aflitos que tinham de estudar para o teste do dia seguinte senão os pais isto e aquilo, e castigo e sermão e semanada cortada. Eu ficava sozinha, sem perceber porque é que os meus pais não me coagiam a estudar. Ali estava eu sem companheiros de brincadeira e sem castigos, sem sermoes, sem semanadas. Mas deixava a coisa pra lá e ia pra casa ver televisão. Um dia, depois de ouvir relatos sobre prémios de passagem de ano, lambretas e assim, resolvi finalmente impor-me. Eu ali a passar de ano todos os anos, sem lhes chatear a cabeça, nunca, nunca, nunca, onde estava o meu prémio de passagem? Ãh? O meu pai virou-se pra mim depois da minha exposição, que achei briiiiiiiilhante, e perguntou-me "Pra quem estás a trabalhar? Não é pra ti?". Não tive resposta e aprendi ali que o meu pai era menos brutinho do que parecia.
segunda-feira
A posteridade e mais além
O Alexandre III da Macedónia morreu com 32 anos e 11 meses, tendo conquistado o mundo conhecido a leste do seu reino com meio-nome de salada de Verão. Eu? Eu nao consigo ver sangue. Portanto vai ser mais Harvey Milk. Aos quarenta terei que me associar a um grupo injustificadamente odiado e colocar-me em posiçao de ser assassinada (rápido) e ficar mártir de algo. Ahhh, fixe, ainda tenho algum tempo.
sábado
Boa frase
"Imagine life without death," Jules Renard wrote. "Every day you would want to kill yourself."
Imagine a vida sem morte. Todos os dias, cada dia, iria querer-se matar.
ou
Imagine a vida sem morte. Todos os dias o desejo da morte.
Imagine a vida sem morte. A vida seria como aqueles sítios que nunca visitamos porque estão perto e um dia quando houver tempo passamos lá.
Imagine a vida sem morte. Todos os dias, cada dia, iria querer-se matar.
ou
Imagine a vida sem morte. Todos os dias o desejo da morte.
Imagine a vida sem morte. A vida seria como aqueles sítios que nunca visitamos porque estão perto e um dia quando houver tempo passamos lá.
sexta-feira
Inoperancia
Nao, nao vao haver mais adiamentos, tenho, que tenho, dizem-me, de encontrar interesses visiveis, tangiveis, tocáveis, tenho de sair deste mundo abstrato em que vivo. Portantos, assim encostada á parede, visitei o meu quarto e entre todas as coisas tangíveis que nao acabei, deitei-me a sonhar. Isto foi há uns meses.
quarta-feira
Do vidroPara lá
Há uma imagem que recorrentemente me vem á cabeça que é o ato de eu colocar a mao sobre uma janela. Penso que é a minha maneira de assinalar aquele sentimento inultrapassável de estar desligada do resto do mundo. De haver uma barreira que sinto amiga e inimiga conforme os dias, mas a maior parte dos dias é uma alegoria para o meu sentir da minha vida em relaçao á vida dos outros e vice-versa. Quando na minha família tiram conclusoes sobre mim, sempre senti uma mistura de desapontamento e contentamento quando eles erram na minha própria ideia de mim e coro de humilhaçao e contentamento quando me apanham corretamente. Raramente componho ou reafirmo e fico chateada comigo quando caio nessa esparrela de me explicar. É como uma experiencia que deixo a correr a ver de que forma a imagem que têm de mim se afasta da minha imagem de mim. Enquanto isso tento descobrir a verdadeira eu, que está algures e nos momentos de maior frustraçao penso se nao estarei além, para lá do vidro.
terça-feira
I am Cabrao, Muito Cabrao
Das vezes que tentei ver filmes bond desisti por aborrecimento. Uma vez consegui atingir o fim da meta porque estava com o meu cunhado a achar as partes idiotas. A segunda vez, estava sozinha, mas pensei que a Halle Berry me conseguisse levar a bom porto, mas nao, nem a Halle Berry. Agora desisti. Aceito a minha incapacidade. Assim, o que eu sei do James Bond é do que ouço. Sobre o último filme, sei que o James Bond agora é um mole. Imaginem que gosta de mulheres, mas gosta mesmo, nao é só sexo! Meu Deus, ao que o mundo chegou! Eu concordei que é horrível fazerem um personagem frio de carisma ficar mole. Eu que passei horas a ver o Dexter e agora cheguei ao segundo segmento nao consigo ver mais, porque nao consigo aceitar a ideia de que talvez o Dexter possa ter sentimentos. Ele ainda nao mostrou sentimentos, mas só essa possibilidade me deixa o sangue frio. O choque seria demasiado para mim. Nao consigo, nao consigo, nao consigo. O Dexter é um monstro. Se o transformarem num ser-humano nao há mais Dexter e eu nao consigo ver o Dexter morrer. Pelo que entendo o meu amigo. O James Bond é um cabrao. Se deixar de ser cabrao, deixa de ser James Bond. Acabou. O fim de uma era, de um tempo, de um herói. O fim.
segunda-feira
A minha imagem pública: alienada
Extracto de conversa:
Alguém: Ainda tens aquela coisa branca no olho perto da iris. Ainda nao foste ao oftalmologista?
Eu: Nao. Eu ainda consigo ver, por isso... Mas se calhar devia ir, que quando estava de férias choraram-me os olhos várias vezes.
Alguém: Nao era a poluiçao?
Eu: Sim. Mas outras vezes penso que nao. Era outra coisa.
Alguém: Nao estarias triste?
Alguém: Ainda tens aquela coisa branca no olho perto da iris. Ainda nao foste ao oftalmologista?
Eu: Nao. Eu ainda consigo ver, por isso... Mas se calhar devia ir, que quando estava de férias choraram-me os olhos várias vezes.
Alguém: Nao era a poluiçao?
Eu: Sim. Mas outras vezes penso que nao. Era outra coisa.
Alguém: Nao estarias triste?
sábado
Téééééédio
Estou entediadérrima. Acabei de fazer um caldeirão de musse de chocolate (branco e preto) e estou a pensar ir comprar os ingredientes para fazer natas do céu. Ou me lembro de algo melhor que me apeteça fazer ou nos próximos dias vou engordar amigos, visitantes, colegas e companheiros de casa como porcos. Graças a deus, estou de dieta.
terça-feira
??
Segundo o que as pessoas me vao dizendo, parece que é mau ter preconceitos. O que eu nao entendo é como as pessoas decidem onde ir de férias sem preconceitos.
segunda-feira
Arte e sociologia
Enquadramento jornalístico: The project immersion
By halfway through 2009, Cooper thinks he will have enough material to mount the first exhibition. 'Unreality is interesting,' he says. 'As a photojournalist, you're meant to look at moments of extreme emotion. It seemed to me, after a while of doing that… that is unreal as well. As Baudrillard said, the proliferation of images means we live in an increasingly unreal, mediated world. It's a challenge to try and capture that because you have to start dealing with the medium itself.'
A página do artista: Immersion blog
quarta-feira
O primeiro suspiro do retorno
Ah, Helena,
a India não tem muitas vacas ou muitas moscas ou muitas melgas, a India tem muitos bigodes, demasiados bigodes, uma profunda tristeza estética.
a India não tem muitas vacas ou muitas moscas ou muitas melgas, a India tem muitos bigodes, demasiados bigodes, uma profunda tristeza estética.
terça-feira
I am too idiot for my shirt
Agora o Obama ganhou a presidência dos EUA e os americanos parece que estão na vanguarda. Num país em que um solteiro ou homossexual ou ateísta tem mínimas chances de ser eleito, eles estão na vanguarda porque elegeram alguém que é castanho, numa terra em que que eu saiba há gente castanha há uns milénios. Ok, vou tentar não me rir. Mas aqui vem a minha notícia: eles já estavam na vanguarda, por há oito anos terem eleito um idiota. O resto do mundo agradece encarecidamente que os idiotas se tenham decidido pelo castanho com miolos. Ainda que tenha sido preciso confundir-lhes a caixa craniana com um desastre económico.
segunda-feira
ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Sabe bem caminhar pelas ruas cinzentas com o meu tocador nos ouvidos e o frio a acariciar-me a cara, a sentir-me em casa. Quase parece que fui de férias para me assegurar que vivo no sítio certo. Depois de me empaturrar de croissants e café, de ir à sauna e tapar o furo na bicicleta, talvez me passe pela cabeça contar algo sobre onde andei. Por agora estou a gozar a possibilidade do silêncio e de estar só. Sem necessidades de tampões para os ouvidos ou meditações.
sábado
quinta-feira
Nada para fazer
Estou aqui a secar e lembrei-me de um jogo que fiz ontem na net e que agora nao acho. Aquilo é americano e é um conjunto de fotos que vao aparecendo no ecran. Se a pessoa na foto tem uma arma na mao carrega-se numa tecla, se tiver uma carteira ou um telemóvel ou uma lata, carrega-se noutra tecla. As pessoas ou sao pretas ou sao brancas. Consoante os erros e o tempo que demoramos a carregar as teclas é-se medido o racismo latente. Antes do teste nao me é perguntada a raça (sou branco), pelo que fiquei na dúvida, mas parece que os pretos tem o mesmo racismo que os brancos, concluindo-se assim que o racismo é cultural. Nao interessa a cor da minha pele, eu vou sempre achar que branco é que é. Foi assim que compreendi a premissa. Joguei o jogo e dos resultados que eles mostram (os tempos quando preto-arma-mau, preto-bom, branco-arma-mau, branco-bom) concluí que mato mais depressa um branco que um preto, mas demoro mais tempo a acreditar que um preto possa ter uma carteira ou um telemóvel. Ou seja, nao há conclusoes definitivas da minha boa pessoalidade.
segunda-feira
domingo
Indignação monstruosa
Estava num jantar; ponham juntos um grupo de falantes de línguas românicas e o único momento em que estaremos todos unanimemente interessados na conversa, será quando compararmos as nossas línguas-mães. Agora que já nos conhecemos há mais de quatro anos, somos como gente caquética, repetindo as mesmas histórias, mas estamos felizes. Mas por vezes há histórias novas: uma italiana esteve em Portugal e vinha com as histórias pitorescas da atitude corta-garganta da língua portuguesa. Imaginem que "A Bela e o Monstro" é noutras realidades "A Bela e a Besta". Eu estava incapaz de ver como ser uma besta é melhor que ser um monstro, mas parece que uma besta não perde a possibilidade de ser giro, um príncipe, uma carinha laroca. Eu tenho sobrinhos e cumpri a obrigação familiar de os aturar; nas alturas em que queria descansar e os punha a ver filmes no vídeo, "A Bela e o Monstro" era uma das chupetas visuais. O tipo era um monstro e esta é uma das bases da história: que a princesa amou o eu interior, que era bom, pelo que o tipo não podia ser uma besta! Chamá-lo uma besta para que possa ser bonito, é uma desfiguração da moral da história. Dizer "A Bela e a Besta" é inaceitável.
sábado
Grandes dissenções clássicas
A posição de um grego relativamente ao banho de água quente revelava imenso sobre os seus valores e um dos mais longos debates na história da higiene íntima centra-se nos méritos da água fria versus água quente. O historiador oitocentista Edward Gibbon estava convencido que uma das principais razões para o enfraquecimento e a queda de Roma foi os seus banhos quentes. Os homens vitorianos, influenciados pelos estudos da Grécia clássica, acreditavam que o Império Britânico estava fundado no revigorante banho frio matutino. É um preconceito que ainda vive hoje na expressão alemã Warmduscher para adjetivar um homem falho na sua masculinidade. Platão iria simpatizar com esta expressão, ele que reserva n'As Leis os banhos quentes para os velhos e os doentes. Contudo, apesar de Platão, os gregos jovens e saudáveis habituaram-se aos banhos quentes nas termas, se não mesmo nos ginásios.
"The dirt on clean: an unsanitized history" de Katherine Ashenburg, North Point Press, 2007, pág. 25. Tradução minha.
"The dirt on clean: an unsanitized history" de Katherine Ashenburg, North Point Press, 2007, pág. 25. Tradução minha.
quinta-feira
Campanha agnóstica na Inglaterra
Provavelmente deus não existe. Agora pára de te preocupar e goza a vida.
Reacção:
Perhaps I’m simply not aware of the argumentative power of urban transit, but I find bus ads particularly unlikely to be compelling on matters of such importance. Is it really likely that some nice believer taking a walk, to brunch perhaps, or the park, will see the BHA ads lumbering by, with its grimy city smell and its noisy engine racket, and suddenly think: "Oh dear, oh dear. All that fluffy stuff about heaven is probably nonsense, isn’t it?" Whoosh! The bus roars by and the person’s faith disintegrates in a cloud of engine exhaust.
Talvez eu não esteja bem a ver o poder argumentativo do tráfego urbano, mas eu acho os anúncios, e particularmente aqueles em autocarros, desprovidos de apelo em assuntos de tal importância. Qual é a probabilidade de um simpático crente a descer a rua no seu caminho para o café ou para o jardim, ver o anúncio da Associação Humanista Britânica a passar, envolvido no cheiro sujo da cidade e no barulho do trânsito, e subitamente pensar: "Ai a minha vida! Toda aquela história melada sobre o paraíso é provavelmente um disparate!" Vrummm! O autocarro passa num ronco e a fé da pessoa desintegra-se numa nuvem de fumo de escape.
Ha ha ha ha ha
Os anglo-saxónicos são os mais engraçados a dissentir.
Não me parece que o objetivo do anúncio seja a conversão, mas acho piada imaginar o "Oh dear, Oh dear", estilo Miss Marple.
quarta-feira
Na cadeia
A Helena incluiu-me numa cadeia. Pensei em não reagir, porque 15 é muito trabalho. Eu visito 15 blogues, mas não sei se quero incluir aqueles blogues que realmente gosto, com aqueles que é um pouco como visitar as putas.
Blogues? Seja eu verdadeira, eu já ando há tanto tempo nisto, que metade dos quinze não é os blogues, mas um caso pessoal.
É óbvio para a Helena que a incluo a ela, porque se fossemos vizinhas num prédio, estariamos sempre na conversa nas escadas. E se eu não a encontrasse um dia, estaria a bater-lhe à porta e muito infeliz porque ela tinha ido de férias e não me tinha dito nada. Snif, snif.
A outra amiga é a Sabine. A diferença com a Helena é que usa óculos e só fala de coisas sérias. E eu sou, na maior parte dos dias, muito superficial. Assim, quando me encontro com ela nas escadas, ela está muito preocupada com as condições no Darfur e eu preocupada que começou a chover e tenho de apanhar as cuecas da corda.
Depois há o João, a quem gosto de moer a alma. Ele vive no apartamento abaixo do meu e eu vou atirando coisas pela janela que lhe caem na varanda.
Depois há o José, que se queixa imenso, trata da horta e tem cães e sempre que o vou visitar, ele tem de ir caminhar os cães à rua.
Depois há o Luís, mas ele é demasiado estranho... Ele nem se desculpa com os cães. "Desculpa abrunho, tenho de me passear à rua." Estranho, muito estranho.
Portantos, estes são os que vivem no meu prédio. Depois aquele a quem atiro pedras à janela é o jb, que retornou e que ainda não lhe tinha dito como me apraz encontrá-lo na esplanada, sentar-me na mesa ao teu lado e ficar a deitar o ouvido à tua mesa e educar-me nos gregos e em música clássica e os celtas e como estes se riram com o tamanho do Alexandre, o grande. Que faria eu sem a tua erudição clássica? Antes de te conhecer, eu pensava que grego era um estado de confusão cerebral com o que não entendemos.
Seguidamente, aqueles que vivem nas redondezas e que eu persigo, porque tenho paixões assolapadas por eles. Um é o maradona. Prontos, confessei. Envergonha-me profundamente e eu sei que tenho que ir ao médico. Depois a Palmira e a Câncio. Houve alturas em que duvidei da minha heterossexualidade com estas duas.
Depois, aqueles blogues que visito só pelo conteúdo... Deixa ver, faltam seis...
Hum, hmmmmmmm.....
Há o blogo existo, porque tenho esperanças que algum dia compreenda alguma economia e eu ainda nem sei se o blogue é sobre isso.
Depois há o terceira noite e os livros ardem mal, porque gosto de ouvir falar de livros e isso.
Faltam quatro...
O pente fino pela comédia.
Depois há o Andrew Sullivan, pela comédia e má língua.
O mundo perfeito, porque quero aprender a em dez anos não ser tão amarga.
E o arquiteto de barriga, porque parece um bom blogue.
Blogues? Seja eu verdadeira, eu já ando há tanto tempo nisto, que metade dos quinze não é os blogues, mas um caso pessoal.
É óbvio para a Helena que a incluo a ela, porque se fossemos vizinhas num prédio, estariamos sempre na conversa nas escadas. E se eu não a encontrasse um dia, estaria a bater-lhe à porta e muito infeliz porque ela tinha ido de férias e não me tinha dito nada. Snif, snif.
A outra amiga é a Sabine. A diferença com a Helena é que usa óculos e só fala de coisas sérias. E eu sou, na maior parte dos dias, muito superficial. Assim, quando me encontro com ela nas escadas, ela está muito preocupada com as condições no Darfur e eu preocupada que começou a chover e tenho de apanhar as cuecas da corda.
Depois há o João, a quem gosto de moer a alma. Ele vive no apartamento abaixo do meu e eu vou atirando coisas pela janela que lhe caem na varanda.
Depois há o José, que se queixa imenso, trata da horta e tem cães e sempre que o vou visitar, ele tem de ir caminhar os cães à rua.
Depois há o Luís, mas ele é demasiado estranho... Ele nem se desculpa com os cães. "Desculpa abrunho, tenho de me passear à rua." Estranho, muito estranho.
Portantos, estes são os que vivem no meu prédio. Depois aquele a quem atiro pedras à janela é o jb, que retornou e que ainda não lhe tinha dito como me apraz encontrá-lo na esplanada, sentar-me na mesa ao teu lado e ficar a deitar o ouvido à tua mesa e educar-me nos gregos e em música clássica e os celtas e como estes se riram com o tamanho do Alexandre, o grande. Que faria eu sem a tua erudição clássica? Antes de te conhecer, eu pensava que grego era um estado de confusão cerebral com o que não entendemos.
Seguidamente, aqueles que vivem nas redondezas e que eu persigo, porque tenho paixões assolapadas por eles. Um é o maradona. Prontos, confessei. Envergonha-me profundamente e eu sei que tenho que ir ao médico. Depois a Palmira e a Câncio. Houve alturas em que duvidei da minha heterossexualidade com estas duas.
Depois, aqueles blogues que visito só pelo conteúdo... Deixa ver, faltam seis...
Hum, hmmmmmmm.....
Há o blogo existo, porque tenho esperanças que algum dia compreenda alguma economia e eu ainda nem sei se o blogue é sobre isso.
Depois há o terceira noite e os livros ardem mal, porque gosto de ouvir falar de livros e isso.
Faltam quatro...
O pente fino pela comédia.
Depois há o Andrew Sullivan, pela comédia e má língua.
O mundo perfeito, porque quero aprender a em dez anos não ser tão amarga.
E o arquiteto de barriga, porque parece um bom blogue.
segunda-feira
Jogar o jogo
O jogo da sedução tão parvo. Alguém se lembra do que se falou ou bebeu? Lembram-se os movimentos, como se caminhou, como a mão rodou pelo ar antes de estatelar-se a meio caminho do objectivo, lembram-se os olhares evitados por pouco, os sorrisos e os risos complicados de modular. O jogo da sedução é uma dança que finge ouvir a música.
sábado
Vao-se catar
Há característisticas muito humanas e que nos foram e ainda podem ser muito úteis, que se usadas em demasia podem ser maléficas. Como tudo, o sal, a companhia da mae, os beijos cheios de bactérias. Estou a falar da tendencia que temos para encontrar o modelo de tudo e comparar e viver tudo relativo a esse modelo. Gaja, duas tetas e uma vagina. Vida de gaja, um casamento e putos ranhosos. Gajo, um pénis. Vida de gajo, brincar com o pénis. Isto é um problema, porque nem a gaja, nem o gajo sao só isto. Eu sei que simplifiquei neste poste e sei que ninguém percebeu a profunda profundeza do que quero dizer e no entanto, apesar disso me chatear, chatear-me-ia mais, chatear-me com a vossa educaçao.
quinta-feira
Os homossexuais deviam ganhar o prémio nobel da paz
Lembram-se desta fotografia? Ou da história, daquelas histórias que se pensa só podem ser inventadas por bons comediantes. Mas não, foi verdade, passou-se. Cabeças vindas de três religiões monoteístas juntaram-se todos em Jerusalém em 2005 para se pronunciarem contra a procissão flamejante que os homossexuais planeavam na cidade. Depois levantaram-se, cumprimentaram-se e desapareceram nas suas igrejas, templos, mesquitas e sinagogas para continuarem o discurso da desunião. Mas naquele momento histórico, os homossexuais uniram o que deus nunca uniu.
Continuando, que a minha vida meteu-se de permeio a este poste.
O que aconteceu foi um milagre. Um milagre sao fenómenos raros e incríveis. Era de toda a justiça que os homossexuais fossem honrados com ouro e mirra, que as medalhas olímpicas de ouro todas desde o início dos tempos lhes fossem dadas, mais o Mónaco e Andorra e títulos de sir expeddidos da Inglaterra. Mas quando dao a oportunidade a este pessoal de se pronunciar o que é que eles pedem: queremos casar pelo cívil e queremos criar crianças. O que? Como? Diga lá outra vez. Estao doidos? Uma pessoa começa a pensar que haverá algo mais que nos escapou e começamos a olhar para o namorado e os putos ranhosos na mesa do lado na esplanada com outros olhos. Mas nao. Por mais que se olhe, a ideia de pensar em fazer um contrato duradouro com o namorado começa a tornar o namorado muito pouco atrativo e depois de uma tarde a tentar ter uma conversa com uma amiga enquanto servimos de paraquedas ás suas crias, chega-se a casa derreado e pensa-se: aquele pessoal é doido! Mas no computo final é simplesmente a roda da história no seu movimento lento: pessoal que faz milagres é doido e passa muitos maus bocados ás maos das figuras governantes. Mas já acabamos com a cruz, certo?
Proibido assumir
Eu sou como a Sarah Palin: from a small town with small town values. Nessa aldeia com valores de aldeia existe tolerância por comportamentos, como dizem, fraturantes. Mas há um limite e esse limite é, como dizer, pavonear esses comportamentos. Um padre pode, na maior, ter filhos, mas chama-lhes afilhados, um homem pode bater na mulher, mas tem ser dentro de casa (este é a fratura literal), um homem pode ter uma amante, mas não pode andar com ela à frente da esposa, um homem pode dormir no trabalho, mas não pode ressonar (piadinha), um como dizem, paneleiro pode ser paneleiro, mas não pode apresentar-se paneleiro com outro paneleiro. Dos inúmeros comentários que eu leio e ouço, eu concluí que a mentalidade da aldeia é algo generalizado e de uma forma, que podem considerar perniciosa, é-me divertido ver esses valores com que cresci, serem expressos por pessoas educadas, como a Maria José Nogueira Pinto dizer que a gente já tolera os homossexuais. Sim, claro que sim, há centenas de anos, na lei de que não o assumes. Aí já é intolerável.
quarta-feira
Respeito, tolerância
Numa sociedade multicultural temos que aprender a viver juntos e a definir o que devemos/podemos ou não tolerar. Julgo que este é o maior desafio no nosso futuro, numa Europa que mostra reacções indesejáveis à imigração. Na Áustria, 29% dos votos nas últimas eleições foram em partidos da extrema-direita. Os opiniadores dizem-nos que não tem a ver com as ideias debitadas pelos seus líderes, mas porque os partidos moderados demonstram incapacidade de governar. Uma questão de votar nos que não estão a governar. Mas a Áustria com as leis mais duras na Europa em imigração e asilo e uma amnésia gritante relativamente ao seu passado nazi põe-me a duvidar.
Enquanto na Áustria se foca na expulsão e limitação férrea da imigração, na Alemanha resolveu-se exigir um pouco mais dos imigrados. Ultrapassada a ideia de que os imigrantes que tinham sido convidados a trabalhar vinham mesmo só de visita, resolve-se agora exigir conhecimentos mínimos de alemão a alguns dos novos imigrantes e agora há testes sobre a cultura alemã para obter a cidadania alemã. As vozes discordantes dizem que está-se a exigir a quem vem o que quem está não sabe. Muitos alemães não sabem falar bom alemão, dizem-me colegas alemães, e não sabem as respostas de muitas das perguntas no teste. Eu posso discutir o teor das perguntas. Mas a ideia do teste agrada-me se assinalar aos estudantes da nova cidadania que aqui há uma maneira de ver o mundo que deve ser respeitada por quem vem e se tal não for possível, por favor não venha viver neste país.
Só que isto do respeito é um bicho de mais que uma cabeça e não nos afeta só em termos de imigração. Porque o que enfrentamos é um mundo em que teremos de tolerar o que não respeitamos. E teremos de definir bem o que é extremamente importante que todos respeitemos e o que teremos de tolerar e o que simplesmente é intolerável e impossível de ser respeitado. Quando falamos de novas regras, deveriamos ter isto em mente. Só que isto implica pensar em nós, nas nossas sociedades e definir já, pensar já, o que fica em cada compartimento e entendermo-nos entre nós sobre estes assuntos antes de os querermos ensinar aos imigrantes.
Abordando o casamento de homossexuais, que andou a rodar de novo pelos blogues e que enlameou outra vez o PS, partido que tem feito muito empenho em se borrar, e não digo isto só porque votou contra, mas porque fazem aqueles malabarismos discursantes e impõem regras de voto na assembleia que me chateiam pessoalmente. O meu gosto pessoal é que me fodam pela frente. Numa estratégia de arrastão trouxe-se para a discussão a poligamia. Isto para mim é muito interessante porque permitir casamentos poligamos faz-me repulsões. Imagino que seja este tipo de reacção primária que submerge quem argumenta contra o casamento de homossexuais. Do que tenho lido, as argumentações são reviravoltas mais ou menos inteligentes que usam a estratégia do foder por trás, quando o que realmente interessa é que as pessoas sentem uma repulsão primária pela ideia de que os homossexuais, que fazem coisas que todos nós fazemos, mas entre pessoas que conhecem intimamente o terreno inimigo, possam ser aceites às claras. Porque não andem às voltas do elefante na sala, que o busílis é este: as pessoas sabem que se os homossexuais casarem, eles estão a obter a carta de respeito. A Maria José Nogueira Pinto disse uma vez, a gente já os tolera. Eu pessoalmente tenho outra ideia de tolerância, que não a de não perseguir ativamente as pessoas. A tolerância seria mesmo deixar casar os homossexuais, mesmo que não respeite o fato deles terem mau gosto (esta do mau gosto é do maradona, outubro de 2008), porque o eles casarem não põe em questão nenhum fundamento cívico das nossas sociedades. Dizem-nos que põe em questão o casamento, mas esta asserção só seria aceitável se pusesse na prática em questão o casamento de outros. Isto, depois de muitas linhas lidas, não me foi demonstrado.
Olhando para mim e as minhas capacidades de tolerância e respeito, eu diria que me prepararei para discutir a questão de permitir por lei a poligamia. Ainda que sinta que neste caso não é somente uma questão de tolerar mau gosto. Eu sei que nunca respeitarei a prática da poligamia, mas pode ser que o possa tolerar, se me convencerem que com a poligamia não se fragilizam os direitos humanos na nossa sociedade, algo que cairia no compartimento do intolerável. Eu penso que o caminho seria este, o de hierarquizar o que é intolerável, tolerável, respeitável, compreendê-lo, ensiná-lo e só assim poderemos viver todos juntos e com as melhores oportunidades de sermos todos juntos felizes.
Enquanto na Áustria se foca na expulsão e limitação férrea da imigração, na Alemanha resolveu-se exigir um pouco mais dos imigrados. Ultrapassada a ideia de que os imigrantes que tinham sido convidados a trabalhar vinham mesmo só de visita, resolve-se agora exigir conhecimentos mínimos de alemão a alguns dos novos imigrantes e agora há testes sobre a cultura alemã para obter a cidadania alemã. As vozes discordantes dizem que está-se a exigir a quem vem o que quem está não sabe. Muitos alemães não sabem falar bom alemão, dizem-me colegas alemães, e não sabem as respostas de muitas das perguntas no teste. Eu posso discutir o teor das perguntas. Mas a ideia do teste agrada-me se assinalar aos estudantes da nova cidadania que aqui há uma maneira de ver o mundo que deve ser respeitada por quem vem e se tal não for possível, por favor não venha viver neste país.
Só que isto do respeito é um bicho de mais que uma cabeça e não nos afeta só em termos de imigração. Porque o que enfrentamos é um mundo em que teremos de tolerar o que não respeitamos. E teremos de definir bem o que é extremamente importante que todos respeitemos e o que teremos de tolerar e o que simplesmente é intolerável e impossível de ser respeitado. Quando falamos de novas regras, deveriamos ter isto em mente. Só que isto implica pensar em nós, nas nossas sociedades e definir já, pensar já, o que fica em cada compartimento e entendermo-nos entre nós sobre estes assuntos antes de os querermos ensinar aos imigrantes.
Abordando o casamento de homossexuais, que andou a rodar de novo pelos blogues e que enlameou outra vez o PS, partido que tem feito muito empenho em se borrar, e não digo isto só porque votou contra, mas porque fazem aqueles malabarismos discursantes e impõem regras de voto na assembleia que me chateiam pessoalmente. O meu gosto pessoal é que me fodam pela frente. Numa estratégia de arrastão trouxe-se para a discussão a poligamia. Isto para mim é muito interessante porque permitir casamentos poligamos faz-me repulsões. Imagino que seja este tipo de reacção primária que submerge quem argumenta contra o casamento de homossexuais. Do que tenho lido, as argumentações são reviravoltas mais ou menos inteligentes que usam a estratégia do foder por trás, quando o que realmente interessa é que as pessoas sentem uma repulsão primária pela ideia de que os homossexuais, que fazem coisas que todos nós fazemos, mas entre pessoas que conhecem intimamente o terreno inimigo, possam ser aceites às claras. Porque não andem às voltas do elefante na sala, que o busílis é este: as pessoas sabem que se os homossexuais casarem, eles estão a obter a carta de respeito. A Maria José Nogueira Pinto disse uma vez, a gente já os tolera. Eu pessoalmente tenho outra ideia de tolerância, que não a de não perseguir ativamente as pessoas. A tolerância seria mesmo deixar casar os homossexuais, mesmo que não respeite o fato deles terem mau gosto (esta do mau gosto é do maradona, outubro de 2008), porque o eles casarem não põe em questão nenhum fundamento cívico das nossas sociedades. Dizem-nos que põe em questão o casamento, mas esta asserção só seria aceitável se pusesse na prática em questão o casamento de outros. Isto, depois de muitas linhas lidas, não me foi demonstrado.
Olhando para mim e as minhas capacidades de tolerância e respeito, eu diria que me prepararei para discutir a questão de permitir por lei a poligamia. Ainda que sinta que neste caso não é somente uma questão de tolerar mau gosto. Eu sei que nunca respeitarei a prática da poligamia, mas pode ser que o possa tolerar, se me convencerem que com a poligamia não se fragilizam os direitos humanos na nossa sociedade, algo que cairia no compartimento do intolerável. Eu penso que o caminho seria este, o de hierarquizar o que é intolerável, tolerável, respeitável, compreendê-lo, ensiná-lo e só assim poderemos viver todos juntos e com as melhores oportunidades de sermos todos juntos felizes.
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imigração,
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domingo
Fausto na Ar´bia
Tive pena do McCain neste vídeo. Não sei se ele sentiu, mas eu senti que ele sentiu o peso de Fausto. McCain quer ser presidente dos EUA e sabe que esta seria a sua última oportunidade. Baseado na sua experiência passada resolveu vender a alma à máquina republicana que vende votos a pessoas que não quereriamos nem a viver na aldeia mais próxima, quanto mais como vizinhos. Agora, talvez tenha sentido peso na consciência, mas é tarde demais.
Noutro apontamento, há racismos que andam escondidos e neste momento da história espera-se isso e o grande espanto é quando alguém é racista às claras. Mas eu não estava habituada a pessoas serem racistas às claras e ninguém dar conta. O Obama é apelidado de árabe e o McCain faz a antítese com ser-se uma pessoa decente! E é o mesmo noutros programas que vi hoje que roçaram isto, em que ninguém, ninguém, repito, ninguém exprimiu o, para mim, óbvio. Imagino que isto do preconceito vai por partes. Ou vai e volta, consoante as guerras.
sábado
O segredo da felicidade
Enquanto estive na Inglaterra fui lendo um livro do Bill Bryson sobre a Inglaterra. A maior parte do livro era seca, porque era sobre terriolas onde nunca fui e as piadas do Bill Bryson já não conseguem substituir o interesse. Acontece-me muito, encontrar um autor de cujo estilo gosto, ler meia dúzia de livros e a partir daí ver-me a não conseguir mais ler esse mesmo autor. Ficam como períodos, o período Isabel Allende, o período Paulo Coelho, o período Saramago, o período Camilo Castelo Branco e está oficial que o período Bill Bryson já era.
O que me interessava, como pedacinhos de chocolate numa bolacha, era quando ele escrevia sobre o temperamento dos ingleses. Ele falava da forma espartana com que eles olham para a vida, pontuada de prazeres, que sendo pequenos são vividos como grandes nesse fundo de miniminalismo. Bill Bryson fazia a antítese com a forma de ver americana (ele é americano) onde a abundância e o hedonismo são tidos como adquiridos. Bill Bryson que vive já há um bom tempo na Inglaterra dizia que desde que começou a olhar para a vida como os ingleses, tornou-se mais feliz. Lembra-me agora a lição do porquê das drogas duras serem perigosas, não só em termos de saúde, mas porque destroem no nosso cérebro a capacidade de sentir os pequenos prazeres, ao massacrar os recetores com quantidades enormes dos químicos que os espoletam.
Eu diria que a moral deste poste é que o segredo da felicidade está na temperança e nela preservar a capacidade de sentir os pequenos prazeres.
O que me interessava, como pedacinhos de chocolate numa bolacha, era quando ele escrevia sobre o temperamento dos ingleses. Ele falava da forma espartana com que eles olham para a vida, pontuada de prazeres, que sendo pequenos são vividos como grandes nesse fundo de miniminalismo. Bill Bryson fazia a antítese com a forma de ver americana (ele é americano) onde a abundância e o hedonismo são tidos como adquiridos. Bill Bryson que vive já há um bom tempo na Inglaterra dizia que desde que começou a olhar para a vida como os ingleses, tornou-se mais feliz. Lembra-me agora a lição do porquê das drogas duras serem perigosas, não só em termos de saúde, mas porque destroem no nosso cérebro a capacidade de sentir os pequenos prazeres, ao massacrar os recetores com quantidades enormes dos químicos que os espoletam.
Eu diria que a moral deste poste é que o segredo da felicidade está na temperança e nela preservar a capacidade de sentir os pequenos prazeres.
sexta-feira
De molho
No meu caso é só mesmo vírus. O ser pobre tem a vantagem de olhar para esta crise nos bancos como de longe. Eu sempre achei a economia e a finança incompreensíveis e agora só me parece que eu não era a única ignorante. Eu sempre me apoiei no meu único saber nesta matéria: gastas só o que tens. Sinto-me muito sábia com esta crise.
quarta-feira
A ressacar
Estou ressacada de viagem. Sempre que faço uma viagem de avião há uma sessão no tribunal da minha consciência onde sou obrigada a provar a necessidade absoluta de ter imposto ao meu corpo as horríveis posições, as horas de espera, a sensação de vaquice que me submete no aeroporto onde cordas limitam os movimentos da manada, que é tocada, prescrutada, conduzida a manjedouras duty free, vai pastando nas alcatifas esperando o momento de ser conduzida ao pequeno espaço onde felizmente sou suficientemente pequena para caber, onde a maior felicidade que poderia haver era trazerem-nos comida em caixinhas e em talheres pequeninos e em copinhos, pelo que podemos fazer de conta que tornamos a ter cinco anos e estamos a brincar ao chá das cinco com o puto do vizinho, mesmo antes de irmos atirar lama a uma casa a fazer de conta que somos construtores civis. Mas agora nem esse pequeno momento temos. Agora é só o desconforto e se formos na Ryanair podemos ter o surpreendente desprazer de ao tentarmos dormitar um pouco, sermos acordados com publicidade em duas línguas. Li num jornal que antigamente viajar era uma excitaçao. Acho que me lembro vagamente, por entre as dores de costas.
sexta-feira
Vou à aventura
Vou pra um país onde bichos selvagens nos esperam em cantos inesperados e onde se morre da comida. Posso não voltar. Gostei muito de estar convosco. Inté.
quarta-feira
segunda-feira
Fidelidades
Neste domínio de nos perguntarem fidelidades e abstractos sentimentos pela tribo, como o húngaro a perguntar-me o que é ser europeu, um dia, há uns anos, perguntaram-me se eu, como portuguesa, me sentia mais próxima dos brasileiros ou dos outros habitantes dos outros países na Uniao Europeia. Isto provocou-me uma mistura de convulsoes na amigdala cerebral, que me impediu de responder por largo tempo, o que deu tempo a que o frontal tenha conseguido alinhar uma resposta brilhante, portanto improvável de ser original. Eu respondi que os brasileiros é como os irmaos, a gente nao os escolhe, tem que os aturar, vivemos às bicadas, mas no fundo gostamo-nos e há peculiaridades que partilhamos porque crescemos irmaos. Os outros países europeus sao os amigos que escolhemos para partilhar coisas, a vida, as conversas, os sentires, as contas, as férias, as idas ao cinema, a casa, as bebedeiras, e etc e tal.
sábado
quinta-feira
quarta-feira
Como lidar com os problemas
terça-feira
Os deserdados
Li que agora isto de ser emigrante para o Estado português poderá vir a ser ainda mais parlapuê. Isto de limitar as possibilidades de voto, só consigo pensar nos EUA, para as pessoas que cometeram crimes. Para os portugueses vai bastar sair do país!
Eu sempre pensei no ato de votar como a expressão da minha cidadania. Juro, eu sou mesmo assim com ideias esquisitóides. Em adolescente, quando era ainda mais esquisitóide, ao completar dezoito anos, fiz duas coisas: registei-me como eleitor e fui dar sangue. Foram as duas ações que para mim assinalavam a minha maioridade. E como era esquisitóide, senti-me orgulhosa. Como agora sou esquisitóide, mas também cínica, o que o PS fez tem no meu caso a praticalidade de que agora quando me perguntarem a minha nacionalidade não direi portuguesa. Digo, cresci como portuguesa, tal como digo pra religião, cresci católica (tal como cresci PS). Ou entao digo que sou cidadã do mundo (passo a ser esquisitóide armada) e quando tiver que escrever em qualquer lado, escreverei "portadora de passaporte português". Assim, pra não me chatear muito na burocracia. De resto, retribuo ao PS o sentimento: estou-me positivamente a cagar pra suas excelências.
Eu sempre pensei no ato de votar como a expressão da minha cidadania. Juro, eu sou mesmo assim com ideias esquisitóides. Em adolescente, quando era ainda mais esquisitóide, ao completar dezoito anos, fiz duas coisas: registei-me como eleitor e fui dar sangue. Foram as duas ações que para mim assinalavam a minha maioridade. E como era esquisitóide, senti-me orgulhosa. Como agora sou esquisitóide, mas também cínica, o que o PS fez tem no meu caso a praticalidade de que agora quando me perguntarem a minha nacionalidade não direi portuguesa. Digo, cresci como portuguesa, tal como digo pra religião, cresci católica (tal como cresci PS). Ou entao digo que sou cidadã do mundo (passo a ser esquisitóide armada) e quando tiver que escrever em qualquer lado, escreverei "portadora de passaporte português". Assim, pra não me chatear muito na burocracia. De resto, retribuo ao PS o sentimento: estou-me positivamente a cagar pra suas excelências.
sexta-feira
terça-feira
Desvantagens globalizantes
Desabituei-me de toques. Em Maio quando estive em Portugal, estava a conversar com alguém que me agarrou no braço e o ia apertando em intermitencia leve enquanto conversavamos. Conversavamos nao é correto, enquanto ele falava, pois eu estava completamente concentrada naqueles apertinhos desconfortáveis. Na Alemanha, quando eles decidem que sao meus amigos, a coisa é ainda mais cruel. Na Alemanha dao-se abraços e estes implicam uma superfície enorme de corpo em contato direto. Além disso, eu sou baixa, pelo que geralmente um abraço sou eu perdida algures, com um braço no ar a pedir salvamento. Por vezes consigo despistá-los: quando começo a cheirar despedidas, insiro na conversa elogios á falta de toques na Alemanha. Naquele casamento multinacional a que fui, foi um pesadelo. No ajuntamento de costumes, houve uma decisao implicita a que eu nao juntei a surda voz, que por defeito era a desbunda. Até os suecos resolveram que deviam imitar o resto e começaram aos beijos e abraços. Eu bem guinchava que comigo nao era preciso, que vivo na Alemanha, mas parecia que a minha falta de louridade os fazia pensar que eu dizia aquilo por dizer. Comecei a atirar com passo-bens para todos os lados, tentando escapar da guerra de pretensos afectos, mas tirando um homem com 2 metros de altura, cujo movimento descendente ao meu baixo nível foi extremamente fácil de evitar, perdi em toda a linha. É algo que me assusta: a globalizaçao do toque social.
sábado
sexta-feira
O esbanjamento de fontes
A Sabine enviou-me uma ligaçao para uma noticia, que eu ainda agora estou a gargalhar.
Sao 4 parágrafos, QUATRO! É uma notícia minuscula, mas consegue nomear seis instituiçoes:
1) o banco de portugal
2) a Imprensa Nacional da Casa da Moeda
3) a Direccao geral do tesouro
4) o Ministério das Financas
5) a Federaçao Portuguesa de Futebol
6) o Banco Portugues de negocios.
Portanto, a notícia diz que:
o 2 fez moedas, que o 4 comprou/recebeu/herdou(?) e deu ao 5, que fez lucro. Além disso, o 6 comprou moedas ao 2 (penso). Agora, o 6 tem moedas a mais que quer devolver. O 2 e o 3 nao aceitam devoluçoes, mas parece que o 1 vai recebe-las do 6 e pagar de acordo.
Parece que isto é um escandalo. Mas é demasiado para a minha cabeça. É como um filme do Poirot: um morto e 12 suspeitos.
Sao 4 parágrafos, QUATRO! É uma notícia minuscula, mas consegue nomear seis instituiçoes:
1) o banco de portugal
2) a Imprensa Nacional da Casa da Moeda
3) a Direccao geral do tesouro
4) o Ministério das Financas
5) a Federaçao Portuguesa de Futebol
6) o Banco Portugues de negocios.
Portanto, a notícia diz que:
o 2 fez moedas, que o 4 comprou/recebeu/herdou(?) e deu ao 5, que fez lucro. Além disso, o 6 comprou moedas ao 2 (penso). Agora, o 6 tem moedas a mais que quer devolver. O 2 e o 3 nao aceitam devoluçoes, mas parece que o 1 vai recebe-las do 6 e pagar de acordo.
Parece que isto é um escandalo. Mas é demasiado para a minha cabeça. É como um filme do Poirot: um morto e 12 suspeitos.
quarta-feira
domingo
Democracia e mexeriquice
Há uns meses, eu li um rascunho para um livro que descarreguei da página pessoal de Simon Hix. O rascunho desapareceu porque o livro foi publicado com o nome "What's Wrong With the European Union and How to Fix It". Isto é mau para mim, porque perdi o rascunho e de vez em quando apetece-me reler certas partes. É bom para o Hix e para a justeza dos seus direitos, que me vai fazer comprar o livro.
Ele defende que uma das necessidades para democratizar a Uniao Europeia é haver eleiçoes no espaço europeu. Para isto, é preciso que os eleitores se interessem por candidatos que nao sao da sua nacionalidade. Agora eu adoraria poder citar o excerto, mas uma das formas que ele apontava para isto seria os media reportarem as tricas políticas além-fronteiras. O que é que ele quereria dizer por tricas políticas? Alguns deputados alemaes viajarem até S. Francisco onde se comportaram mais como turistas de que como representantes dos interesses alemaes, ainda por cima usando os funcionários da embaixada como lacaios (caso real)? O Sarkozy a pavonear-se para as objetivas dos media com a sua nova esposa (caso real)? Na altura, indignei-me com este excerto, porque o interpretei na segunda linha. Pareceu-me irresponsável, que se defenda mais democracia, com mais mexeriquice. Como é que se pode aliar o ideal da democracia com os menores instintos do ser humano?
Mas vejam bem o que roda pela imprensa europeia e pelos blogues portugueses com a novela da atual campanha política nos EUA. É mais mexeriquice e maus instintos que uma discussao válida de temas. Mas vejam o interesse generalizado por esta campanha em que quase nenhum europeu pode votar. Por muito que me custe, o Simon Hix tem razao.
Ele defende que uma das necessidades para democratizar a Uniao Europeia é haver eleiçoes no espaço europeu. Para isto, é preciso que os eleitores se interessem por candidatos que nao sao da sua nacionalidade. Agora eu adoraria poder citar o excerto, mas uma das formas que ele apontava para isto seria os media reportarem as tricas políticas além-fronteiras. O que é que ele quereria dizer por tricas políticas? Alguns deputados alemaes viajarem até S. Francisco onde se comportaram mais como turistas de que como representantes dos interesses alemaes, ainda por cima usando os funcionários da embaixada como lacaios (caso real)? O Sarkozy a pavonear-se para as objetivas dos media com a sua nova esposa (caso real)? Na altura, indignei-me com este excerto, porque o interpretei na segunda linha. Pareceu-me irresponsável, que se defenda mais democracia, com mais mexeriquice. Como é que se pode aliar o ideal da democracia com os menores instintos do ser humano?
Mas vejam bem o que roda pela imprensa europeia e pelos blogues portugueses com a novela da atual campanha política nos EUA. É mais mexeriquice e maus instintos que uma discussao válida de temas. Mas vejam o interesse generalizado por esta campanha em que quase nenhum europeu pode votar. Por muito que me custe, o Simon Hix tem razao.
quinta-feira
Armados
Chateia-me imenso a campanha presidencial nos EUA. Sem entrar na campanha em si, mas, para lá de que me quero manter minimamente informada, o nível de artigos nos media e blogues sobre isto está de tal forma, que eu comecei a fazer gincana. Nos artigos, as grandes QUESTOES sao:
Obama é preto demais?
Obama é magro demais?
McCain é velho demais?
McCain é rico demais?
Obama é elitista demais?
Obama é popular demais?
Obama é esperto demais?
McCain é matreiro demais?
Palin e o filho e a filha e o rebento?
Biden é palavroso demais?
Os americanos sao parvos demais?
Quanto é que eu (o tipo a escrever, nao eu!) amo Obama?
Sabem o que isto me lembra? Aqueles armados em intelectuais que se deleitam sobre filmes de qualidade duvidosa, mas que tem imenso sexo. Uma forma de ver pornografia e fazer de conta que é arte.
Aqui, nao se comentam as novelas, mas comenta-se a novela além-mar e faz-se de conta que se comenta política. Enfim...
Obama é preto demais?
Obama é magro demais?
McCain é velho demais?
McCain é rico demais?
Obama é elitista demais?
Obama é popular demais?
Obama é esperto demais?
McCain é matreiro demais?
Palin e o filho e a filha e o rebento?
Biden é palavroso demais?
Os americanos sao parvos demais?
Quanto é que eu (o tipo a escrever, nao eu!) amo Obama?
Sabem o que isto me lembra? Aqueles armados em intelectuais que se deleitam sobre filmes de qualidade duvidosa, mas que tem imenso sexo. Uma forma de ver pornografia e fazer de conta que é arte.
Aqui, nao se comentam as novelas, mas comenta-se a novela além-mar e faz-se de conta que se comenta política. Enfim...
terça-feira
A Sabine também
A Sabine é a agente secreta 00-Mafalda. Quando era pequena e destruia os livros dos meus irmaos, porque, perdoem-me, nunca fui precoce e nao me apercebi o que era dar valor ao que mais se gosta e muito menos a concepçao de respeitar o que é dos outros, entre os quais se contavam os livros do Quino com a minha heroína e com o meu alter-ego (ah, Filipe quanto sonhamos juntos), nunca me passou pela cabeça que a Mafalda me iria dar bola... :)
segunda-feira
domingo
Amizades inquebráveis
Tenho um amigo e uma amizade que parecem nao fazer mais qualquer sentido. Tornei-me amiga de uma pessoa que foi morta por aquele que agora se diz meu amigo. Decidiu progredir na vida, passar de maluco a responsável pai de família. A normalidade da vida seria termos divergido para mundos apartados e eu diria a alguém quando visse o seu nome, conheci este tipo. No entanto, encontramo-nos de vez em quando, num mundo demasiadamente pequeno e conversamos entre comboios e avioes e despedimo-nos num abraço apertado em que sempre me pergunto, sentiste alguma coisa? Pergunto-me que peça eu sou no seu mundo organizado. No meu mundo despenteado, ele é uma garrafa que atiro ao mar e que o mar atira de volta e assim outra vez até nao sei quando.
sexta-feira
Churrasco ao frio
O húngaro perguntou-me o que é ser europeu. É complicado, tanto como explicar o que é sentir-me portuguesa. E no entanto, sinto-me portuguesa e sinto-me europeia. A forma mais fácil é eu pensar que o meu mundo encolhia e eu ficava reduzida a Portugal. Fica-se zonzo com a falta de horizontes. Ser europeu é talvez o chamar Alemanha lar e casa, com a mesma desenvoltura com que se diz adeus e se faz casa no país ali ao lado. Ou mesmo que o nao façamos, que o podemos fazer. É falar com um francês de decisoes em comum, eles, nós, há algo que queremos construir juntos, ou nao. O húngaro diz que nao é a favor da UE e pergunta-me o que é democracia. A democracia, digo-lhe, é somente a ilusao do poder ao povo, mas uma ilusao necessária. Seria a mesma coisa pôr bolinhas com os nomes dos partidos ou políticos numa tombola. O que interessa é mudar as cabeças. Nao há democracia na UE, ninguém pergunta nada ao povo, diz ele. Eu digo-lhe que se alguém tivesse perguntado ao povo nao havia UE. Será isto um paradoxo?
quarta-feira
De volta a casa
Oi people.
Estive uns dias no sul de França para um casamento. Muito multinacional. Os amigos do meu amigo são tão benetton que eu fiquei a pensar estar num zoo e na minha jaula dizia homo lusitanus. Sou um golfinho amestrado e andei a atuar portuguesa. Se o turismo aumentar no habitat no próximo ano, fui eu.
Estive uns dias no sul de França para um casamento. Muito multinacional. Os amigos do meu amigo são tão benetton que eu fiquei a pensar estar num zoo e na minha jaula dizia homo lusitanus. Sou um golfinho amestrado e andei a atuar portuguesa. Se o turismo aumentar no habitat no próximo ano, fui eu.
em agosto
No meio de uma conversa com o meu irmão, enquanto ele se queixava do Agosto e do trabalho que é esse mês com os imigrantes e eu a queixar-me dos matreiros dos filandeses, que me enganaram em 365 Euros e uns trocos, e ele surpreendido com os escandinavos serem desonestos e eu a dizer que aqui pra cima é muita fama, mas pelo menos lá embaixo roubam-nos com um sorriso de lata, com aqueles gajos ali de cima é como se nos estivessem a arrancar um dente à socapa, o meu irmão perguntou-me porque é que o mar é salgado. Ficou muito surpreendido quando lhe respondi. Não queria acreditar que eu sabia e dito assim, na minha maneira tão profissional. Finalmente, ganhei-lhe algum respeito.
Agora como é que eu lido com finlandeses? Com alemães a receita é, desde que eu esteja para fazer fitas: levo um amigo alemão que faz o papel do homem equilibrado e quando eles começam com desculpas, entro eu, esbracejo, atiro-lhes com lógica, começo a passar-me no meio da loja, pergunto-lhes se pareço estúpida, rodo os olhos com o que eu espero parece desprezo, e eles cagam-se de medo ou de vergonha, ainda não entendi. É claro que tens de ter a razão do teu lado, senão o melhor é fazer de imigrante perdida com grandes olhos assustados e rezar. Mas como raio é que são os finlandeses? Estes parece que cairam no caldeirão de botox em pequenos.
Agora como é que eu lido com finlandeses? Com alemães a receita é, desde que eu esteja para fazer fitas: levo um amigo alemão que faz o papel do homem equilibrado e quando eles começam com desculpas, entro eu, esbracejo, atiro-lhes com lógica, começo a passar-me no meio da loja, pergunto-lhes se pareço estúpida, rodo os olhos com o que eu espero parece desprezo, e eles cagam-se de medo ou de vergonha, ainda não entendi. É claro que tens de ter a razão do teu lado, senão o melhor é fazer de imigrante perdida com grandes olhos assustados e rezar. Mas como raio é que são os finlandeses? Estes parece que cairam no caldeirão de botox em pequenos.
segunda-feira
O aspirador humano
Agora que o estado da Geórgia e seus apêndices de acontecimento estão naquele banho-maria conspirativo e a única coisa que me custa, para além do Putin (desconfio que porque já não falo português e só penso em português, digo o nome do homem puta à francês, e não sou capaz de dobrar a língua e dizer-lhe o nome de outra forma) é o Saskalichivia ainda ser presidente do país, ainda que tenha demonstrado a sua estupidez com expoente elevado. Nem uma manifestação, o que corrobora a minha baixa opinião das massas.
Mas como ia principiar a dizer, agora tive tempo para me dar conta das olímpiadas (mais ou menos, os alemães comentavam as medalhas, mas eu ignorei-os dizendo que há coisas mais importantes no mundo). Os fatos dos ginastas, que costumam ser uma dor de olhos, continuam a ser uma dor de olhos, havendo um pouquinho de alívio, assim parecido ao champoo a entrar nos olhos, nos fatos dos chineses. Por falar em chineses, esses seres perfeitos que vão percebendo a beleza visual associado às olímpiadas, deviam expulsar os corredores alemães, que destroem a harmonia de alturas. Tudo ali num montinho perfeito, se ignorarmos as estacas pálidas. Tentei ver o Usain Jamaicano ganhar os 100 metros, mas distrai-me sempre com o cu espichado doutro corredor, coisa que aliás me acontece sempre nesta modalidade. Alguém estudou a prevalência de cus espichados nos corredores masculinos de velocidade? É impressionante. Os quenianos são magros demais e ainda não vi gajo nenhum realmente bom. Estas olímpiadas foram até agora uma estopada.
A única coisa realmente interessante foi saber que o Michael Phelps come 12 000 calorias por dia. É todo um mundo de questões que se abre. Como é que ele arranja tempo para comer? O treinador manda com os frangos assados para a piscina? Só come Haagen Dasz (o que influi dentro de mim muito ódio e inveja)? É um aspirador com forma humana e pés de peixe (viram-lhes os pés? ele deve ter decidido ser nadador, porque assim podia usar os únicos sapatos que lhe servem: as pranchas de surfe.)? Opá, agora que já não há combates à porta da europa, posso retornar às minhas más piadas. Aaaaaaaaaaaaaaaahhhh
Mas como ia principiar a dizer, agora tive tempo para me dar conta das olímpiadas (mais ou menos, os alemães comentavam as medalhas, mas eu ignorei-os dizendo que há coisas mais importantes no mundo). Os fatos dos ginastas, que costumam ser uma dor de olhos, continuam a ser uma dor de olhos, havendo um pouquinho de alívio, assim parecido ao champoo a entrar nos olhos, nos fatos dos chineses. Por falar em chineses, esses seres perfeitos que vão percebendo a beleza visual associado às olímpiadas, deviam expulsar os corredores alemães, que destroem a harmonia de alturas. Tudo ali num montinho perfeito, se ignorarmos as estacas pálidas. Tentei ver o Usain Jamaicano ganhar os 100 metros, mas distrai-me sempre com o cu espichado doutro corredor, coisa que aliás me acontece sempre nesta modalidade. Alguém estudou a prevalência de cus espichados nos corredores masculinos de velocidade? É impressionante. Os quenianos são magros demais e ainda não vi gajo nenhum realmente bom. Estas olímpiadas foram até agora uma estopada.
A única coisa realmente interessante foi saber que o Michael Phelps come 12 000 calorias por dia. É todo um mundo de questões que se abre. Como é que ele arranja tempo para comer? O treinador manda com os frangos assados para a piscina? Só come Haagen Dasz (o que influi dentro de mim muito ódio e inveja)? É um aspirador com forma humana e pés de peixe (viram-lhes os pés? ele deve ter decidido ser nadador, porque assim podia usar os únicos sapatos que lhe servem: as pranchas de surfe.)? Opá, agora que já não há combates à porta da europa, posso retornar às minhas más piadas. Aaaaaaaaaaaaaaaahhhh
quinta-feira
terça-feira
domingo
O meu contributo
Eu trabalho num daqueles sítios com gente de todo o lado. Um dos cuidados que tenho é não ser muito simpática com os recém-chegados, porque, para além de ser contra os meus princípios, pode resultar no síndrome do cão a perseguir-me até casa. Mas, num dia com sol, lá descambei para a minha simpatia contagiosa (porra para os meus genes) e tenho uma siberiana a perseguir-me com o seu sorriso envergonhado. Se não fosse o facto dela ser russa e não americana, pelo que é provável que o seu sorriso não seja falso, não me sentiria tão mal com a rasteira que eu amanhã lhe vou passar.
sexta-feira
O que se come
Uma galeria de fotos no Time, de famílias á volta do mundo e o que elas costumam comer. Eu cá ia para o Egito e fugia da Polónia. A casa dos butaneses é a mais bonita, talvez nao confortável, mas extremamente artistica.
A família Ahmed do Cairo, Egito.
A família Ahmed do Cairo, Egito.
quarta-feira
O pau para toda a culpa
Será que as mulheres estão num sistema igualitário com os homens? Eu penso que não. As mulheres têm que fazer escolhas que os homens não têm e têm que ouvir coisas que eles não têm. Resolvem não ter família e têm de ouvir que são más mulheres; resolvem ter família e trabalhar e tentam ser super-mulheres, já que a real partilha de tarefas em casa é ainda fraca, não o conseguem e têm de ouvir que são más mães; resolvem, se puderem, ficar em casa e têm de ouvir que não trabalham. Os homens não são obrigados a estas escolhas e não têm de ouvir que são a causa de poucas e infelizes crianças. É como as histórias biblícas: a mulher tem sempre a culpa, seja porque é muito esperta, seja porque é muito estúpida. Ou seja, são gerações e gerações a queimar bruxas e chegamos a este século e ainda somos queimadas, não literalmente (pelo menos por estas bandas), mas na opinião pública. Se bem percebo, pelo menos quando se fala de casamento para os homossexuais, a família é muito querida. Se por família querem dizer uma mulher a tomar conta de um homem e crianças, consigo então perceber porque é que os homossexuais não podem constituir-se em famílias. Porque na verdade, uma família é uma mulher e quem ela tem de tomar conta.
segunda-feira
O futuro dos velhos e dos novos
Querida Sabine,
mandaste-me há uns tempos uma ligação que me não convenceu. Infelizmente o título foi mal escolhido. Cria expectativas que não cumpre. Diz que é sobre cenários e tendências para os próximos 20 anos, contudo quando se lê é sobre hoje. Aquilo são os pontos das preocupações e dos medos atuais refletidos e magnificados no amanhã.
Por exemplo, relativamente ao envelhecimento da sociedade europeia tem a dizer isto:
"Problemas: No Ocidente, pressão sobre as populações mais velhas consideradas como um fardo.
Custos de saúde aumentados."
Isto é muito pouco.
Primeiro: um dos pontos que não aparece na ligação que me mandaste e que me parece uma falta de palmatória, é que com a desagregação da família alargada, a sociedade está demograficamente estratificada. Os adolescentes andam com adolescentes, os vintões com os vintões, os trintões com os trintões, etc. e não há grande mistura geracional. Cada estrato acha-se o rei do seu domínio e cada estrato vive na ilusão que sabe tudo o que há para saber. Isto, para além de ridículo, é o motor de muito do que acontecerá no futuro.
Segundo: a discussão é de uma riqueza que colocá-la em dois pontinhos é confrangedor. Na Alemanha, o sistema de pensões é realmente um "welfare state"*. Além disso, a geriatria nao vem de uma ditadura que os manteve analfabetos, pelo que na Alemanha não se fala só na faceta dos coitadinhos dos velhos, mas da gerontocracia. Porque não sendo analfabetos, há a possibilidade que estas pessoas se unam para lutar pelos seus interesses. Neste caso, podem tomar a democracia. Portanto, a maioria depende de um sistema que é alimentado pela minoria. Este sistema é controlado pelo governo, que está na mão da maioria e aqui estamos noutra parte da discussão em que os coitadinhos são os novos, sugados pelos avós. Mas será que isto irá acontecer? Têm ou terão os velhos a noção de grupo? Isto é que é uma pergunta interessante para um cenário de futuro do envelhecimento. Atualmente, na Alemanha, os sindicatos de trabalhadores são populados pela gerontocracia, que têm mais tempo nas mãos e ideias que, pelos nossos olhos, os novos, estão ultrapassadas e são economicamente contraprodutivas.
Nos EUA, um estudo (de um tipo chamado J.W. Button, que vi num livro que referencio mais abaixo) mostrou que em zonas eleitorais com mais idosos (que, além disso, votam em maior número percentual, que os mais novos) há menor apoio a políticas sociais pró-educação. Mas este é um estudo. Outros mostram outros fatores com maior importância nos apoios do eleitorado ao financiamento educativo: o sexo do eleitor (as mulheres são mais pró-educação), o nível de educação (mais letrado, mais pronto a apoiar a educação), o estatuto social, a cor política.
Terceiro: os velhos de amanhã são os novos de hoje. Portanto, que tipo de velhos seremos nós? Um dos cenários que vejo expectáveis para o futuro é que trabalharemos até cairmos para o lado. Isto significa que seremos um peso a considerar no local de trabalho e poderemos contrabalançar o ageísmo atual. É um cenário.
Em novita, convivi muito mais com pessoas muito mais velhas que eu, do que com os meus pares (achava-os parvalhões), pelo que sou incapaz de ver os velhos como coitadinhos. Também sou incapaz de me ver a mim no futuro como uma coitadinha. Ficaria extremamente desapontada se como velha, não serei mais que um peso no sistema de saúde. O que me traz ao último ponto: num mundo em que morrer já não é um processo natural, a decisão de morrer deverá estar cada vez mais na mão do vivo. Contudo, a morte deverá continuar a ser fundamental no âmbito psicossocial, caso contrário, a sociedade que criaremos será um sítio muito frio. Definir as guias para isto vai ser muito difícil, mas uma das grandes discussões dos próximos 20 anos.
Há um livro, infelizmente em alemão, sobre o futuro do envelhecimento. É uma compilação de textos de estudiosos alemães. Como o meu alemão é um tadinho, tenho extremas dificuldades em absorver o que aquele livro diz, mas para quem quer saber sobre esta problemática e sabe alemão, é um livro que aconselho. Talvez daqui a uns tempos seja traduzido. É o "Die Zukunft des Alterns: Die Antwort der Wissenschaft" (O futuro do envelhecimento: a resposta da ciência), editado por Peter Gruss.
*Em Portugal, o sistema de pensões é um esforço insuficiente: poucos pensionistas podem viver com o dinheiro que recebem (no melhor dos casos, sobrevivem). Os que se salvam são os que têm outros meios de aumentar o rendimento e ainda têm apoio familiar. Além disso, penso que em Portugal há outra tolerância à pobreza. Afinal, eles sempre foram pobres e a vida foi uma luta. Portanto, tudo o que vem a mais é bem-vindo e não posto para lamentações (para lá da linha de base lamentativa de um português médio). Os alemães são mais assertivos no que lhes é devido. Os portugueses novos resumem o seu papel nos problemas sociais do seu futuro envelhecimento em dois míseros pontos.
mandaste-me há uns tempos uma ligação que me não convenceu. Infelizmente o título foi mal escolhido. Cria expectativas que não cumpre. Diz que é sobre cenários e tendências para os próximos 20 anos, contudo quando se lê é sobre hoje. Aquilo são os pontos das preocupações e dos medos atuais refletidos e magnificados no amanhã.
Por exemplo, relativamente ao envelhecimento da sociedade europeia tem a dizer isto:
"Problemas: No Ocidente, pressão sobre as populações mais velhas consideradas como um fardo.
Custos de saúde aumentados."
Isto é muito pouco.
Primeiro: um dos pontos que não aparece na ligação que me mandaste e que me parece uma falta de palmatória, é que com a desagregação da família alargada, a sociedade está demograficamente estratificada. Os adolescentes andam com adolescentes, os vintões com os vintões, os trintões com os trintões, etc. e não há grande mistura geracional. Cada estrato acha-se o rei do seu domínio e cada estrato vive na ilusão que sabe tudo o que há para saber. Isto, para além de ridículo, é o motor de muito do que acontecerá no futuro.
Segundo: a discussão é de uma riqueza que colocá-la em dois pontinhos é confrangedor. Na Alemanha, o sistema de pensões é realmente um "welfare state"*. Além disso, a geriatria nao vem de uma ditadura que os manteve analfabetos, pelo que na Alemanha não se fala só na faceta dos coitadinhos dos velhos, mas da gerontocracia. Porque não sendo analfabetos, há a possibilidade que estas pessoas se unam para lutar pelos seus interesses. Neste caso, podem tomar a democracia. Portanto, a maioria depende de um sistema que é alimentado pela minoria. Este sistema é controlado pelo governo, que está na mão da maioria e aqui estamos noutra parte da discussão em que os coitadinhos são os novos, sugados pelos avós. Mas será que isto irá acontecer? Têm ou terão os velhos a noção de grupo? Isto é que é uma pergunta interessante para um cenário de futuro do envelhecimento. Atualmente, na Alemanha, os sindicatos de trabalhadores são populados pela gerontocracia, que têm mais tempo nas mãos e ideias que, pelos nossos olhos, os novos, estão ultrapassadas e são economicamente contraprodutivas.
Nos EUA, um estudo (de um tipo chamado J.W. Button, que vi num livro que referencio mais abaixo) mostrou que em zonas eleitorais com mais idosos (que, além disso, votam em maior número percentual, que os mais novos) há menor apoio a políticas sociais pró-educação. Mas este é um estudo. Outros mostram outros fatores com maior importância nos apoios do eleitorado ao financiamento educativo: o sexo do eleitor (as mulheres são mais pró-educação), o nível de educação (mais letrado, mais pronto a apoiar a educação), o estatuto social, a cor política.
Terceiro: os velhos de amanhã são os novos de hoje. Portanto, que tipo de velhos seremos nós? Um dos cenários que vejo expectáveis para o futuro é que trabalharemos até cairmos para o lado. Isto significa que seremos um peso a considerar no local de trabalho e poderemos contrabalançar o ageísmo atual. É um cenário.
Em novita, convivi muito mais com pessoas muito mais velhas que eu, do que com os meus pares (achava-os parvalhões), pelo que sou incapaz de ver os velhos como coitadinhos. Também sou incapaz de me ver a mim no futuro como uma coitadinha. Ficaria extremamente desapontada se como velha, não serei mais que um peso no sistema de saúde. O que me traz ao último ponto: num mundo em que morrer já não é um processo natural, a decisão de morrer deverá estar cada vez mais na mão do vivo. Contudo, a morte deverá continuar a ser fundamental no âmbito psicossocial, caso contrário, a sociedade que criaremos será um sítio muito frio. Definir as guias para isto vai ser muito difícil, mas uma das grandes discussões dos próximos 20 anos.
Há um livro, infelizmente em alemão, sobre o futuro do envelhecimento. É uma compilação de textos de estudiosos alemães. Como o meu alemão é um tadinho, tenho extremas dificuldades em absorver o que aquele livro diz, mas para quem quer saber sobre esta problemática e sabe alemão, é um livro que aconselho. Talvez daqui a uns tempos seja traduzido. É o "Die Zukunft des Alterns: Die Antwort der Wissenschaft" (O futuro do envelhecimento: a resposta da ciência), editado por Peter Gruss.
*Em Portugal, o sistema de pensões é um esforço insuficiente: poucos pensionistas podem viver com o dinheiro que recebem (no melhor dos casos, sobrevivem). Os que se salvam são os que têm outros meios de aumentar o rendimento e ainda têm apoio familiar. Além disso, penso que em Portugal há outra tolerância à pobreza. Afinal, eles sempre foram pobres e a vida foi uma luta. Portanto, tudo o que vem a mais é bem-vindo e não posto para lamentações (para lá da linha de base lamentativa de um português médio). Os alemães são mais assertivos no que lhes é devido. Os portugueses novos resumem o seu papel nos problemas sociais do seu futuro envelhecimento em dois míseros pontos.
sexta-feira
quarta-feira
A comentadora
Já li isto por aí, não sei bem em que blogue (se calhar lembrava-me se fizesse um esforço, mas acabei de comer uma pratada de salada de pepino e estou a arrotar e tenho a sensação que algo mau pode acontecer se eu forçar o que quer que seja), que é isto de associarem Portugal a futebol. Tem uma certa piada quando se está no cu de judas e em vez de um olhar em branco, fazem um sorriso satisfeito e dizem Figo ou Ronaldo (irrita-me que não digam Cristiano, que vai mais com os meus gostos estéticos e ordenadores das celebridades, Ronaldo é o gajo com o lapso entre dentes). Mas a certa altura é um pouco, o que é que eu tenho a ver com isso. O Petit vai pra Colónia, para um clube que veio da segunda divisão. Comentários da portuguesa de serviço... Ora bem, estou com calor, apetece-me um gelado e Petit como o nome indica é pequeno, o que pode explicar muita coisa. Obrigada.
terça-feira
Gone are the days, the nights
And since I met you
I've had no reason to hide
And since I left you
I've had no reasons to fight
Why?
Gone are the days, the nights
The hands that held the life
The life that I had tried to find
I must be losing my mind
Every time
I must be losing my mind
My research was flawed
Um cientista espera algo e este expectável tem que ser muito cuidadosamente gerido. Se o que se espera dá certas linhas por onde orientar a investigação, o expectável tem de estar constantemente a ser interrogado, para que o expectável não contamine o que se encontra. O que se espera diz onde cavar, mas quando se cava, a terra deve ser só interrogações.
A página do artista
...clicar na imagem para aumentar...
A página do artista
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segunda-feira
Linguajar cientifico, mais ou menos
A esperança tem o risco associado da desilusao. Esse risco é exorbitante quando está associado a pessoas. Neste ponto da campanha de observaçoes, que se realizam há trinta e tres anos na estaçao Abrunho, conclui-se que a esperança pessoal de melhoria perceptível da personalidade é possível. Contudo, a exo-esperança é objetivamente uma imbecilidade.
domingo
sexta-feira
idiossincrasias
Em Portugal ainda se diz bom como o milho? Ou há outras formas de dizer que há um ser humano a passar que nos transtorna as hormonas? Na Alemanha a expressao é picante como uma ratazana. Nao me perguntem, mas afinal porque é que o milho é assim tao bom? Também nao se percebe.
O CONTEXTO
Das páginas da Arts & Letters Daily chego a um artigo sobre a "inquisição" nos Países Baixos (a escolha da palavra é do cartunista). É uma história requentada de cartunes e liberdade de expressão e estava preparadinha para gritar Aqui D'El rei.
Foi o que fiz aquando dos cartunes dinamarqueses, mas já naquela altura recuei um pouco quando soube que o jornal em que publicaram os cartunes era de extrema-direita e tinha historial de provocação de minorias. Os cartunes não me pareceram dizer mentiras e julguei na altura que era altura dos muçulmanos se darem conta da imagem que todos nós estavamos a criar deles, devido a posturas violentas em nome da sua religião que vezes sem conta nos vinham de radicais muçulmanos, que poucos muçulmanos vinham contradizer. Viu-se um esforço monumental em usar violência para manifestarem-se contra ideais do Ocidente, mas pouco esforço para se manifestarem contra aqueles entre eles que semeiam destruição. Aqueles cartunes eram uma mensagem necessária para os muçulmanos.
Mas quanto aos tais ideais ocidentais, como a liberdade de expressão, é altura de pôr contexto nessa liberdade. Este artigo serve bem para eu dizer que não me parece que a liberdade de expressão é total. Depende do contexto. O artigo dá-nos conta de um desenhador que é obcecado por muçulmanos. Repetidamente ele desenha cartunes contra os muçulmanos e associa cenas provocadoras de sexo que não dizem nada para além de que ele quer provocar. Ao contrário dos outros cartunes que expunham uma crescente associação nos olhos ocidentais de praticantes de uma religião e violência, que dá possibilidade a introspecções e análises. Neste caso é só provocação e porque continuada, acaba por ser o esforço de denegrir uma porção de seres humanos. Somente isso. Além disso, na actual dificuldade de relacionamento na Europa, a sua actividade passa a incitar sentimentos perigosos e desincentivar compreensão. Neste contexto parece-me bem que o chamem à justiça.
O cartunista diz que a beleza está nos olhos de quem vê e assim se defende, mas aqui não se trata de beleza, mas de uma mensagem. A mensagem dele é univocamente anti-alguém. E não foi só um cartune, foi uma linha de montagem sobre um grupo determinado de pessoas.
No artigo dão dois exemplos de sensibilidades a serem postas em causa.
In Britain, a local police force got caught up recently in a flap over its use of a German shepherd puppy to promote an emergency hotline. A Muslim councilor, noting that dogs are viewed as unclean in Islam, complained that the puppy could turn off believers. The police force apologized and regretted not consulting its diversity officer.
In Switzerland, meanwhile, a bombastic anti-immigration political party is campaigning to ban all Muslim prayer towers, known as minarets. This week it gathered enough signatures to force a national referendum on the issue. The Swiss government says such a ban would violate freedom of religion and pose a security threat by provoking Muslims.
O caso na Grã-Bretanha parece-me empolado pelo jornalista. Fazem uma campanha que quer chegar a todos e um representante muçulmano queixou-se (ou chamou a atenção?) que a campanha talvez não atingisse os muçulmanos. So what, qual é a novidade que uma campanha de informação ou publicidade tem de ter em atenção os seus receptores, para ter a certeza que é ouvida?
No caso da Suiça, o problema são mesmo os suiços e a sua intolerância.
Há uns tempos quando deixaram de fazer uma peça de teatro, penso, na Áustria, penso, porque lá pelo meio referenciavam aspectos religiosos, que eram não só da religião muçulmana, mas também cristã, achei mal terem cedido, porque o intuito não era provocatório e a mensagem era muito mais vasta.
A minha conclusão é que a liberdade de expressão deve ser analisada na mensagem a jusante e a jusante está o que o receptor pode retirar. Se o receptor só pode retirar tribalismos básicos, a mensagem incita a uma atmosfera de divisão e finalmente violência. Isto para mim é crime. Pode ser um crime água mole em pedra dura tanto bate até que fura, mas lentamente pode matar. E nisto vem-me Ruanda à cabeça.
Foi o que fiz aquando dos cartunes dinamarqueses, mas já naquela altura recuei um pouco quando soube que o jornal em que publicaram os cartunes era de extrema-direita e tinha historial de provocação de minorias. Os cartunes não me pareceram dizer mentiras e julguei na altura que era altura dos muçulmanos se darem conta da imagem que todos nós estavamos a criar deles, devido a posturas violentas em nome da sua religião que vezes sem conta nos vinham de radicais muçulmanos, que poucos muçulmanos vinham contradizer. Viu-se um esforço monumental em usar violência para manifestarem-se contra ideais do Ocidente, mas pouco esforço para se manifestarem contra aqueles entre eles que semeiam destruição. Aqueles cartunes eram uma mensagem necessária para os muçulmanos.
Mas quanto aos tais ideais ocidentais, como a liberdade de expressão, é altura de pôr contexto nessa liberdade. Este artigo serve bem para eu dizer que não me parece que a liberdade de expressão é total. Depende do contexto. O artigo dá-nos conta de um desenhador que é obcecado por muçulmanos. Repetidamente ele desenha cartunes contra os muçulmanos e associa cenas provocadoras de sexo que não dizem nada para além de que ele quer provocar. Ao contrário dos outros cartunes que expunham uma crescente associação nos olhos ocidentais de praticantes de uma religião e violência, que dá possibilidade a introspecções e análises. Neste caso é só provocação e porque continuada, acaba por ser o esforço de denegrir uma porção de seres humanos. Somente isso. Além disso, na actual dificuldade de relacionamento na Europa, a sua actividade passa a incitar sentimentos perigosos e desincentivar compreensão. Neste contexto parece-me bem que o chamem à justiça.
O cartunista diz que a beleza está nos olhos de quem vê e assim se defende, mas aqui não se trata de beleza, mas de uma mensagem. A mensagem dele é univocamente anti-alguém. E não foi só um cartune, foi uma linha de montagem sobre um grupo determinado de pessoas.
No artigo dão dois exemplos de sensibilidades a serem postas em causa.
In Britain, a local police force got caught up recently in a flap over its use of a German shepherd puppy to promote an emergency hotline. A Muslim councilor, noting that dogs are viewed as unclean in Islam, complained that the puppy could turn off believers. The police force apologized and regretted not consulting its diversity officer.
In Switzerland, meanwhile, a bombastic anti-immigration political party is campaigning to ban all Muslim prayer towers, known as minarets. This week it gathered enough signatures to force a national referendum on the issue. The Swiss government says such a ban would violate freedom of religion and pose a security threat by provoking Muslims.
O caso na Grã-Bretanha parece-me empolado pelo jornalista. Fazem uma campanha que quer chegar a todos e um representante muçulmano queixou-se (ou chamou a atenção?) que a campanha talvez não atingisse os muçulmanos. So what, qual é a novidade que uma campanha de informação ou publicidade tem de ter em atenção os seus receptores, para ter a certeza que é ouvida?
No caso da Suiça, o problema são mesmo os suiços e a sua intolerância.
Há uns tempos quando deixaram de fazer uma peça de teatro, penso, na Áustria, penso, porque lá pelo meio referenciavam aspectos religiosos, que eram não só da religião muçulmana, mas também cristã, achei mal terem cedido, porque o intuito não era provocatório e a mensagem era muito mais vasta.
A minha conclusão é que a liberdade de expressão deve ser analisada na mensagem a jusante e a jusante está o que o receptor pode retirar. Se o receptor só pode retirar tribalismos básicos, a mensagem incita a uma atmosfera de divisão e finalmente violência. Isto para mim é crime. Pode ser um crime água mole em pedra dura tanto bate até que fura, mas lentamente pode matar. E nisto vem-me Ruanda à cabeça.
quinta-feira
CLAP CLAP CLAP CLAP
Contra o pensamento ocioso.
Graças ao altíssimo, que estou farta de tanto texto de queixume sem visao activa. Se os artigos de opiniao reflectissem o portugues comum, entao o país Portugal seria ainda pior que aquele pintado nos artigos de opiniao. Só se pode esperar que os portugueses nao leiam jornais, para nao serem mal influenciados.
Graças ao altíssimo, que estou farta de tanto texto de queixume sem visao activa. Se os artigos de opiniao reflectissem o portugues comum, entao o país Portugal seria ainda pior que aquele pintado nos artigos de opiniao. Só se pode esperar que os portugueses nao leiam jornais, para nao serem mal influenciados.
Petição STOP ao Cancro do Cólo do Útero
Todos os anos 50.000 mulheres são diagnosticadas e 25.000 morrem devido a cancro do cólo do útero. A existência de programas eficazes de prevenção podem prevenir a grande maioria destes casos.
Assine a Petição STOP ao Cancro do Cólo do Útero, para chamar a atenção do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e de todos os Governos Nacionais da Europa para implementarem programas de rastreio organizados contra o cancro do cólo do útero que providenciarão uma proteção mais eficaz contra o cancro do cólo do útero em todas as mulheres da Europa.
Assine a Petição STOP ao Cancro do Cólo do Útero, para chamar a atenção do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e de todos os Governos Nacionais da Europa para implementarem programas de rastreio organizados contra o cancro do cólo do útero que providenciarão uma proteção mais eficaz contra o cancro do cólo do útero em todas as mulheres da Europa.
quarta-feira
A nova estrela pop
Há tanta coisa nas pessoas que não percebo, apesar de ter herdado os miolos na minha família (swallow that thought), que me põe feliz de ter tido a inteligência de me dedicar a estudar a natureza. O Obama vem a Berlim. Estão à espera que apareça um milhão de almas para o ouvir. Ou a quantidade de americanos na Alemanha extravasa qualquer censo, ou eu não entendo porque é que as pessoas não se põem a ver um filme da Disney no conforto de suas salas, em vez de ir ouvir um homem que vai dizer tanta coisa lamecho-política, com o ar de quem acredita, que num mundo lógico, borboletas nasceriam de sua boca e se desintegrariam nos ares. O Obama é o estilo de gajo que mandaria uma carta a declarar guerra ao Irão com coraçõezinhos nos is. Esta necessidade parva das pessoas de erigirem estrelas faz-me passar da molécula.
P.S.: agora vou ouvir X&Y dos Coldplay a ver se acalmo a molécula. Licencinha.
P.S.: agora vou ouvir X&Y dos Coldplay a ver se acalmo a molécula. Licencinha.
terça-feira
Opá, deixa-me rir
Fiquei muito curiosa quando ouvi falar sobre um editorial do Sr. José Manuel Fernandes e uma sua pergunta:"Será o seu número [famílias monoparentais] desproporcionalmente maior entre as comunidades africanas?" Porque haveria isto de lembrar a alguém com os pés assentes em Portugal? Continua-se a ler o editorial e chega-se a Obama e percebe-se que o José Manuel Fernandes está a par das preocupações americanas.
Assim, não só os jornais portugueses estão apinhados de opiniões, estas são requentadas com preocupações e problemas sociológicos de países estrangeiros. Fica-se a saber que se um grupo de pessoas tem tendências criminosas e têm a mesma cor de pele, mesmo que vivam em dois países com vivências muito diferentes e em que as duas comunidades africanas têm histórias pouco similares, de tal forma que provavelmente só a palavra "africana" é que as aproxima, no entanto, pode-se, com toda a probabilidade, usar a mesma explicação para a sua criminalidade. Como isto é tão idiota, que chega a ser não comentável, vou-me rir.
Li o editorial através do Womenage a trois. Obrigado pela disponibilização.
Assim, não só os jornais portugueses estão apinhados de opiniões, estas são requentadas com preocupações e problemas sociológicos de países estrangeiros. Fica-se a saber que se um grupo de pessoas tem tendências criminosas e têm a mesma cor de pele, mesmo que vivam em dois países com vivências muito diferentes e em que as duas comunidades africanas têm histórias pouco similares, de tal forma que provavelmente só a palavra "africana" é que as aproxima, no entanto, pode-se, com toda a probabilidade, usar a mesma explicação para a sua criminalidade. Como isto é tão idiota, que chega a ser não comentável, vou-me rir.
Li o editorial através do Womenage a trois. Obrigado pela disponibilização.
segunda-feira
Isto é um caso de polícia
A minha grande questão sobre o passado da Quinta da Fonte é se as pessoas responsáveis pelo alojamentos viram, para lá da real pobreza dos alojados, o seu cadastro.
E depois para o futuro, em vez de andarem a falar de pacificar comunidades, eu gostava de saber se estão a investigar quem tem/usou armas e pô-los a andar. Essa conversa-bem de pacificar pessoas que recorrem a armas para resolver desavenças parece-me não efectivo e extremamente estúpido.
E depois para o futuro, em vez de andarem a falar de pacificar comunidades, eu gostava de saber se estão a investigar quem tem/usou armas e pô-los a andar. Essa conversa-bem de pacificar pessoas que recorrem a armas para resolver desavenças parece-me não efectivo e extremamente estúpido.
Às armas, Às armas
A parte desalojada da Quinta da Fonte diz: "«Somos cidadãos portugueses, não somos imigrantes. Por isso temos Bilhete de Identidade, por isso votamos. Queremos que o Governo trate dos nossos problemas como trata dos dos outros. Não podemos ser discriminados»."
Isto é fascinante, porque faz-me sentir muito discriminada. Eu nao sabia que o governo devia resolver os meus problemas e, como portadora de BI e de cartao de eleitor, quero aqui comunicar que estou a redigir um documento que enviarei em pouco tempo com todos os problemas que quero que me sejam resolvidos. E se nao me responderem, bem, vou á Quinta da Fonte, compro uma arma e acampo á frente de um sitio qualquer. Estao avisados.
Isto é fascinante, porque faz-me sentir muito discriminada. Eu nao sabia que o governo devia resolver os meus problemas e, como portadora de BI e de cartao de eleitor, quero aqui comunicar que estou a redigir um documento que enviarei em pouco tempo com todos os problemas que quero que me sejam resolvidos. E se nao me responderem, bem, vou á Quinta da Fonte, compro uma arma e acampo á frente de um sitio qualquer. Estao avisados.
Bom jogo
Então portantos a notícia é que pretos e ciganos andaram aos tiros e os pretos ganharam. E agora os ciganos querem que os beges lhes resolvam os problemas que os pretos lhes arranjaram. É assim? Portantos, balanço do jogo antes do prolongamento: pretos 1, beges 0.
Minúsculo ensaio comparativo da retrete
Tenho experiência de três tipos de retretes. Isto demonstra que tenho de fazer um esforço para visitar outros países, para lá desta parte a que chamam ocidente. Mas devo dizer que prefiro o tipo de retrete que usam em Portugal. A retrete em que a merda cai sobre uma saliência, para que possa ser analisada, não me interessa, pois eu por sistema não olho para a merda que faço. Depois aquelas que têm água quase até à borda, provavelmente para guardar as pessoas de limparem o que quer que seja, são ainda piores. Haverá pior sensação que ser salpicado no rabo pela merda que se está a fazer? As retretes em Portugal são um meio caminho muito bem apiaçado. Será que implicou estudos da provável trajectória do projetil?
domingo
A escola é um ponto de partida
A Sabine que me vai enviando notícias de por aí, enviou-me certas e insultuosas opiniões da Sra Filomena Mónica. Em experiência própria, venho de uma família que de uma geração para outra passou de elementos analfabetos, para uma geração que acedeu à Universidade. Eu não me considero a mim ou aos meus irmãos medíocres, bem pelo contrário. A escola não me ensinou tudo, nem penso que a escola nos possa ensinar tudo. Passei por escolas públicas sem excelências, mas que me abriram horizontes que os meus pais não podiam. Os meus pais simplesmente mandaram-nos para a escola e eu e os meus irmãos resolvemos seguir o que ela nos mostrou. Eu só segui por vontade própria e não sei o que é não ter essa vontade. Desde que me lembro gostei de aprender e sempre quis ir para a Universidade e continuar a aprender e continuei para lá da Universidade. A escola não matou essa sede, só a alimentou, mesmo que não tenha tido professores que me exigiram excelência. Tive professores calões, aplicados, cansados, parvos, fantásticos, motivados e desmotivados, professores que metiam baixa durante um ano completo, que falavam da sua vida privada em vez da lição, e no entanto sobrevivi. Tive professores que por vontade própria nos mostravam livros e jornais, imagens e comidas de outros países, para lá das suas línguas, nos diziam que mesmo que lessemos sem parar, nunca conseguiriamos ler todos os livros do mundo e eu abri a boca em deslumbramento com todos esses livros que nunca poderia vir a ler, mas insaciável para poder ler o maior número possível. Professores que montavam aulas-extra para apoio no seu próprio tempo ou que nos levavam em excursões para ver pedras e nos diziam que as pedras não eram só pedras, mas tinham mensagens muito antigas. Como poderiam os meus pais ter-me dito que uma pedra é mais que uma pedra? Frequentei escolas em pré-fabricados permanentes, onde tinhamos frio, escolas sem espaços comuns deixando-nos na rua à chuva, sem bibliotecas, escolas longe de casa, exigindo que me levantasse muito cedo e retornando muito tarde, sem tempo para estudar. E no entanto a escola que tive conseguiu deslumbrar-me. A questão é que a escola mostrou-me o mais que existia. A escola não me fez, mas mostrou-me o que poderia ser caso eu quisesse. Dizer que o 25 de Abril fechou portas é cuspir na realidade de pessoas como eu e os meus irmãos. O 25 de Abril disse tu podes. Portanto, movam as objectivas para as pessoas e para as suas ambições. Eu desconfio que se há um problema (não estou certa dessa mediocridade generalizada) o grande problema não é a escola, mas um mundo em que as pessoas pensam que o saber vem empacotado e pode ser injectado, de um mundo que pensa que o conhecimento é passivo. De um mundo que está à espera que a escola seja um lugar que enfia saber pela boca abaixo, em vez de ser o sítio que nos diz que um livro é mais que papel, que nos mostra num microscópio uma realidade paralela, que nos fala de perspectiva e nos diz para olhar para o horizonte com olhos de artista, que nos conta de guerras e atrocidades e nos põe a questionar a humanidade, que nos fala de um senhor de oculinhos redondos que escreveu "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce" e nos dá a autoridade desse sonho, apesar de nos sentirmos pequenos. Se calhar o problema é pensar que a escola em termos de conhecimento é em si um fim em vez de um ponto de partida. O sonho e a obra são coisas nossas, não dos professores. E se as pessoas não querem sonhar, nem obrar, não é a escola que as vai obrigar. Se calhar o problema é que as pessoas esqueceram que houve um tempo em que não se podia sonhar e veêm o sonho como adquirido e desprezível.
Se vamos falar na "raiz do mal da educação", que é o título expectável na nossa excelente imprensa, eu penso que este está em pessoas que vivem numa sociedade que prima pela mediocridade, visível, por exemplo, em veículos de informação péssimos, apinhados de opiniões medíocres, em vez de factos sobre os quais possamos nós próprios pensar. Não há professor que consiga remar contra isto. A minha pessoa já não se irrita, só desespera. E sonho que antes de fecharem as faculdades das ciências de educação, expulsem primeiro os opinionistas de tudo e de nada para onde deviam andar: a blogosfera.
Se vamos falar na "raiz do mal da educação", que é o título expectável na nossa excelente imprensa, eu penso que este está em pessoas que vivem numa sociedade que prima pela mediocridade, visível, por exemplo, em veículos de informação péssimos, apinhados de opiniões medíocres, em vez de factos sobre os quais possamos nós próprios pensar. Não há professor que consiga remar contra isto. A minha pessoa já não se irrita, só desespera. E sonho que antes de fecharem as faculdades das ciências de educação, expulsem primeiro os opinionistas de tudo e de nada para onde deviam andar: a blogosfera.
sábado
fadela
Hoje ia a andar pela rua e dei-me conta de uma coisa. Assim, num repente, enquanto cheirava a rua molhada de fresco e fazia aquele ar satisfeito com certas coisas que acontecem à minha volta, como um gato anafado que encontrou o canto perfeito ao sol para lamber as partes privadas. Dei-me conta que não há significados ou sentidos ou direcções. Não há. Somos nós no nosso pequeno mundo que damos nomes e categorizamos e agrupamos e agora que me dei conta desta evidência que só não apanhei na adolescência porque estava demasiadamente ocupada a achar que sabia tudo, tenho muita pena de mim, porque o que eu faço é dar nomes e categorizar e agrupar e suo muito a fazer isto e fico nervosa e chateio-me e cenas. A questão agora é saber em que canto morrer. Porque viver é este lamber de partes. E se Deus estiver a prestar atenção a nós não lhe tenho respeito. Tenho poucas certezas senão mesmo nenhumas, mas uma coisa sei: há coisas mais interessantes para fazer no Universo.
quinta-feira
terça-feira
Insonho
Às vezes nas noites de insónia coloco uma mesma canção a repetir-se noite fora. Pela noite os mesmos sons e eu segui-os de coração, a canção recomeça e eu segui-a todas as vezes pela noite. Hoje, por exemplo, tenho Between the Bars de Elliot Smith, mas como é um pouco ensonada, já fiz batota com os Angeles. Já notaram que os sons mudam consoante a hora e a noite? Há noites em que os sons vêm de muito longe, mas são estranhamente nítidos, como se a estação de comboios fosse mesmo ali ao virar da esquina e não do outro lado da cidade. É assim em todas as cidades, com os comboios a espraiarem-se à noite. Na outra noite ouvia-se um som repetitivo como alguém a bater metal em metal, um som imaginado a sair de uma prisão e eu forcei-me a sentir que devia ajudar a pessoa, que bateu metal em metal até às 6 e 12 da manhã e eu segui o som noite fora pela manhã e não vi se era alguém a pedir ajuda. Não era o vento, não podia ser o vento, eu o teria ouvido. O som do metal desvaneceu-se e eu fiquei acordada com a manhã. Este fastidio da noite, a ilusão da solidão e do eco e eu num espaço pequeno a repetir os mesmos sons distraindo a noite na minha insónia. Não sei explicar o contentamento que por vezes me submerge neste pequeno mundo de sons distintos, repetitivos e ecoados. São 4 e 13 e ouvi o primeiro pássaro. A cacofonia da manhã começa.
segunda-feira
Estupidamente bom
Este fds vi um filme, que ainda nao consegui esquecer. O mais esquisito é que esta foi a segunda vez que comecei a ver o filme, a primeira desistencia por KO de aborrecimento. Assim, de novo me veio o DVD parar á mao e de novo me sentei a ver o filme. Desta vez vi o filme todo e na cena final levei um balázio. Assim, pimbas, toma que já aprendeste. Este filme foi como estar a fazer um puzzle sem saber que imagem teria no final e quando o puzzle está feito, tem-se a pergunta á resposta e a resposta dispersa pelo filme. Logo, estou até agora a catar as respostas pelo que me lembra do filme. Um filme que me aborreceu quando o vi, desvaria-me de interesse quando o lembro. Isto nao se admite.
P.S.: É o estúpido do Caché do idiota do Haneke.
P.S.: É o estúpido do Caché do idiota do Haneke.
quinta-feira
terça-feira
Fase
Eu ando por aqui, mas fui acometida por um sentimento de alienaçao. Isto resulta na incapacidade de me sentir indignada ou de dar importancia ás minhas opinioes. Isto, eu sei, é gravíssimo.
Escrevi um poste na semana passada e anulei-o pouco depois. As palavras eram-me estranhas. Estas que escrevo agora sao estranhas. E no entanto, continuo a funcionar, ainda que sem opiniao e sem capacidade de indignaçao. Nao sei como, mas é possível.
Mas isto nao é só no escrever, é também no ler. Passo pelos blogues dos outros e é tédio absoluto, exceto os blogues pessoais. Parece que estou na fase: nao me interessa o que pensas, interessa-me, se me interessar, o que sentes.
Escrevi um poste na semana passada e anulei-o pouco depois. As palavras eram-me estranhas. Estas que escrevo agora sao estranhas. E no entanto, continuo a funcionar, ainda que sem opiniao e sem capacidade de indignaçao. Nao sei como, mas é possível.
Mas isto nao é só no escrever, é também no ler. Passo pelos blogues dos outros e é tédio absoluto, exceto os blogues pessoais. Parece que estou na fase: nao me interessa o que pensas, interessa-me, se me interessar, o que sentes.
domingo
Estou hipotérmica
Talvez amanhã quando for comprar a habitual melancia, o senhor da frutaria turca me faça um desconto. Tirando esse pensamento estou negativamente passada com o facto da República Checa ter perdido. Nem percebi o que se passou. Resolveram jogar à defesa (o que eu pensei) ou faltou-lhes as pernas (como diz aqui o meu amigo)? Está demasiadamente frio para me pôr duas horas a ver um jogo na rua e eu para o fim já não via nada com a tremura dos dentes.
Quanto aos portugueses, não vi, nem quis ver, porque devo confessar que estava com pena dos suiços, que se não ganhassem era uma vergonha. Eu deixo-me ir por estes sentimentos. Sou um coração de manteiga não derretida.
Quanto aos portugueses, não vi, nem quis ver, porque devo confessar que estava com pena dos suiços, que se não ganhassem era uma vergonha. Eu deixo-me ir por estes sentimentos. Sou um coração de manteiga não derretida.
sábado
Detesto o Natal
Há aquela frase aterrorizante do "Devia ser Natal todos os dias.", que me dá arrepios espinha abaixo. A única coisa boa do Natal é ser uma vez por ano e isso é olhar para o momento com espírito positivo. Eu sinceramente propunha que o Natal fosse de quatro em quatro anos e que o Campeonato Europeu de futebol fosse todos os anos. Digam-me o que é que o Natal tem de bom? Estar com a família por aí, mas não é realmente preciso o Natal para estar com eles e o melhor mesmo é estar com eles sem as exigências mesquinhas da época. Um Campeonato Europeu de Futebol é uma festa durante um mês, criando-se uma atmosfera impossível de reproduzir. Durante esse mês criam-se camaradagens e empolgamo-nos com os jogos. Em vez de ir para casa, saio para a rua, conheço pessoas, ando basicamente em festa a partir do momento que saio do trabalho. O Natal reproduz-se muito facilmente: aglomera-se família numa casa, compram-se uma data de prendas, passa-se uma noite com a família onde o momento alto é abrir as ditas prendas e fim.
P.S.: sim, ok, aquilo é a consoada, mas o dia seguinte é ainda pior: come-se muito e transladam-se os corpos para a frente da televisão. E eu apanhei um avião pra isto.
P.S.: sim, ok, aquilo é a consoada, mas o dia seguinte é ainda pior: come-se muito e transladam-se os corpos para a frente da televisão. E eu apanhei um avião pra isto.
quinta-feira
Nao somos todos verdes
Estive a ler o discurso do Cavaco Silva do dia 10 de Junho, mas nao foi lá que ele disse raça. Portanto, ainda nao sei realmente o que aconteceu. Se realmente é o homem ou um surto viral do politicamente correto. A palavra raça agora nao se diz, seja em que situaçao for, a nao ser seres nao humanos, imagino. Será que a minha piadinha de que em Portugal somos rafeiros é possível? Posso? Ou também é crime lingual?
Seja como for e nao tomando partidos, que eu nao tenho a minima ideia do contexto da palavra na frase e na situaçao, eu aponto este texto que li há muito poucos dias, talvez no mesmíssimo momento em que o Cavaco Silva expelia pela boca a palavra raça, talvez querendo dizer coragem, talvez querendo dizer aquele je ne sais quoi de rafeiro que os portugueses tem, talvez querendo dizer pelo nas ventas, talvez querendo dizer aquela espécie humana de altura abaixo da média europeia, talvez aquele pessoal todo que ouve fado e começa a fungar, talvez tentando animar os tugas choroes a serem mais vertebrais, talvez tentando incutir um certo sentimento de solidariedade (que nao existe), talvez num processo de telepatia, benza deus, espero que esta última nao.
É que se nao somos todos brancos, também nao somos todos verdes.
P.S.: Estive a olhar para a minha última frase e é passível de eu ser também apedrejada. Bem, nao sou famosa, é o que me vale.
Seja como for e nao tomando partidos, que eu nao tenho a minima ideia do contexto da palavra na frase e na situaçao, eu aponto este texto que li há muito poucos dias, talvez no mesmíssimo momento em que o Cavaco Silva expelia pela boca a palavra raça, talvez querendo dizer coragem, talvez querendo dizer aquele je ne sais quoi de rafeiro que os portugueses tem, talvez querendo dizer pelo nas ventas, talvez querendo dizer aquela espécie humana de altura abaixo da média europeia, talvez aquele pessoal todo que ouve fado e começa a fungar, talvez tentando animar os tugas choroes a serem mais vertebrais, talvez tentando incutir um certo sentimento de solidariedade (que nao existe), talvez num processo de telepatia, benza deus, espero que esta última nao.
É que se nao somos todos brancos, também nao somos todos verdes.
P.S.: Estive a olhar para a minha última frase e é passível de eu ser também apedrejada. Bem, nao sou famosa, é o que me vale.
quarta-feira
terça-feira
Latim
Número de alunos a aprender Latim diminuiu 80 por cento em dois anos
Por experiência própria sei que o ter aprendido latim é uma vantagem, pelo menos para aprender alemão. Os meus colegas italianos punham-me debaixo do braço, com uns racíocinios que me deixavam completamente fora de corrida. Esta não foi a primeira vez que fiquei triste por nunca ter tido latim. Quando estudei biologia, naquela parte mega-seca de dar nomes aos bichos, sentia que se soubesse latim aquilo não teria sido tão seca. O que tem mais piada é que eu acho que teria escolhido latim no liceu se me tivesse sido possível, mas eu era da área científica e latim não era uma opção. O meu interesse na altura era somente romântico, se bem que com uma certa precaução amedrontada depois de ler o "Manhã submersa" do Vergílio Ferreira. Eu punha-me a namorar os livros de latim dos meus colegas e a perguntar-lhes se o professor deles me deixaria assistir às aulas. Contudo, não havia possibilidade de horário para eu o fazer e assim nunca estudei latim.
Provavelmente, estivesse eu no liceu hoje, não pensaria em ter latim. Hoje a escola começa cedo a ser funcionalista e no entanto na Universidade em que esse propósito devia existir, as pessoas deixaram de encher os cursos de direito?
Por experiência própria sei que o ter aprendido latim é uma vantagem, pelo menos para aprender alemão. Os meus colegas italianos punham-me debaixo do braço, com uns racíocinios que me deixavam completamente fora de corrida. Esta não foi a primeira vez que fiquei triste por nunca ter tido latim. Quando estudei biologia, naquela parte mega-seca de dar nomes aos bichos, sentia que se soubesse latim aquilo não teria sido tão seca. O que tem mais piada é que eu acho que teria escolhido latim no liceu se me tivesse sido possível, mas eu era da área científica e latim não era uma opção. O meu interesse na altura era somente romântico, se bem que com uma certa precaução amedrontada depois de ler o "Manhã submersa" do Vergílio Ferreira. Eu punha-me a namorar os livros de latim dos meus colegas e a perguntar-lhes se o professor deles me deixaria assistir às aulas. Contudo, não havia possibilidade de horário para eu o fazer e assim nunca estudei latim.
Provavelmente, estivesse eu no liceu hoje, não pensaria em ter latim. Hoje a escola começa cedo a ser funcionalista e no entanto na Universidade em que esse propósito devia existir, as pessoas deixaram de encher os cursos de direito?
O colesterol
Cheguei à conclusão que em Portugal se gosta de falar de colesterol. Cada um tem uma história para contar, desde o pouco imaginativo, que só tem um número para dizer, o muito imaginativo que tem uma história absorvente de altos e baixos, o experimentativo, que já fez experiências entre o que come e bebe e como isso afecta o colesterol, o queixinhas, que se queixa do colesterol, o professoral que explica os tipos de colesterol e por aí em frente que não há limites ao colesterol daquela gente, que os benza deus. Eu sou contra o colesterol. O colesterol irrita-me. Não sei o meu colesterol, nem vejo daí grande benesse à minha saúde. Para mim o colesterol é como as rugas: indica idade e nem eu conto as rugas ao espelho, nem uma pessoa deixa de ir morrendo com a idade. Que uma pessoa tem que comer equilibradamente, fazer exercício e não fumar é uma coisa, que se tenha que trazer o colesterol à baila como uma medida quantitativa de quanto temos de mudar de vida é outra. E andar a tomar medicamentos para o colesterol sem mudar de vida é hipocrisia de saúde. Tenho dito.
segunda-feira
Palhaços
O jornalismo está ridículo. Com a seleção de futebol isto é tão claro que bate na cara. Quando a seleção estava em Viseu, os jornalistas visitaram uma aldeiazinha lá perto e perguntavam às pessoas se apoiavam a seleção, se tinham posto a bandeira e as pessoas lá juravam a pés juntos que sim e os que não tinham posto a bandeira pediam desculpa. Mostraram uma imagem que provavelmente os jornalistas pensaram castiça, das pessoas a sairem da igreja e preparem-se se não viram, perguntaram se era pedido na missa pela seleção! Caiu-se-me as mamas ao chão com o tamanho da estupidez e a pessoa a quem perguntaram esta enormidade também.
Hoje no Público há uma notícia em que se diz que os emigrantes em Neuchatel, onde a seleção está sedeada, comemoraram o feriado de 10 de Junho a 8 de Junho em honra da seleção. O título é que pela seleção até se muda o feriado. É óbvio que ninguém pode acreditar nisto, portanto, com base neste tipo de jornalismo só resta uma conclusão: os jornalistas um dia foram diabolicamente raptados numa ilha de um cientista maluco que lhes tirou os cérebros, colocou-os nuns frascos, mantem-los sobre uma dose racionada de choques eléctricos, libertou os corpos que agora andam por aí a fazer jornalismo e que acreditam que todas as pessoas que não têm o cérebro resgatado na ilha são imbecis.
Se a minha teoria cientista maluco não for verdade, continuo com a mesma dúvida: de onde veio esta gente? De que escola, que idade têm, eu imagino-os com vinte anos e acne, saídos de uma escola privada onde pensaram que estavam a aprender jornalismo, mas na verdade estavam a aprender artes circenses. Agora estão a fazer estágios de palhaço nos media.
Hoje no Público há uma notícia em que se diz que os emigrantes em Neuchatel, onde a seleção está sedeada, comemoraram o feriado de 10 de Junho a 8 de Junho em honra da seleção. O título é que pela seleção até se muda o feriado. É óbvio que ninguém pode acreditar nisto, portanto, com base neste tipo de jornalismo só resta uma conclusão: os jornalistas um dia foram diabolicamente raptados numa ilha de um cientista maluco que lhes tirou os cérebros, colocou-os nuns frascos, mantem-los sobre uma dose racionada de choques eléctricos, libertou os corpos que agora andam por aí a fazer jornalismo e que acreditam que todas as pessoas que não têm o cérebro resgatado na ilha são imbecis.
Se a minha teoria cientista maluco não for verdade, continuo com a mesma dúvida: de onde veio esta gente? De que escola, que idade têm, eu imagino-os com vinte anos e acne, saídos de uma escola privada onde pensaram que estavam a aprender jornalismo, mas na verdade estavam a aprender artes circenses. Agora estão a fazer estágios de palhaço nos media.
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